Depois de todo cansaço que envolveu a realização de Halloween, Rob Zombie não pretendia voltar à direção, muito menos assumir o roteiro. Simplesmente passou a se interessar pelo projeto quando o produtor da franquia, Malek Akkad, deu a ele carta branca para fazer o que quisesse. Assim, o cineasta viu uma possibilidade criativa para conduzir a obra do seu jeito, sem se apegar ao ritmo do longa original e sem ter relação alguma com o Halloween II, de 1981. E talvez esse seja o principal problema de H2: Halloween 2: deixar uma obra completamente livre nas mãos de alguém que já havia cometido alguns erros na refilmagem e poderia partir para algo completamente nonsense. Foi o que aconteceu.
Se o primeiro Halloween de Zombie baseou sua estrutura narrativa na construção psicológica de Michael Myers, agora as intenções se voltaram para Laurie Strode (Scout Taylor-Compton) e sua desconstrução. Vítima de um trauma que ocasionou a perda de seus pais adotivos, dos amigos, e no surgimento de feridas profundas da amiga Annie (Danielle Harris), Laurie vem em uma constante degradação psicológica, e isso se intensifica nesta continuação quando ela descobre, pelo livro de Dr. Loomis (Malcolm McDowell), que ela é, na verdade, Angel aka Boo, a irmã sobrevivente de Michael Myers. Numa mistura de horror e curiosidade, decepção e desafio, ela se entrega à bebida e perde a noção de suas atitudes. E tudo piora com a aproximação de seu parente direto.
Depois de um letreiro informando o que seria o “cavalo branco“, uma simbologia idiota de Rob Zombie, o filme começa muito bem, mostrando Laurie perdida nas ruas, ensanguentada, ainda segurando nas mãos a arma que utilizou para atirar em Michael Myers. Ela é levada ao hospital, assim como Annie e o Dr. Loomis, ambos sobreviventes – este chega a ter os olhos varados por Michael Myers em um dos workprints -, com a câmera de Zombie mostrando detalhes de suturas em cirurgias por todo o corpo da jovem. Durante o trajeto da ambulância que conduz Michael Myers, os paramédicos atropelam uma vaca e sofrem um grave acidente. Michael mata o único vivo e parte em direção ao hospital onde está Laurie.
Logo o ambiente é tomado pela morte. Michael Myers mata vários funcionários, arrancando olhos ou simplesmente esfaqueando de maneira violenta a enfermeira Daniels, interpretada pela ótima Octavia Spencer. Quando percebe a presença de Michael, Laurie foge em desespero, com a perna ferida, por uma longa escadaria até chegar do lado externo para pedir ajuda de um segurança. Logo o assassino irá encontrá-la com um machado para se vingar, fazendo Laurie acordar de um pesadelo. Sim, todo esse ótimo começo é apenas mais um pesadelo da garota, que agora mora com Annie e seu pai, o xerife Lee Brackett (Brad Dourif). Michael Myers é considerado desaparecido, assim como acontece em Halloween Ends.
No entanto, ele está vivo, vivendo como um andarilho numa região rural, alimentando-se de animais e, vez ou outra, matando alguém que decide importuná-lo. Michael Myers recebe constantemente a visita do fantasma de sua mãe, conduzindo um cavalo branco (arghhh), além da presença de sua versão criança (desta vez interpretada por Chase Wright Vanek). Seus assassinatos passam a fazer parte das alucinações de Laurie, torturando-a com a ameaça de sua aproximação, algo que, obviamente, acontecerá no próximo Halloween.
Mesmo com a ausência de Myers, mas sabendo que ele ainda está à solta, Haddonfield se organiza para mais uma festividade. Enquanto alguns ficam receosos com a data, o irreconhecível Dr. Loomis pensa apenas no lançamento de seu novo livro. Agora, ele é um autor conhecido, que vive pela publicidade e eventos que envolvem suas obras, o que o distancia consideravelmente de sua versão mais conhecida. Donald Pleasence construiu um personagem obcecado pelo monstro Michael Myers, uma fixação associada ao temor de seu retorno. Já o de McDowell enxerga no assassino uma maneira de obter lucros e popularidade.
Quando a insana Laurie vai a uma comemoração de Halloween (!!!) com as amigas Mya (Brea Grant) e Harley (Angela Trimbur), Michael Myers reaparece para trilhar corpos, incluindo a sobrevivente Annie. Depois persegue a irmãzinha até que esta perde os sentidos e é sequestrada (!!) pelo psicopata, que a leva até um galpão, onde acontecerão os últimos embates com a presença do Dr. Loomis e do fantasma de Deborah, além das alucinações de Laurie.
Como se nota, o segundo filme mostrou o quanto Rob Zombie deve evitar levar suas fanfics tão a sério. Se o posicionamento das câmeras, sem os close ups excessivos, melhorou o longa nos aspectos técnicos, o roteiro e a desconstrução de seus personagens impediram qualquer bom olhar para o filme.
Até mesmo em relação à violência, um dos destaques do primeiro filme, H2 não se mostrou tão eficaz. Apresentou um prólogo animador e alguns encontros violentos, mas a tentativa de mistificar a mitologia proposta simplesmente enterrou as expectativas. É perceptível o esforço de Zombie de justificar a presença de sua esposa no filme, porém deu a ela aspectos toscamente fantasmagóricos, com uma maquiagem e olhos arregalados que chegam a ser risíveis. E o tal cavalo branco é passível de ser a grande vergonha de toda a sua filmografia problemática.
No entanto, mesmo com sua ruindade evidente, o longa arrecadou quase U$40 milhões em bilheteria pelo mundo, e quase incentivou a realização de um terceiro. No mesmo ano de seu lançamento, a The Weinstein Company anunciou uma continuação que iria se chamar Halloween 3D, como parte da onda da época. Já existia até uma ideia que envolveria a confusão mental de Laurie ocasionando a morte do Dr. Loomis e não de seu irmão. Felizmente, o projeto foi cancelado, com a distribuidora optando por se dedicar a Pânico 4, em 2011.
Assim, as portas ficaram abertas para a Blumhouse adquirir os direitos da franquia em 2016 para desenvolver a trilogia de David Gordon Green. Se tivesse parado apenas no de 2018, o filme já teria os méritos suficientes para desbancar a refilmagem de Rob Zombie, mas quiseram insistir em continuações.
Ao final, mesmo após uma releitura, Halloween II continua pavoroso. Nem com boa vontade e mais de quinze anos de distância você consegue encontrar motivos para recomendar uma nova oportunidade a um dos piores trabalhos do músico diretor.
rapaz eu nunca tive coragem de ver esse filme só pelas imagens desse cavalo branco rsss