2.5
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Turistas (2006) (4)

Turistas
Original:Turistas
Ano:2006•País:EUA
Direção:John Stockwell
Roteiro:Michael Ross
Produção:Marc Butan, Scott Steindorff, John Stockwell, Bo Zenga
Elenco:Josh Duhamel, Melissa George, Olivia Wilde, Desmond Askew, Beau Garrett, Max Brown, Agles Steib, Miguel Lunardi, Jorge Só

Em Bratislava, pequena cidade da Eslováquia, existe um albergue repleto de mulheres lindas que transam com os ingênuos a fim de atrair vítimas para uma espécie de fábrica de torturas. No Texas, existe uma família de pessoas doentes que mutilam, alimentam-se e vendem a carne dos viajantes perdidos. Num barzinho chamado Titty Twister, localizado no México, funciona um banco de sangue, onde uma horda de vampiros ataca os caminhoneiros e turistas desavisados. Já no Brasil há uma quadrilha, formada inclusive de médicos brasileiros, que costuma roubar órgãos dos estrangeiros para servir de doação para os doentes dos grandes hospitais do país. Se você pretende viajar, preste atenção nos filmes de terror, verdadeiras cartilhas de sobrevivência que deviam ser vendidas em aeroportos e agências de turismo.

Depois do sucesso de O Albergue, era inevitável o desenvolvimentos de verdadeiras cópias carbono do filme de Eli Roth. Bastava encontrar regiões desconhecidas pelos americanos (ou retratadas de forma irregular pelo próprio local), explorar um tema real existente no mundo, utilizar a língua nativa e vários jovens acéfalos como cobaias. Pronto. O sucesso já estaria quase garantido. O restante ficaria por conta da polêmica criada pelos pseudo-patriotas, que fariam campanhas contra o lançamento e atrairiam a atenção do planeta.

Para começo de conversa, Turistas foi escrito para ser rodado na Guatemala. Talvez o preço barato cobrado pelos brasileiros – como diz o trailer, um país onde tudo pode – tenha servido como desculpa para a mudança de ares. Numa entrevista, o ator Josh Duhamel disse que ficou bastante contente em ir para o Brasil ao invés da Guatemala pois queria conhecer de perto a música, as praias, as pessoas e o carnaval.

Como a Guatemala e o Brasil são praticamente idênticos, bastava uma alteração em relação às regiões citadas, os personagens e a trilha sonora. Certo? Se você pensa assim ou acredita realmente que esse filme possa servir de imagem negativa para o país, é porque você não assiste aos telejornais brasileiros. O que destrói a imagem cultural de um país não é um filme de terror produzido por americanos, mas as histórias reais produzidas pela sua própria gente.

Vamos falar sério. O que o Brasil vende lá fora? Centenas de cenas reais de violência contra turistas, contra a polícia e contra os civis; mulheres seminuas; favelas com bandidos engraçados; enchentes; desmatamento; crises aéreas, no Correio, no Futebol e principalmente na política; e por aí vai.

Por que, então, algumas pessoas e a própria Embratur estavam preocupadas com a diminuição nos investimentos promovidas pelas imagens negativas de um filmeco de suspense de quinta categoria? Por que havia comunidades e grupos interessados em desenvolver abaixo-assinados para boicotar o lançamento, enquanto alguns cineastas do nosso próprio país realizam porcarias todos os anos e tentam vendê-las para o Oscar? Ora, o Brasil é um país rico de belezas naturais. Um exemplo é a série O Tempo e o Vento, com belíssimos cenários e batalhas que reproduzem uma excelente produção épica.

Turistas (2006) (2)

A primeira cena de Turistas mostra o desespero de uma garota, deitada numa maca, enquanto um cirurgião retira seus órgãos. Com cortes rápidos (claro, é uma cirurgia), como num clipe bizarro, a jovem grita, chora e diz que quer ir para casa. Em sua pupila, o rosto do assassino é refletido.

Entram os créditos iniciais, ao som do samba Do Jeito que o Rei Mandou, de João Nogueira e Zé Catimba, numa versão com Marcelo D2, enquanto somos agraciados com imagens que remetem o nosso país e a violência local. Vemos uma nota de dez reais, a bandeira brasileira, favelas, mulheres esculturais…até mesmo o Cristo Redentor não escapa da humilhação de aparecer neste filme.

Surge um ônibus velho numa estrada empoeirada e suja. Nele, apelidado carinhosamente de Rapidão, a própria visão do inferno: pessoas esquisitas, uma mulher amamentando, o motorista que cospe e cutuca o nariz e muita pichação nos bancos. Alguns turistas ficam desesperados com a velocidade exagerada do motorista, que ainda xinga um rapaz numa moto antes de fazer o veículo sair da estrada. O ônibus fica preso numa ribanceira, obrigando todos a pularem rapidamente pela janela pouco tempo antes de sua queda morro abaixo.

