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A Maldição do Altar Escarlate (1968) (1)

A Maldição do Altar Escarlate
Original:Curse of the Crimson Altar
Ano:1968•País:UK
Direção:Vernon Sewell
Roteiro:Mervyn Haisman, Henry Lincoln, Jerry Sohl, Louis M. Heyward, Gerry Levy, H.P. Lovecraft
Produção:Louis M. Heyward
Elenco:Boris Karloff, Christopher Lee, Mark Eden, Barbara Steele, Michael Gough, Virginia Wetherell, Rosemarie Reede, Derek Tansley, Michael Warren, Ron Pember

… e drogas deste tipo podem produzir as mais complexas alucinações e sob sua influência é possível por hipnose induzir uma pessoa a fazer coisas que normalmente ela não faria. – trecho de um artigo de um jornal médico

A exemplo de Morte Para Um Monstro (1965), com o imortal ator Boris Karloff em história inspirada em conto do mestre da literatura Howard Phillips Lovecraft, um outro filme da mesma época, A Maldição do Altar Escarlate (1968), também reuniu novamente essas magistrais personalidades do horror, com a vantagem de ainda somarem-se a eles um outro ícone do gênero, Christopher Lee, o Drácula da Hammer inglesa, e a atriz gótica Barbara Steele, musa dos anos 60. Apesar desses ingredientes, o resultado não foi um grande filme dentro da história do fantástico, porém certamente é obrigatório para todos os fãs do estilo em qualquer época, principalmente pela presença desses grandes atores, o que por si só já torna a obra uma raridade que deve ser sempre reverenciada.

A Maldição do Altar Escarlate foi também produzido pela mesma American International Pictures, produtora de Morte Para um Monstro e responsável por outras diversas pérolas do horror nas décadas de 60 e 70, muitas delas obras adaptadas de histórias de Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft, como por exemplo as outras duas versões lovecraftianas do mesmo período, O Castelo Assombrado (The Haunted Palace, 1963), dirigido e produzido por Roger Corman e com Vincent Price e Lon Chaney Jr. numa história inspirada em The Case of Charles Dexter Ward, e O Altar do Diabo, novamente produzido por Corman e com Dean Stockwell e Sandra Dee numa história baseada em The Dunwich Horror.

A Maldição do Altar Escarlate (1968) (2)

Um comerciante de antiguidades raras, Robert Manning (interpretado por Mark Eden), recebeu uma carta de seu sócio e irmão Peter, timbrada de uma pousada da cidade de Greymarsh, para onde ele havia viajado à procura de artefatos para seu antiquário, dizendo que estaria retornando pois não estava bem de saúde. Passados alguns dias e não tendo o retorno de seu irmão, Manning decidiu então ir até a pequena cidade onde, coincidentemente, seus ancestrais viveram por várias gerações. Porém, chegando lá, ao se informar com o proprietário da pousada, uma antiga construção chamada Craxted Lodge, o senhor J. D. Morley (interpretado pelo grande Christopher Lee), o recebeu muito bem e avisou que seu irmão nunca havia se hospedado ali. Desconfiado da informação, o comerciante decidiu ficar e investigar melhor o paradeiro de Peter, sendo convidado de Morley para ficar na pousada.

Paralelamente a isso, Manning conheceu a bela sobrinha do proprietário, Eve Morley (Virginia Wetherell), numa festa típica dos anos 60 que ocorria na pousada, regada a muita bebida, danças e mulheres semi nuas. E naquela mesma noite, por coincidência também, os habitantes de Greymarsh celebrariam um festejo folclórico da região, para lembrar a morte no passado de uma bruxa verdadeira que praticava feitiçaria há trezentos anos atrás, e que morreu executada impiedosamente numa fogueira, prática comum naquele período da história da humanidade. Lavínia Morley (interpretada por Barbara Steele), era a bruxa de Greymarshe, a mãe dos mistérios, a guardiã do segredo negro, conhecida pela prática de magia oculta contra os aldeões do vilarejo, e que foi assassinada agonizando viva nas chamas da inquisição.

