Tubarão 3
Original:Jaws 3-D
Ano:1983•País:EUA Direção:Joe Alves Roteiro:Richard Matheson, Carl Gottlieb, Guerdon Trueblood, Michael Kane Produção:Rupert Hitzig Elenco:Dennis Quaid, Bess Armstrong, Simon MacCorkindale,Louis Gossett Jr., John Putch, Lea Thompson, P.H. Moriarty, Dan Blasko, Liz Morris |
Bem, enquanto vocês se recuperam do choque e da overdose de gargalhadas de ver Tubarão 3, permitam-me dizer que esta obra bisonha foi um autêntico “guilty pleasure” da minha infância/adolescência, um filme que eu assistia com gosto toda vez que passava na TV e, acreditem ou não, GOSTAVA!
Foi só revendo agora, depois de “adulto“, em DVD com imagem cristalina e sem aquela dublagem pavorosa da Globo, que eu finalmente percebi como o filme é ruim, com uma trama absurda e desinteressante, total ausência de suspense e/ou violência, atores conhecidos pagando mico e cenas estúpidas. Um autêntico Filmes para Doidos!
Antes de falarmos da película em si, é bom traçar um rápido contexto da época: depois que o Tubarão original de Steven Spielberg foi um estrondoso sucesso de crítica e bilheteria em 1975, a Universal não perdeu tempo e financiou Tubarão 2, em 1978, uma sequência bem interessante que foi mal recebida na época, mas só cresceu com o tempo (inclusive considero-o um filmaço, e se bobear vi até mais vezes que o original!).
O segundo filme não foi mal nas bilheterias, mas frustrou os produtores, que esperavam um repeteco do sucesso arrasador do filme de Spielberg. Resolveram, então, deixar os predadores oceânicos em paz. Até que, em 1981, um italiano chamado Enzo G. Castellari dirigiu uma cópia de Tubarão chamada O Último Tubarão, que ironicamente tornou-se um gigantesco imã de bilheteria nos Estados Unidos!
Os engravatados da Universal não pensaram duas vezes: processaram Castellari e os produtores italianos por plágio, conseguiram tirar o filme de cartaz e, com muitos cifrões nos olhos, trataram de produzir seu próprio novo filme sobre tubarões, julgando que o público ainda tinha interesse nisso.
Ironicamente, a primeira ideia era fazer uma sátira ao original de Spielberg, estilo Todo Mundo em Pânico, que se chamaria Jaws 3 x People 0 (!!!), uma comédia sobre as filmagens de uma nova sequência de Tubarão. Dois nomes proeminentes da comédia oitentista, Matty Simmons e John Hughes, entraram no projeto, Joe Dante iria dirigir (!!!), e a cena inicial mostraria o escritor Peter Benchley (autor do livro que deu origem a Tubarão) sendo morto pelo assassino aquático na piscina da sua casa!!!
Aí algum produtor mal-humorado resolveu desistir da ideia e fazer uma continuação “séria“, porém aproveitando uma ferramenta que estava se tornando uma febre entre os filmes de ficção científica e horror da época: o 3-D. Tudo que era terceiro filme produzido naqueles anos acabava eventualmente filmado em 3-D para aproveitar o trocadilho com o número 3 no título – Sexta-feira 13 Parte 3 e Amityville 3-D são da mesma época. Inclusive, nos cinemas, Tubarão 3 chamava-se Jaws 3-D!
Bem, ao tal produtor mal-humorado que achou melhor fazer um filme “sério” do que uma comédia, deixo a seguinte mensagem: não adiantou nada! Tubarão 3 é tão ruim e sem-noção que hoje passa como verdadeira comédia involuntária. Em várias oportunidades me peguei rindo sozinho do filme que outrora me assustava/emocionava.
Passando-se alguns anos após as tragédias em Amity narradas nos dois filmes anteriores, Tubarão 3 agora muda a localização geográfica para um parque aquático na Flórida, onde trabalha Mike Brody (Dennis Quaid, ainda com cara de adolescente!!!), que é um dos filhos do personagem de Roy Scheider em Tubarão 1 e 2.
O local, financiado por um figurão chamado Calvin Bouchard (Louis Gossett Jr.!!!), será inaugurado em alguns dias, e tem como grande atração um complexo submarino onde os visitantes poderão ver a vida marinha através de túneis envidraçados. Mas é claro que logo aparecerá a ameaça de mais um gigantesco tubarão branco…
Tudo que é clichê possível e imaginável do subgênero “animais assassinos” aparece aqui, do ambicioso dono do parque que minimiza a ameaça para não perder dinheiro ao caçador experiente que subestima a periculosidade do tubarão ao tentar enfrentá-lo sozinho. Sem contar, claro, o tradicional momento em que todo o elenco do filme corre em disparada gritando “Saiam da água!” para tentar salvar banhistas de seu triste destino no momento em que o tubarão ataca…
Quem comandou a patuscada foi Joe Alves, diretor de segunda unidade em Tubarão e Tubarão 2. Esse é o seu único crédito como diretor, algo plenamente justificável considerando a ruindade do filme. E como seria bom se, hoje, os estúdios também limassem diretores ruins baseados apenas em seu primeiro filme ruim, pois assim nunca veríamos outras bombas do Rob Zombie!