Enquanto recolhem seus pertences, todos os turistas do ônibus acabam se conhecendo. São seis no total: há australianos, suecos, ingleses e americanos. Há dois rapazes, Liam (Max Brown) e Finn (Desmond Askew), que pretendiam ir para Floripa – eles acreditam que, de acordo com um anúncio, a região possui dez mulheres para cada homem (alguém lembrou de Hostel?), mas tomaram o ônibus errado rumo a Belém (não dá para especificar o local exato onde eles estão, mas a região é próxima de Recife). Entre o grupo, há destaque para a bela Pru (Melissa George) e para o também bonzinho Alex (o já citado Josh Duhamel).

Ao saber que o próximo ônibus demorará em torno de dez horas para passar na estrada e depois de arrumar confusão com um brasileiro por ter tirado foto de uma criança (eles não gostam que tiram fotos, pois há rumores que estrangeiros roubam órgãos dos pequenos.. Hummm….sei!), o grupo decide esperar numa bela praia próxima dali. Lá, eles se divertem nadando, jogando bola e bebendo num quiosque local. Conhecem a bartender Camila (a brasileira Andréa Leal) e Arolea (outra brasileira, a pernambucana Lucy Ramos), além do divertidíssimo Kiko (Agles Steib, mais um made in Brasil).

Kiko promove as melhores cenas do filme Turistas. Em sua tentativa de falar inglês, apresenta-se como um típico estudante de curso de língua estrangeira no Brasil, perguntando frases feitas como “quantos irmãos tem” e tudo mais – apesar de esquecer de utilizar o verbo auxiliar. Confunde os estrangeiros ao se esforçar para pronunciar palavras como today (eles entendem two days).

Mesmo sem sinal de telefone, Camila telefona para o celular de um médico da região e avisa que há vários gringos esperando apenas para o abate. Tudo pronto. No cair da noite, os jovens se divertem ao som de música brasileira e em companhia de belas mulheres, enquanto bebem tudo o que é posto no balcão. Uns goles de Boa noite, Cinderela, e todos desmaiam no local.

Na manhã seguinte, o grupo acorda na praia, sentindo falta das mochilas e pertences, além do casal de suecos, primeiras vítimas da terra brasilis. Assim, o Brasil mostra sua cara ao exibir um povo mal-educado, lugares feios e uma molecada sem fim. Quando buscam pela policia, descobrem que só há um policial aposentado na região (um rapaz solta a pérola: quer dizer que aqui a polícia é pior que o ladrão?).

Com a ajuda de Kiko, os turistas cruzarão uma vasta floresta fechada, conhecerão algumas cavernas subterrâneas (que preparam o cenário para a sequência final do longa) e chegarão a uma residência estranha escondida na mata. Sem acesso via carro, a casa é uma verdadeira clínica médica, com aparatos cirúrgicos e macas. Os inocentes turistas não imaginam onde estão e o que irá acontecer com eles, mas, como o filme é repleto de clichês do gênero, se você viu mais de dois filmes na vida já conseguirá adivinhar o fim da história.

Tudo acontece de forma muito chata em Turistas. Isento de suspense, o filme acaba virando uma espécie de Comando para Matar sem o mocinho, com tiros para todos os lados, mortes acidentais e sem impacto. O melhor momento fica por conta de uma detalhada cirurgia, onde acompanhamos cada órgão sendo retirado enquanto o vilão justifica suas boas atitudes (você sabia que nos EUA a espera de um rim saudável dura em torno de 7 anos?).

Apresentando um país extremamente preconceituoso e estrangeiros bonzinhos, é fácil perceber as incoerências em relação à realidade brasileira. Há violência, sim. Pessoas ruins e mal-educadas há milhares. No entanto, Turistas exagera propositadamente com o intuito de mostrar uma situação sem saída para as vítimas. A ideia é transmitir desespero – ora, é um filme de terror, certo? -, mas não a realidade nua e crua.

Ainda assim, apesar da tentativa, tudo é mal explicado, mal dirigido, parecendo – como eu li numa crítica – um filme apenas brasileiro. A direção é de John Stockwell (que tem mais trabalhos como ator do que diretor), já o roteiro foi desenvolvido por Michael Ross, cujos trabalhos de edição incluem o divertido Pânico na Floresta (Wrong Turn). Ora bagunçado e lento, ora em ritmo de videoclipe, o diretor tenta sujar a câmera para transmitir ares de realidade, mas erra feio. As sequências de ação, com câmera no ombro, acabam confundindo o espectador e dando um aspecto de produção caseira e mal feita.

