Ted Bundy
Original:Ted Bundy
Ano:2002•País:UK, EUA Direção:Matthew Bright Roteiro:Stephen Johnston, Matthew Bright Produção:Hamish McAlpine, Michael Muscal Elenco:Michael Reilly Burke, Boti Bliss, Julianna McCarthy, Jennifer Tisdale, Michael Santos, Annalee Autumn, Steffani Brass, Samantha Tabak, Eric DaRe |
“Nós, serial killers, somos seus filhos, nós somos seus maridos, nós estamos por toda parte. E haverá mais de suas crianças mortas no dia de amanhã. Você sentirá o último suspiro deixando seus corpos. Você estará olhando dentro de seus olhos. Uma pessoa nesta situação é Deus…“. – Ted Bundy (Bill Robinson)
Theodore Robert Bundy, nascido em 24 de novembro de 1946, foi um dos assassinos em série mais notórios e um dos mais cruéis da história dos crimes violentos, fazendo um mínimo de 28 vítimas e aterrorizando mulheres entre os anos de 1974 e 1978. Seu “modus operandi“, na maioria dos casos, consistia em abusar de sua boa aparência, lábia e um gesso estrategicamente colocado no braço para atrair mulheres para uma simples ajuda em carregar alguns livros até seu carro ou coisa semelhante. Quando elas chegassem próximas de seu veículo, seriam abatidas com uma alavanca de metal e em seguida violentadas e mortas com repetidas pancadas na cabeça (não necessariamente nesta ordem).
A história que cerca o nome de Ted Bundy é uma das mais macabras, terríveis e desumanas que já aconteceram, servindo de inspiração para personagens de outros filmes e livros, mas não é de se espantar que uma “biografia” tenha sido feita sobre Bundy, neste caso um filme de 2002, que conta toda a trajetória da decadência de um ser humano aparentemente comum até se tornar um criminoso sádico.
Ted Bundy foi dirigido por Matthew Bright (de Freeway) e tem na figura do ator Michael Reilly Burke (Octopus II) a personificação do assassino. Infelizmente, apesar de seu esforço, não transpassa nem um décimo de todo o potencial e o terror que poderia (e deveria) apresentar, tornando a figura do maníaco quase caricata e, por isso mesmo, excessivamente surreal.
O filme começa mostrando Ted Bundy como um loser, ou melhor, um L-O-S-E-R, que tem desvios comportamentais cometendo pequenos delitos e mentindo compulsoriamente para sua namorada Lee (cujo nome na vida real é Meg Anders e é interpretada por Boti Bliss). Só que seu desejo crescente por mulheres mais novas a maioria com longos cabelos (fato este nunca explicado pelo roteiro da maneira como deveria, pois Bundy costumava matar mulheres parecidas fisicamente com sua mãe) o faz cometer alguns atos despudorados de “menor impacto” como se masturbar em lugar público – esta introdução tem um efeito cômico desagradável que não é compatível com o restante da história.
Enfim, Bundy sente-se frustrado, começa a dirigir seu fusca a esmo até encontrar uma mulher andando pela rua. O homem então pára seu carro, a agride sem motivo aparente e leva sua bolsa. A adrenalina proporcionada pelo primeiro ataque excita o futuro maníaco, e daí para passar a matar é um pequeno passo…
Bundy é um cidadão perfeito, acima de qualquer suspeita, inclusive atuando como voluntário em um centro de apoio por telefone. Mas, Lee começa a sentir mudanças no até então pacato parceiro: sua forma de agir e fazer sexo são cada vez mais agressivas. Bundy então invade sua primeira casa e faz a primeira vítima, desferindo vários socos na cabeça enquanto dormia.
A partir daí fica até um pouco chato de comentar, basicamente durante os próximos 50 minutos mais ou menos, intercalam a estafa e os atritos de Ted com seu relacionamento “sério” com Lee enquanto a engana sobre sua “segunda personalidade” e um ataque a uma garota qualquer, que é tão rápido que não dá tempo de criar empatia por elas.