Tubarão 3 falha em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Os efeitos especiais de 1983 são piores que os do original, inclusive com a utilização de um gigantesco tubarão que nem move a cauda ao nadar (parece um submarino!!!). Não há cenas de tensão, de suspense ou de violência, e a bem da verdade não acontece nada até os 50 minutos do filme – nesse ínterim, precisaram criar cenas totalmente dispensáveis para que o público não dormisse, como a aparição de dois “ladrões de coral” que são devorados off-screen pelo tubarão e nunca mais são citados, em cena provavelmente filmada e incluída na edição de última hora.
Pior é a quantidade de besteiras jogadas na cara do espectador por minuto. Em certo momento, por exemplo, um perigoso tubarão branco é exposto ao público numa piscina comum e sem NENHUMA proteção nas laterais, permitindo que qualquer espectador pudesse cair sem dificuldade no tanque de uma das criaturas mais mortais da natureza!
Mas nada pode ser mais trash que a conclusão: o cadáver do corajoso caçador de tubarões, que havia sido devorado pelo monstro horas antes, AINDA ESTÁ INTACTO DENTRO DA BOCA DO BICHO, e segurando uma granada na mão para que os heróis possam puxar o pino e explodir o bicho. Cá entre nós: será que o tubarão confundiu o mergulhador com uma bala (já que ele estava de roupa vermelha) e estava chupando o cadáver do sujeito ao invés de engolir de uma vez? Ou será que os tubarões, como as vacas, ficam ruminando o alimento?
O roteiro está repleto de problemas, e não são só esses dois. Lá pelas tantas, o irmão mais novo de Mike, Sean Brody (John Putch, atualmente diretor de tralhas como as sequências bastardas de American Pie), aparece na história, mas ele não faz absolutamente nada para justificar sua presença. O próprio Mike Brody é provavelmente o “herói” mais incompetente da história do cinema, pois passa pelo filme inteiro sem fazer nada até o minuto final.
A bem da verdade, o roteiro de Tubarão 3 parece não se decidir entre quem é o verdadeiro protagonista do filme: Brody ou o tal caçador experiente, um inglês chamado Philip FitzRoyce (interpretado por Simon MacCorkindale, que é a cara do Aaron Eckhart!!!).
Ambos disputam o coração da mocinha Kathryn (Bess Armstrong), mas FitzRoyce é o único com coragem para enfrentar o tubarão várias vezes até encontrar seu fatídico destino – porque nesse tipo de filme é sempre o animal assassino que resolve os triângulos amorosos, geralmente comendo uma das suas pontas.
Ah, quase esqueci: Tubarão 3 também tem um casal de golfinhos espertinhos (barbaridade…) que, lá pelas tantas, salvam os heróis de um ataque do tubarão, no grande momento “vergonha alheia” da película – sem contar que algo semelhante acontecia no final do trashão italiano Tentáculos (1977), de Ovidio G. Assonitis.
Chega a ser deprimente ler, nos créditos iniciais, o nome de Richard Matheson (sim, “o” Richard Matheson) como um dos roteiristas, mas ele alega que seu roteiro original foi totalmente reescrito por Michael Kane e pelo ator-diretor Carl Gottlieb (que já havia “contribuído” nos roteiros de Tubarão e Tubarão 2 a pedido da Universal). O argumento é de Guerdon Trueblood, na época um especialista em “terror animal” (escreveu Formigas Assassinas, Tarântulas e dois filmes sobre abelhas assassinas!).
No geral, Tubarão 3 é um daqueles filmes em que absolutamente NADA deu certo. Todos os atores estão péssimos, completamente perdidos de tão mal-dirigidos, e dá pena de ver principalmente Gossett Jr. pagando esse micão – até porque no ano anterior, 1982, ele tinha ganhado o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por A Força do Destino. Como se sabe, o Oscar de Coadjuvante tem alguma tenebrosa maldição por trás (que o digam Cuba Gooding Jr., Marisa Tomei e tantos outros), e Gossett Jr. acabou fazendo papel de “sidekick de luxo” em produções como Asas de Águia e O Justiceiro antes de sumir do mapa.
Sem nenhum orgulho do seu trabalho, Dennis Quaid hoje se refere a Tubarão 3 com a inevitável pergunta “Qual foi mesmo o Tubarão que eu fiz?“. E o elenco também traz Lea Thompson em seu segundo papel no cinema. Depois ela faria a mãe de Marty McFly na trilogia De Volta para o Futuro.
Hoje, um dos poucos atrativos de Tubarão 3 é rir do que deveriam ser os efeitos 3-D – no caso, coisas apontadas ou atiradas diretamente contra a câmera. Numa cena, o personagem de Dennis Quaid dispara um arpão contra o “público“, e é interessante observar como aquilo deve ter ficado legal “saindo da tela“, embora perca todo o sentido em 2-D (como 99% dos filmes em 3-D produzidos hoje, vale ressaltar).
