4.5
(2)

O Homem Duplicado (2013) (1)

O Homem Duplicado
Original:Enemy
Ano:2013•País:Canadá, Espanha
Direção:Denis Villeneuve
Roteiro:José Saramago, Javier Gullón
Produção:M.A. Faura, Niv Fichman
Elenco:Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Sarah Gadon, Isabella Rossellini, Joshua Peace, Tim Post, Kedar Brown, Darryl Dinn, Misha Highstead, Megan Mane

Lembro que quando assisti e escrevi sobre Sob a Pele no ano passado (filme que considero o melhor dos que vi em 2014) gostei muito da inovação que o diretor Jonathan Glazer trouxe para a narrativa daquela obra, combinando o mínimo de diálogos, se afastando de sequências barulhentas de ação e apostando frequentemente em planos longos e contemplativos, numa fotografia virtuosa e trilha sonora profunda e sombria, roteiro cheio de subtextos, além do elenco principal se basear no trabalho somente de um ator, no caso, a atriz Scarlett Johansson. Por coincidência, na mesma época foi lançado no Brasil o suspense O Homem Duplicado, livremente adaptado por Javier Gullón a partir da obra de José Saramago, e dirigido por Denis Villeneuve (do ótimo Os Suspeitos), sendo que o longa guarda uma estranheza narrativa e simbólica similar ao trabalho de Glazer, além de se centrar também basicamente no trabalho de Jake Gyllenhaal (Contra o Tempo, Donnie Darko) que sua a camisa para interpretar com entrega os dois personagens principais da trama, e que convence em ambos os papeis.

“Caos é a ordem ainda não decifrada”

Um longa estranho, é verdade, mas que já começa promissor, investindo em uma aura misteriosa e apresentando o frequente contraste na fotografia que todo o filme apresentará, cujo responsável, o canadense Nicolas Bolduc, encontrou no tom amarelo e na dessaturação das cores, uma maneira de colorir a história, ilustrando a aridez do ambiente urbano no qual a trama se passa ao mesmo tempo em que ajuda a criar – com o auxílio da trilha simplesinha, mas enervante de Danny Bensi e Saunder Jurriaans – o clima constantemente de angústia e desconforto, como se nós mesmos estivéssemos vivendo o dilema do protagonista. Qual dilema?

O Homem Duplicado (2013) (2)

Adam (Gyllenhaal) é um professor de história depressivo que entra em paranoia quando está assistindo um filme e encontra um ator exatamente igual a ele, um sósia. Decidido a encontrar o tal ator, que atende pelo nome Anthony (também Gyllenhaal), Adam se envolve em uma trama obscura, onde nada é o que parece. Se a sinopse pareceu confusa, o filme com certeza te deixará com um nó ainda maior na cabeça, mas em minha análise isso está longe de ser um defeito. É ótimo ver que o cinema apresenta obras como O Homem Duplicado de vez em quando, que, em vez de insultar a inteligência do espectador ou pedir que este desligue o cérebro, acabam por incitar reflexões ao mesmo tempo em que consegue envolver com uma narrativa inteligente e atmosfera intensa. Após garimpar algumas análises na grande rede, e discutir com alguns amigos os possíveis significados da trama, é possível encontrar algum rumo para as conotações do roteiro,

SPOILER

O significado das aranhas literais presentes na trama tem forte conotação feminina e representam provavelmente a repressão simbolizada pelas personagens da mãe (Isabela Rossellini) de Adam/Anthony (que fica claro serem a mesma pessoa) e de sua esposa (a bela Sarah Gadon), grávida de seis meses. Ambas as personagens femininas representam para Adam um caráter castrador, que o impedem de atingir aquilo que busca (luxúria ou libertação, representada inteligentemente pela profissão do ator), algo que só consegue uma fuga na figura do ator Anthony (ou Daniel Saint Claire), um sujeito com personalidade diametralmente oposta à do retraído Adam e que, desta forma, é o escape para que ele possa fazer aquilo que deseja.

O Homem Duplicado (2013) (3)

FIM DOS SPOILERS

Entretanto, tais significados abstraídos da trama são mero suporte para que a experiência fílmica seja ainda mais gratificante, mas ainda que você, espectador, não atine com tudo que acabou de presenciar no filme ao rolar dos créditos finais (assim como eu), é impossível não se sentir atraído pela atmosfera criada por Villeneuve, que, sem dúvidas, é capaz de criar tensão, suspense, estranheza e até mesmo um clima sinistro tão somente ao conceber cinema de maneira surrealista, mas sempre de forma inteligente, que alguns chamariam depreciativamente de “artsy fartsy“, mas que aqui acerta em cheio o público, ainda que este não faça ideia do que acabou de ver.

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Média da classificação 4.5 / 5. Número de votos: 2

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1 comentário

  1. Não recomendo esse filme.

    A tensão no filme vai crescendo e os personagens são bem trabalhados. Porém, o final é de dar raiva, estragando toda a película!

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