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Manning, através de suas investigações na cidade e ajudado pela jovem Eve, conheceu também um estudioso e grande autoridade em bruxaria, o professor John Marsh (interpretado pelo magnífico Boris Karloff, em cadeira de rodas) que lhe revelou que o sinistro senhor Morley era um descendente direto da bruxa Lavínia. A partir daí, ele passou a ter vários pesadelos onde participava de rituais satânicos com a presença da bruxa negra e outras estranhas pessoas fantasiadas, que na verdade representavam figuras mitológicas pagãs. Eles obrigavam-no a assinar com o sangue de um animal sacrificado um livro obscuro, e que com a sua recusa em fazê-lo, era atacado com um punhal. O pesquisador, sempre em companhia de seu mordomo mudo Basil, revelou também à Manning que na verdade a feiticeira Lavínia havia amaldiçoado a todos os seus acusadores e responsáveis por sua morte na fogueira e que esses aldeões e todos os seus descendentes seriam mortos em circunstâncias misteriosas com fins dolorosos e violentos, o que se comprovou na história da cidade. E que ele, Robert Manning, era o último descendente ainda vivo de Jonathan Manning, um dos principais acusadores de Lavínia. O comerciante após essa revelação, acabou chegando à conclusão que seu irmão poderia estar realmente morto sendo vítima de algum desses rituais de magia negra e descobriu que ninguém se lembrava dele pois ao chegar à cidade, ele usou um nome fictício, Dennis Vosper, com o objetivo de negociar melhor suas compras de antiguidades. Manning então decidiu mesmo assim a permanecer em Greymarshe e denunciar às autoridades policiais os macabros eventos que estavam sendo realizados.

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Continuando suas investigações, Manning descobriu uma passagem secreta em seu quarto na pousada de Morley, a qual levava a um ambiente oculto que era o mesmo local de seus pesadelos onde se realizavam os rituais de feitiçaria com a presença da bruxa Lavínia. Explorando o quarto secreto, ele descobriu também o cadáver do estranho mordomo da pousada, Elder (Michael Gough), que igualmente era descendente de um dos acusadores de Lavínia no passado.

Juntamente com a bela Eve, eles descobriram mais fatos sobre a bruxa Lavínia, recorrendo também à ajuda de um vigário (Rupert Davies), pesquisando nos registros antigos da paróquia local. O julgamento fatal da bruxa foi em 25 de janeiro de 1652 e todos os acusadores descritos nos documentos da igreja tinham os mesmos nomes da lista encontrada no livro negro que estava no quarto oculto e o qual as pessoas do ritual obrigavam Manning a assinar em seus pesadelos, tentando selar o seu destino. O senhor Morley na verdade estava obcecado na missão de se vingar de todos os descendentes dos aldeões do passado que queimaram Lavínia na estaca, e sua intenção passou também a de assassinar sua sobrinha devido ao fato dela estar ajudando Manning em suas investigações.

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Atenção para spoilers no próximo parágrafo!

Percebendo que a jovem Eve corria perigo e indo ao seu encontro, Manning foi capturado num descuido e obrigado a testemunhar um rito oculto onde a jovem seria sacrificada e oferecida ao reino das trevas. Entretanto, o professor Marsh apareceu nesse momento e conseguiu salvar a garota no altar do sacrifício, disparando um revólver e ferindo uma das mãos de Morley, que estava prestes a cravar um punhal em sua sobrinha. Em sua fuga o senhor Morley incendiou o local e tentou escapar pelo telhado, enquanto o professor, seu ajudante mudo e o casal de jovens fugiam também das chamas. No telhado da pousada, Morley acabou transformando-se ao final na imagem da bruxa Lavínia enquanto era consumido pelas chamas ardentes do fogo que destruía a pousada (infelizmente, como era de se esperar, o inevitável final feliz prevaleceu novamente…).

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Boris Karloff já estava bastante idoso e doente no fim dos anos 60, atuando em Na Mira da Morte (Targets, 1968), dirigido por Peter Bogdanovich, e logo depois filmando A Maldição do Altar Escarlate, esse que foi um de seus últimos filmes da longa carreira de sucesso, que incluiu clássicos absolutos como Frankenstein (1931) e A Múmia (1933), além de inúmeras participações em filmes de outros gêneros, totalizando aproximadamente 140 películas. Após participar de A Maldição do Altar Escarlate, onde filmou boa parte das cenas numa cadeira de rodas devido a uma séria crise respiratória, ele ainda reuniu suas últimas energias e atuou em outros quatro filmes mexicanos que foram todos lançados no início dos anos 70, após sua morte em 1969.

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O inglês Christopher Lee fez parte de uma geração impagável de astros do horror, juntamente com Peter Cushing, Vincent Price, John Carradine e Donald Pleasence. Ele interpretou de tudo em sua vasta carreira, desde a criatura de Frankenstein no clássico inglês da Hammer, The Curse of Frankenstein (1957), a múmia em The Mummy (1959), e culminando principalmente no famoso conde vampiro em Horror of Dracula (1958), todos dirigidos por Terence Fisher. Sendo Drácula o personagem que ele interpretou inúmeras vezes mais, tornando-se juntamente com o lendário Bela Lugosi das décadas de 30 e 40, os verdadeiros vampiros do cinema. Christopher Lee pode ainda ser visto rapidamente como um juiz em uma ponta no filme A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999), de Tim Burton, que claramente homenageou o ator numa história típica do horror do passado. E também os diretores Peter Jackson e George Lucas homenagearam o veterano astro fornecendo a ele os papéis do mago Saruman e Conde Dookan nas franquias O Senhor dos Anéis/O Hobbit e Star Wars, respectivamente.