Finalmente quando os gritos incessantes de “FUCK YOU — BITCH!!!” proferidos por Ted cansarem seus ouvidos, Bundy será preso pela primeira vez, fugirá e será preso novamente, contado de uma maneira estúpida que não combina totalmente com o que realmente aconteceu. Claro que a história prossegue e vai além com a segunda fuga e o ataque mais violento realizado por Bundy em 1978 onde quatro estudantes de uma fraternidade na Universidade Estadual da Flórida foram atacadas e duas morreram, entretanto nem este brutal ataque ganha destaque no filme – a passagem é encoberta por várias incoerências e mortes off-screen.
Como o roteiro escrito por Stephen Johnston e pelo próprio diretor Matthew Bright já estava “quase pronto” por se tratar de uma história real, bastava que Bright desse o direcionamento correto para a trama, no entanto isso não aconteceu. Ao utilizar como ponto de vista a versão do assassino e a degradação de sua personalidade, o suspense é quebrado e a exceção de uma ou duas cenas de impacto não causam o efeito desejado, poupando em violência, desperdiçado por tabela o trabalho do grande Tom Savini que ainda faz uma ponta no filme. Além disto Ted Bundy é uma prova cabal de que a escolha de uma trilha sonora equivocada inserida no momento errado do filme ajuda a atrapalhar resultado final: por várias vezes são inseridas músicas alegres em momentos de maior tensão, o que deveria simbolizar uma ironia se transforma em um ponto de interrogação na cabeça do espectador.
A direção também é culpada por enrolar a trama demais, atendo-se muito em detalhes desnecessários da trama (passar quase 3 minutos de filme mostrando a colocação de algodão no traseiro de um condenado a cadeira elétrica é dose) e esquecendo de focar alguns pontos fundamentais como as duas fugas de Bundy, o espetáculo do grotesco que foi o julgamento, a verdadeira influência das mulheres em sua vida que o tornaram um assassino, entre outros detalhes que tiram qualquer chance do espectador se interessar pela verdadeira história.
E nesta combinação indigesta está o ator Michael Reilly Burke. Além de parecer completamente deslocado no filme, sua interpretação durante a introdução já mostra como não se deve retratar um serial killer, colocando Bundy como um ladrão de árvores ornamentais e televisões em exposição que com seu fusca – lembra muito mais um episódio de Mister Bean do que um sádico e frio psicopata. O Bundy do cinema é superficial e insosso, retratado como um retardado mental que nem de longe lembra a complexidade da personalidade de Bundy.
Se fosse para resumir em duas palavras o filme Ted Bundy ele seria “incompleto” e “incoerente“, um retrato porco, simples assim. Se quiser saber pra valer sobre a real natureza de Ted Bundy, esqueça o filme e busque nas artes escritas, pois existem a disposição diversas literaturas e sites dedicados ao assunto que, ao contrário do filme, não se preocupam em amenizar detalhes que mostram o quão louco e perverso pode ser um ser humano.
Curiosidades sobre o filme:
– Os atores Rob Lowe, Peter Saarsgard e Kiefer Sutherland receberam convite para o papel de Ted Bundy. Todos eles se recusaram devido a natureza da personagem, mas, convenhamos, que seria interessante ver Jack Bauer como Ted;
– Fotografias do verdadeiro Ted Bundy foram inseridas nos créditos de abertura e encerramento do filme, além de trechos de algumas matérias jornalísticas reais da época;
– Os nomes das vítimas no elenco são ficcionais, ou seja, diferentes das vítimas reais de Bundy;
– Foi oferecido um papel no filme para o garoto Cameron Bright (X-Men 3 e O Enviado), mas ele e sua mãe não quiseram que seu nome fosse associado a um serial killer;
– O orçamento foi estimado em 1,2 milhões de Dólares.