Braços decepados e peixes parcialmente devorados também são atirados contra o espectador, mas o auge do grotesco é a cena final, em que o tubarão explode e os pedaços de suas enormes mandíbulas também são arremessados contra a tela, num efeito que deve ter provocado um festival de gargalhadas nas salas de cinema da época!
Ironicamente, Tubarão 3 copia, na maior cara-de-pau, várias coisas de O Último Tubarão, aquele pequeno filme italiano que os engravatados da Universal fizeram questão de tirar de circulação dois anos antes. O tamanho do tubarão (35 metros) e o som que ele faz ao atacar (mais parecido com um leão ou tigre feroz!) saíram diretamente do filme de Castellari, bem como a conclusão em que o bicho engoliu alguém com uma bomba e o herói só precisa detoná-la pelo lado de fora!
Com tantos problemas e besteiradas, Tubarão 3 provavelmente é mais engraçado, para o público de hoje, do que seria a tal sátira assumida Jaws 3 x People 0, cogitada lá no começo dos anos 1980.
Confesso que não lembrava de o filme ser tão ruim, mas pelo menos ele continua razoavelmente divertido nos seus inúmeros defeitos, e ainda me rendeu algumas boas gargalhadas – embora seja muito enrolado e demore uma eternidade até alguma coisa de interessante acontecer.
Felizmente, para Joe Alves e sua trupe, Joseph Sargent fez o favor de dirigir uma continuação AINDA PIOR em 1987, o infame Tubarão – A Vingança, e de certa forma esse terceiro filme parece até um pouquinho melhor em comparação ao que o precedeu.
Mas não foge à regra (ou maldição, para alguns) de que o terceiro filme de uma série geralmente é o mais fraco e o início da decadência. Exemplos não faltam, de Amityville 3-D a Robocop 3, de Jogos Mortais 3 a O Retorno de Jedi.
Também serve, atualmente, como um belíssimo argumento da inutilidade do 3-D, que no fim só vai deixar um montão de filmes repletos de cenas com objetos sendo jogados contra a câmera, e que perdem todo o sentido quando vistos em casa no formato normal…
Queria convite para ler o blog filme para doidos citado na crítica.
Oi, Cleyton! Vc vai precisar falar com o Felipe M. Guerra. Ele está no instagram.
Eu nunca tinha tido coragem de assistir esse filme, mas só vim pesquisar pra tirar a duvida se era o Aaron Eckhart….são identicos…
Eu amei a resenha!!!
O texto assim como filme me renderam mtas gargalhadas!!!
Realmente foi uma ótima ideia ler críticas logo pós filme.
Kkkkkkkkkkk
Vi todos na Netflix, o primeiro é um clássico, o segundo é bem bacana, mas os dois últimos são terríveis de tão ruins.
Nem vou me dar ao trabalho de comentar essa injustiça sua.
Só digo o seguinte:
TUBARÃO 3 é um filme legal.
Ponto.
Mas você acabou de comentar! 😀
O que quis dizer foi que não me darei ao trabalho de comentar o por quê da injustiça dele. Foi isso. 😀
Eu amei a resenha!!!
O texto assim como filme me renderam mtas gargalhadas!!!
Realmente foi uma ótima ideia ler críticas logo pós filme.
Kkkkkkkkkkk
Eu já gosto do tubarão 3. É claro que passa longe do primeiro. Mas não acho ruim.
Poxa, que injustiça!!!!!!!!!!!!!!!
Eu adoro esse filme!!!!! Assistia direto quando era pequeno – claro que pulava o momento em que o corpo mutilado aparecesse, porque morria de medo – e gostava muito da sequência de pânico no parque – ainda gosto muito!!!!
Acho uma injustiça criticar um filme tão legal como esse, que apresenta uma trama diferente dos filmes de peixes assassinos e efeitos especiais destacáveis – principalmente o tubarão-fêmea.
A sequência do ataque de FitzRoyce é simplesmente a melhor do filme – e a mais sufocante – e depois, mostrá-lo inteiro na boca do tubarão-fêmea, é um toque legal, porque ele não foi comido, entrou inteiro na boca do tubarão e não foi engolido!
Perdoem-me, mas, TUBARÃO 3 é a minha sequência favorita do Clássico de Spielberg.
Sem contar que, ler e dizer TUBARÃO 3, é legal pra caramba!!!!
Pensem novamente, assistam o filme novamente, não com olhar de críticos, mas, com olhar de espectadores!!!!
NOTA 9,5/10,0
Esse filme é muito ruim mesmo. Mas também acho que o pior é o Tubarão – A Vingança!
A propósito, o ator que interpreta o “caçador” também fez aquele seriado Manimal, do professor que se transformava em vários animais, que passava na “sessão aventura” nas tardes da Globo.
A nivel de curiosidade o Dennis Quaid e o Louis Gossett jr. se redimiriam dessa bomba juntos em Inimigo meu uma classica ficcao cientifica da sessao da tarde
Este filme é ruim, mas Tubarão 4: A vingança é muito pior, não tem nada de interessante em Tubarão 4.
Olha, sou da época em que esse filme passava sempre na Sessão da Tarde e não sei não se não é pior do que o quarto, heim…