Seita Mortal (2011)

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Seita Mortal
Original:Red State
Ano:2011•País:EUA
Direção:Kevin Smith
Roteiro:Kevin Smith
Produção:Jonathan Gordon
Elenco:Michael Parks, Melissa Leo, John Goodman, Michael Angarano, Nicholas Braun, Ronnie Connell, Kaylee DeFer, Joey Figueroa, Kyle Gallner, Anna Gunn, Matt Jones, John Lacy, Catherine McCord

O primeiro filme de terror de Kevin Smith, Projeto de terror sem título de Kevin Smith. Durante anos essas frases serviram de nome provisório para aquele que prometia ser a primeira produção do gênero dirigida pelo cineasta americano, nascido em 1970, diretor independente de longas com mensagens políticas e religiosas travestidas de comédias-dramas como Dogma, O Império (do Besteirol) Contra-Ataca, Procura-se Amy, Tiras em Apuros, Pagando Bem, Que Mal Tem?, Menina dos Olhos e o absoluto O Balconista, seu melhor trabalho.

Autor de diálogos ácidos, com palavrões e auto-questionamentos, pode-se direcionar seus filmes como produções atípicas, que transitam por gêneros diversos enquanto apontam o dedo indicador para a sociedade. Kevin Smith debocha e satiriza nas mesmas proporções com que estabelece as relações humanas. Ele mostra os defeitos, mas não apresenta soluções; tudo está errado, independente do ponto de vista. Então, escolha o seu, mesmo sabendo que não estará do lado certo. É preciso lembrar também que seus filmes quase sempre apresentam personagens nerds e antissociais, alguns fracassados e marginais, trazem citações a outras produções, fanatismo e fim do mundo.

Tendo em vista essa sua personalidade cinematográfica, praticamente indecifrável, surge novamente o estranhamento quando o filme Seita Mortal passou a ser considerado o primeiro longa de terror de sua carreira. Era impossível o diretor figurar seu novo trabalho num único estilo, sem abordar a sociedade, sem o seu tradicional tapa na cara. As imagens e pôsteres mostravam novamente uma intenção de criar personagens fortes, batalhas por interesses opostos e sangue nas camisetas. O que poderia sair disso?

Três jovens em busca de sexo fácil e aventura vão ao encontro de uma seita de fanáticos religiosos que não aceitam homossexuais e pervertidos, condenando-os à morte durante seus cultos. Travis (Michael Angarano, de Quase Famosos), Billy-Ray (Nicholas Braun, de Super Escola de Heróis) e Jarod (Kyle Gallner, de A Hora do Pesadelo) pensam com a cabeça de baixo e correm atrás de um anúncio na internet que traz a possibilidade de um sexo grupal com uma senhora numa cidadezinha sulista vizinha. Na verdade, trata-se de uma armadilha organizada pelo pai dessa senhora, o pastor Aden Cooper (Michael Parks, de Um Drink No Inferno), que comanda um grupo de extremistas religiosos da Igreja Five Points Trinity. O cineasta faz uma referência aos Batistas de Westboro, fanáticos e anti-gays liderados por Fred Phelps, conhecidos pelos protestos realizados em funerais de soldados, obrigando o Presidente George W. Bush a assinar uma lei de respeito aos heróis da guerra em 2006, e o governador do Kansas, em 2007, a estabelecer uma distância de 150 pés dos enterros.

Drogados e raptados pelo grupo, os rapazes (e os telespectadores) sofrem uma tortura psicológica de pouco mais de dez minutos com a pregação do pastor até a situação tornar-se ainda mais extrema. Como os rapazes colidiram seu carro com o do Xerife, que recebia sexo oral de outro homem no momento, a polícia resolveu investigar e chegou ao local durante o culto. O que parecia ser um filme de sobrevivência, algo como Fórmula Fatal, acaba se transformando numa guerra violenta, quando é descoberto um arsenal nos porões da igreja. Entre em cena o agente Joseph Keenan (John Goodman, de Às Margens de um Crime), que vive o dilema sobre aceitar ou não ordens de seus superiores, agindo com discernimento na hora errada.

O que se vê em Seita Mortal é uma guerra entre a religião e o autoritarismo, com um tiroteio longínquo, sem permitir que balas perdidas atinjam os personagens que interessam para a trama. É nesse ponto que o filme de Kevin Smith perde o rumo e afeta a paciência do espectador. As citações estão lá, escondidas entre o arrependimento de uma crente e a violência do sangue que se esparrama pelo local, mas não são suficientes para remeter aos bons tempos do cineasta.

Assim como a chuva de sapos de Magnólia, há um episódio quase profético no último ato, mexendo com a fé e as atitudes daqueles que não acreditavam nas pregações do pastor, porém não avança como Dogma, concluindo de forma pouco ousada. E os três jovens que pareciam os protagonistas do longa acabam dando lugar para outros personagens como o ladrão de cenas Joseph Keenan. Este traz as melhores máximas da produção, muito mais fortes do que toda a verborragia de Aden Cooper:

As pessoas apenas fazem as coisas mais estranhas quando acreditam que têm esse direito. Mas, eles fazem sempre coisas estranhas quando sinceramente acreditam.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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