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Uma das atrizes mais ligadas ao horror na década de 60, a inglesa Barbara Steele ganhou notoriedade no gênero após sua aparição no clássico italiano Black Sunday (1960), do especialista Mario Bava. A partir daí, ela estrelou inúmeras películas americanas e principalmente européias, produções da Itália e Espanha, participando até de um filme do escatalógico diretor canadense David Cronenberg em início de carreira, The Parasite Murders (1975).

O roteiro é levemente inspirado, porém não creditado, em história do escritor Howard Phillips Lovecraft, que foi juntamente com Edgar Allan Poe, dois dos maiores autores de horror do século XX. Criador dos famosos Mitos de Cthulhu, que descreve a existência de ancestrais criaturas grotescas e indizíveis de tempos imemoriais, que habitavam o planeta num passado remoto, e que aguardam silenciosamente a oportunidade de retomarem seu poder sobre a humanidade, Lovecraft teve inúmeras de suas histórias emprestadas ao cinema, que só o descobriu para as telas a partir da década de 60. Ele e Poe somam-se aos modernos Clive Barker e Stephen King, como os maiores escritores de literatura de horror de todos os tempos, e também os que mais contribuíram para o cinema com suas macabras histórias.

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A fotografia de A Maldição do Altar Escarlate é repleta de efeitos psicodélicos típicos dos anos 60, com um colorido exagerado, principalmente nas cenas dos pesadelos do comerciante de antiguidades com os rituais envolvendo a bruxa negra Lavínia. Várias cenas são carregadas de erotismo, como na festa da pousada onde diversas jovens dançavam quase nuas e principalmente quando uma delas descarregava duas garrafas de champagne em seu corpo enquanto vários homens bebiam o líquido que escorria por suas belas pernas. E não faltam também os elementos característicos do horror da época, como o clima sombrio do cemitério ao lado da pousada, em meio aos túmulos de pedra e árvores fantasmagóricas, a sala dos rituais de magia negra com o altar do sacrifício e repleta de instrumentos de tortura, e o próprio estilo gótico da casa, cercada de móveis e artefatos antigos, levando-nos a um ambiente macabro de bruxaria e ocultismo. A trilha sonora, principalmente dos letreiros iniciais, com uma música fúnebre de orgão, ajudava intensamente para um clima mórbido de horror.

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O filme aproveita a oportunidade e ainda faz uma justa homenagem ao imortal ator Boris Karloff, numa sequência de diálogos entre o comerciante Manning e a jovem Eve Morley, quando ele estava ainda conhecendo a pousada. A jovem dizia a ele …essa casa parece de filme de horror…, e ele completava ironicamente …como se Boris Karloff fosse aparecer….

Outra curiosidade interessante do roteiro é uma explicação logo no início, onde Manning fala para sua secretária da loja de antiguidades a respeito de alguns artefatos raros que seu irmão Peter havia enviado, e que foram obtidas em sua viagem à Greymarshe. Entre estes objetos havia um punhal falso cuja lâmina cortante era sustentada por um sistema de molas, fazendo com que se escondesse na bainha quando pressionado contra alguma coisa. Ele era utilizado na época da inquisição para condenar pessoas a queimar na fogueira acusadas de práticas de bruxaria. Diziam que se apunhalassem uma pessoa e não saísse o sangue era porque tratava-se de alguém envolvido com magia negra. E os inquisidores da época utilizavam os punhais falsos para provar atos de feitiçaria e condenar pessoas inocentes a morrerem queimadas vivas na estaca. Isso foi um fato real da história em um período cruel da humanidade, e muita gente inocente morreu vítima desse tipo de atrocidade.

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A Maldição do Altar Escarlate é mais um filme muito divertido de uma época deliciosa do cinema de horror. Época que ainda existiam Boris Karloff (mesmo cansado e em fim de carreira) e Christopher Lee (ainda em grande momento nesse período). Época de pouco sangue jorrado aleatoriamente nas telas e mais histórias envolvendo as plateias (mesmo que com seus inocentes e quase sempre óbvios finais felizes…). Época de um estilo próprio do horror, bem diferente das podreiras do cinema moderno, que, é claro, também tem suas características que o tornam fantástico, tendo por exemplo The Evil Dead (1982), como um de seus expoentes máximos. Época que já passou, porém deve ser revisitada sempre, para nunca esquecermos o seu significado e importância para o gênero como entretenimento.

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