As Mulheres dos Filmes de Terror

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Há aqueles que acreditam que as mulheres merecem muito mais do que um único dia ao ano para homenageá-las. Não é fácil aguentar as manias masculinas, os vícios, gostos peculiares e, até mesmo, em alguns casos, a ingratidão. A situação torna-se pior quando se trata de mulheres de fãs ou mulheres fãs de filmes de terror.

Quem é viciado(a) em filmes de terror, mas a companheira não compartilha do mesmo gosto, tem a árdua missão de fazer com que elas tenham a disposição de assistir às produções mais bizarras do gênero. Muitas vezes aquela comédia romântica que poderia despertar o libido do relacionamento é trocada pelo som agonizante de uma motosserra, dos gritos desesperados de uma vítima, pelo sangue em profusão invadindo a tela, escorrendo pela TV.

Sim, as mulheres merecem o céu…mas há quem insista em lhes mostrar o inferno! E quando são elas que resolvem mostrar seu lado infernal, o terror parece ganhar contornos mais elegantes e também agressivos.

Este artigo tem o objetivo de listar a presença feminina nos filmes de terror diversos. Assim, segue uma pequena homenagem e ao mesmo tempo inspiração na busca de uma boa produção do gênero.

Mulheres Vingativas

Não é por acaso que o filme A Vingança de Jennifer também tem o título Day of the Woman. Nele a protagonista é estuprada, agredida, humilhada…mas tem o seu dia de vingança! Ao grande estilo que ela merece, acompanhamos com prazer a morte violenta dos homens que um dia a fizeram sofrer. Além de conter uma ótima mensagem para esses covardes agressores, o filme de Meir Zarchi é um manual de apoio às mulheres que vivem sendo ameaçadas por indivíduos inferiores…O gênero também apresentou outras “Jennifer” aterrorizantes, como aquela que só tem um “ene“, dirigida por Dario Argento em “Mestres do Terror“, que se alimentava de animais e pessoas, menos daqueles que a adotavam; Jennifer também está no remake no estilo Jogos Mortais misturado com horror oriental intitulado Doce Vingança. Outras mulheres vingativas como a Frigga, de Thriller, de 1974, Carrie, a Estranha, de Stephen King, e até a Noiva, de Kill Bill merecem menções honrosas para mostrar que nunca devemos brincar com elas.

Mulheres-Bicho

Clássica produção de Paul Schrader, de 1982, A Marca da Pantera traz a belíssima Nastassja Kinski transformando-se lentamente numa criatura violenta, depois que descobre o amor. Com uma linda fotografia, principalmente nas cenas iniciais e finais, o filme é um remake de um clássico, mas bem superior como ótima fantasia gótica, que explora a beleza feminina em comparação à da pantera, um dos mais incríveis e velozes felinos. A mulher aqui não é indefesa, incapaz de se proteger, pois esconde um lado agressivo e charmoso na metáfora de um animal selvagem. Além de Irena, destaca-se no gênero a trilogia Possuída, com Brigitte e Ginger, que se envolvem na velha maldição das criaturas que amam a Lua Cheia – duas irmãs que atravessam os séculos encarando o mal enquanto deixam a puberdade. Roger Corman também deu uma contribuição ao estilo ao dirigir o trash A Mulher-Vespa, de 1959; também é bastante lembrada a “mulher-gato” de Sonâmbulos, chamada Mary Brady e interpretada por Alice Krige, nesse longa baseado em Stephen King.

Mulheres Endemoniadas

Um Drink no Inferno está na minha lista dos melhores filmes de vampiros contemporâneos lançados no gênero. Contando com um elenco sensacional, incluindo o próprio Quentin Tarantino, como um assassino estuprador, esta produção de 1996 traz uma das cenas mais sensacionais do cinema moderno, quando a atriz Salma Hayek faz uma dança sensual no bar Titty Twister para os convidados, com uma cobra sobre seu pescoço numa trilha literalmente de matar…ainda hoje essa cena causa arrepios, pois expõe toda a sensualidade da atriz e da personagem, uma Rainha dos Vampiros! A Santanico Pandemonium, que inspirou Tarantino e Robert Rodriguez, está no filme homônimo de Gilberto Martinez Solares, de 1973, com a freira Maria causando horrores em seu convento, enquanto é literalmente possuída pelo mal. Entre as encapetadas mulheres, não dá para deixar de lado o papel de Megan Fox em Garota Infernal, uma versão mais conhecida da jovem Tamara, do filme de mesmo nome de 2005. E a Regan, de O Exorcista, então? A Anneliese Michel que inspirou a Emily Rose