Curiosidades sobre Ted Bundy:
– O autor Thomas Harris, com o auxílio de um passe de imprensa, esteve na corte durante um dia do julgamento em 1979. Neste dia foi debatida a marca de mordidas de Bundy em uma de suas últimas vítimas e assim Harris se inspirou na criação da personagem Francis Dolarhyde no seu livro “Dragão Vermelho“, além disto o assassino “Buffalo Bill” de seu livro “O Silêncio dos inocentes” é parcialmente inspirado em Bundy;
– No filme Psicopata Americano, Christian Bale, que interpreta o assassino Patrick Bateman, faz referência a Ted Bundy perguntando a uma amiga se ela sabia que Bundy tinha uma cachorra chamada Lassie;
– Diversas bandas de Rock e Metal possuem músicas inspiradas em Ted Bundy entre elas Jane’s Addiction (utilizando inclusive trechos da voz de Bundy), Aborted, Church of Misery (que tem uma capa de disco inspirada em Bundy) e Combichrist;
– O vocalista da banda Korn, Jonathan Davis, comprou o fusca original onde Ted Bundy cometeu a maioria de seus crimes como parte de sua coleção de itens relacionados a serial killers;
– Em um episódio do desenho South Park, que foi ao ar em 25 de outubro de 2006, Ted Bundy é descrito e satirizado como um dos três patetas. Os outros dois são os assassinos John Wayne Gacy e Jeffrey Dahmer;
– Outras três “biografias” de Ted Bundy foram produzidas para a televisão estadunidense nos anos de 1986, 2003 e 2004 onde os atores que interpretaram Bundy foram respectivamente Mark Harmon (do seriado NCIS), Billy Campbell (Drácula) e Cary Elwes (Jogos Mortais).
“O Bundy do cinema é superficial e insosso, retratado como um retardado mental que nem de longe lembra a complexidade da personalidade de Bundy.”
É bem por aí mesmo.
Os únicos momentos que se salvam é aquela cena onde Bundy amarra sua namorada para transar com ela e a cena do algodão. E olha lá…
Você cita “outras três ‘biografias’ de Ted Bundy foram produzidas para a televisão estadunidense nos anos de 1986, 2003 e 2004 onde os atores que interpretaram Bundy foram respectivamente Mark Harmon (do seriado NCIS), Billy Campbell (Drácula) e Cary Elwes (Jogos Mortais)”. Desconhecia essa informação, então procurei por cópias, pois tenho coleção de filmes (e uma específica sobre serial killers). Entretanto não encontrei nada a respeito, nem na filmografia desses atores existe essa informação. Pode me informar o nomes desses filmes?
Oi, respondendo pelo autor, as obras são: The Deliberate Stranger (1986), The Stranger Beside Me (2003) e The Riverman (2004).
Não foram lançadas no Brasil, então não possuem título nacional.
Obrigado!
Antes de tudo, muito obrigada! Os 3 filmes foram feitos para a TV, então é um pouco difícil encontrar, mas já estou providenciando. O primeiro, com Mark Harmon, parece ser o melhor. O terceiro não é sobre Ted Bundy, ele é um dos personagens.
Muito obrigada!
Concordo que o filme é incompleto e incoerente, mas o filme não é de todo o ruim. Aliás, o começo do filme é tão ruim que não me gerou expectativa nenhuma pro restante do filme e depois o filme foi melhorando (ficando mais pesado).
De fato o ator não entrega tanto quanto se espera, mas apesar disso, o filme trás algumas cenas bem pesadas.
“Além disto Ted Bundy é uma prova cabal de que a escolha de uma trilha sonora equivocada inserida no momento errado do filme ajuda a atrapalhar resultado final: por várias vezes são inseridas músicas alegres em momentos de maior tensão, o que deveria simbolizar uma ironia se transforma em um ponto de interrogação na cabeça do espectador.” Concordo totalmente, ficou bem mal feito aquele trecho em que o som alegre era pra ironizar (ou contrastar) com as cenas pesadas. Ficou meio trash pastelão enrustido kkkk.
Achei a cena do algodão legal (até pq eu não conhecia essa técnica usada nos detentos que iam pra cadeira elétrica), mas de fato, outras coisas deveriam ser priorizaras.
Por fim, acho que a nota foi justa (talvez, com mais boa vontade a nota poderia ser 2.5, mas 2 tá correto)