Turistas talvez se torne apenas divertido para o público brasileiro, que irá reconhecer o seu país e sua língua real. Não aquele portunhol horrendo que vemos nos filmes em que a língua portuguesa é usada. E a polêmica causada pelos protestos das pessoas que queriam boicotar o lançamento irá chamar ainda mais a atenção do público. Quem não se lembra do que aconteceu com a exibição do episódio dos Simpsons no Brasil pela Fox? Apesar da fúria do governo brasileiro que forçou um pedido de desculpas dos americanos, o episódio acabou se tornando um dos mais baixados pela internet. Por que o protesto? Só porque ele mostra favelas coloridas, macacos andando nas ruas, sequestradores e goza do dinheiro colorido?

Mesmo assim, numa análise geral, o filme é ruim mesmo. Assistam apenas pela curiosidade (e para incomodar a Embratur e as pessoas que deviam protestar contra a violência real e não contra um filme), mas não em busca de uma obra genuína de suspense e violência. Hostel, sim, é um bom exemplar do melhor do terror explícito da atualidade, com crítica social e um bom enredo. E se querem um ótimo filme com um tema parecido,  vejam o visceral Anatomia, obra alemã envolvendo mortes de estudantes e a exploração do corpo para estudos em faculdades. Deixem que Turistas sirva apenas como um meio de evitar que estrangeiros queiram abusar de nossa fauna mais do que já fazemos normalmente!

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14 Comentários

  1. “Em Bratislava, pequena cidade da Eslováquia”. Já começou mal por ai. Bastava o critico dar uma pesquisada rápida no google pra saber que Bratislava é a capital e maior cidade da Eslováquia.
    No mais, o critico se ocupou muito em justificar a má fama do filme citando várias outras mazelas desta porcaria de país.
    Sinceramente, já li criticas bem melhores do senhor neste site. Vai ver não estava em um bom dia para escrever.

    1. Avatar photo
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      Embora a publicação indique 2014, esse texto foi escrito em 2006/2007. Iniciando como crítico, amigo, falhas acontecem. Irei atualizar o texto e agradeço pela observação.

      Abs

  2. Muito barulho por nada: filme meia-boca como muitos que tem por aí, daqueles que você assiste e no dia seguinte mal se lembra de alguma coisa.

  3. Me senti ofendidi, meu país é cheio de problemas mas também não é esse exagero! Nossas mulheres não são objeto sexual igual retratam, cisman com os biquinis bradileiros até hoje, mas atualmente em todo o mundo estão usando parecidos ou até igual, vão tomar no CU esse diretor é um filho da Puta, a Fox é foda mas nós fode acham que somos essa merda e fez aquilo em simpsons e somos um dos países que mais dar audiência para esses cornos.

    1. Somos uma bosta mesmo cara, povinho de terceiro mundo onde todo mundo só! Quer saber de carnaval e futebol e ainda vota em corruptos, se eles tem essa imagem nossa é porque merecemos, fato.

        1. Não me ofendi com a retratação que o filme deu no nosso país pois até concordo com o que foi retratado, o Brasil realmente é uma merda de país em que a bandidagem, o futebol e a putaria reinam, um país escroto em que o mal frequentemente se dá bem e escapa impune. Não vejo muitas esperanças para essa porcaria de país chamado Brasil portanto os filmes e séries como Os Simpsons podem “falar mal” á vontade, o que pra mim é apenas a realidade.

  4. Eu até gosto desse filme, mas é estranho assistir um terror se passando no nosso país… Se a pessoa levar a história a sério, vai acabar ficando ofendido, mas o próprio Eli Roth exagera na caracterização dos americanos em seus filmes.

  5. Gosto muito desse filme, acho que não deve nada a outras produções do gênero

  6. Cara o filme até que não é tão ruim assim, acho que a polêmica em torno criou uma obrigação em torno do filme! Mas olhando por outro lado, qualquer filme com Olivia Wide e Melissa George ja vale a conferida, hahaha!

  7. As externas desse filme foram gravadas na cidade de Ubatuba/SP. Sei por que sou de lá e lembro que na época foi um alvoroço por conta das gravações, inclusive alguns amigos meus fazem figuração em algumas cenas hahahahaha. O filme é uma bosta, mas tenho um carinho por ele por ter sido feito na minha cidade. Me recordo até que a cena da caverna, quando os personagens estão tentando fugir foi feita na piscina de um hotel da cidade – que inclusive é da minha amiga – eu era muito novo na época, se não teria ido ver tudo isso! =D

    1. que legal cara,eu queria muito que fizessem algum filme de terror aqui em Recife tbm.quanto ao filme eu gosto,tão ruim que é bom.

      1. Somos uma bosta mesmo cara, povinho de terceiro mundo onde todo mundo só! Quer saber de carnaval e futebol e ainda vota em corruptos, se eles tem essa imagem nossa é porque merecemos, fato.

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