Mulheres Vampiras

Quem pensa que somente o Drácula é um vampiro sedutor vai mudar de ideia quando conhecer Carmilla, da trilogia de Karnstein, produções da Hammer com o astro Peter Cushing. Com seus vários nomes (Micarlla, Marcilla) e interpretações diversas (Ingrid Pitt, em The Vampire Lovers; Yutte Stensgaard, em Lust for a Vampire; Katya Wyeth, em Twins of Evil), a condessa é uma linda mulher, cujo charme é usado para seduzir homens e mulheres, seja para se alimentar ou transformá-los em amantes. Toda a trilogia é intensificada pelo clima gótico da sensacional produtora inglesa, com seus tons vibrantes, ambientes singulares e uma ingenuidade própria. Carmilla foi inspirada na real e poderosa Condessa Elizabeth Bathory, que viveu na Hungria entre os anos 1560 e 1614, alimentando-se de sangue para permanecer jovem! Esta também esteve em muitas produções do gênero, sempre como uma personagem misteriosa, quieta e violenta! Como não deixar de citar a Condessa Drácula, interpretada pela saudosa Ingrid Pitt, no filme que Peter Sasdy dirigiu em 1971? Também há A Filha de Drácula, lançado em 1936, de Lambert Hillyer, com Gloria Holden no papel da condessa; o de Jesus Franco, de 1972; e de José Ramón Larraz, lançado em 1975. E a não menos importante Alucarda, com Tina Romero no papel título, lançado em 1978.

Mulheres Assassinas

Personagem criada por Joss Whedon, inspirada nas fortes personagens das séries de TV das décadas de 70 e 80 como As Panteras, Buffy Summers era uma adolescente comum, com seus medos e paqueras, até ser encontrada por um sentinela que revelou seu destino como “A Escolhida“. Ela deveria passar o resto de sua vida com uma dupla identidade: estudando no Ensino Médio e enfrentando criaturas da noite. Surgiu num filme adolescente de 1992 e transformou-se no maior sucesso do gênero quando virou uma série de TV, interpretada pela atriz Sarah Michelle Gellar. Buffy veio para resgatar o poder feminino, deixando de lado o sexo frágil das mulheres, para apresentar personagens guerreiras, mas que não perdem o charme! Depois dela, teríamos diversos seriados como Dark Angel, e filmes como Ultravioleta, de 2006, com Milla Jovovich no papel principal. Entre os destaques, não pode deixar de ser lembrada a assassina mortal Nikita, de Luc Besson, de 1990.

Mulheres Fantasmas

Quem não tem medo de Sadako/Samara, a garota com seus longos cabelos negros que passa seus dias no interior de um poço imundo? E o que dizer do descer das escadas bizarro realizado pela Kayako? Sim, as mulheres também podem ser assustadoras mesmo até mesmo quando simplesmente aparecem nas fotografias e propiciam dores nas costas ou são espíritos que se escondem nas florestas. Pode surgir através de uma maldição ou serem invocadas através de brincadeiras aparentemente inocentes. E tem também a macabra e vingativa Alma/Eva, de Histórias de Fantasmas, de 1981.

As Bruxas

Só este quesito já foi mote para artigos em homenagem ao Halloween, com vários exemplos que vão além da sogra. Aqui entram a tal Bruxa de Blair, a da Floresta Negra, a russa de Viy, a Bruxa do 71, a do Pumpkinhead, as da Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, as do Convenção das Bruxas, da saga Harry Potter, Abracadabra, João e Maria, Mágico de Oz, Branca de Neve…entre muitas outras que sabem como ninguém enfeitiçar suas vítimas… Sam Raimi também brindou o público com uma divertida e terrível cigana em Arraste-me para o Inferno

Outras Mulheres

Há muitas outras grandes mulheres que tornaram o gênero ainda mais elegante! As final girls, aquelas garotas que sempre sobram nos slashers, principalmente do fim dos anos 70 e 80; as várias faces de Emanuelle, que esteve na prisão, enfrentou canibais, seduziu centenas de homens e até mudou o visual..; a apresentadora Elvira, que inspirou duas produções e os sonhos de jovens fãs de horror; as scream girls, reconhecidas pelos seus trabalhos em clássicos do estilo, nos anos 70 e 80, como Marilyn Burns, de O Massacre da Serra Elétrica; as personagens de filmes baseados em games de horror como a Jill Valentine de Resident Evil; as guerreiras como Selena, de Anjos da Noite, e as de Abismo do Medoe a não menos importante boneca Annabelle, claro.

Que outras mulheres vocês se lembram do cinema fantástico?

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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