Scanners 2 - A Força do Poder
Original:Scanners II: The New Order
Ano:1991•País:Canadá Direção:Christian Duguay Roteiro:B.J. Nelson Produção:René Malo Elenco:David Hewlett, Deborah Raffin, Yvan Ponton, Isabelle Mejias, Tom Butler, Raoul Max Trujillo, Vlasta Vrana, Murray Westgate |
“Este poder não o torna bom, só poderoso. E me deixa com fome. Vou devorá-lo bonitão…”.
Peter Drak para David Kellum
No tempo em que a ordem do dia nas grandes e pequenas produtoras de filmes era “se um filme fizer sucesso, faça uma franquia” (porque hoje também tem o “se um filme for bom, faça um remake“..) várias tranqueiras tiveram frutos em produções de alto calibre como é o caso de Scanners.
A obra cultuada de David Cronenberg obviamente não poderia sair impune de produtores inescrupulosos e sua sede por dinheiro, assim gerando uma cinessérie com quatro filhos bastardos e, como era de se esperar, todos inferiores ao original.
Dez anos depois do lançamento do original sai Scanners 2, dirigido por Christian Duguay (Screamers) com roteiro de B.J. Nelson.
Sinceramente, quando fui assistir pela primeira vez, peguei o filme com a chave de preconceito ligada, pensando que veria uma bomba ou uma piada sem graça, mas, para a minha surpresa, não foi bem assim. O filme é realmente muito fraco e não incorpora quase nada ao universo criado por Cronenberg, no entanto não o desrespeita e é perfeitamente assistível.
O filme começa com um scanner, sujo e esfarrapado como mendigo, fugindo da polícia e entrando em uma loja de fliperamas. Então, após comer alguns salgadinhos, ele rouba uma ficha e começa a jogar um jogo de tiro. Empolgado, passa a controlar o jogo a distância usando o poder da mente. Aumentando cada vez mais a força, logo ele perde o controle e causa uma confusão no local e foge para um depósito de manequins, onde é capturado pela polícia com o auxílio do tenente Gelson (Vlasta Vrana, que apareceu em vários filmes, entre eles Calafrios e Rabid, ambos de Cronenberg) a comando do Comandante John Forrester (Yvan Ponton).
Acharam a introdução acima parecida com a captura de Cameron Vale no primeiro filme??? Eu também…
Mandado para o Instituto Morse de Pesquisas Neurológicas (que não tem a menor diferença de uma clínica normal) comandada pelo Dr. Morse (Tom Butler, que pode ser visto em Freddy vs Jason) ficamos sabendo que o capturado chama-se Peter Drak (Raoul Trujillo, Highlander 3 e Frankenfish) e que Morse está testando uma nova droga, para reprimir o poder dos scanners e obter controle sobre eles, porém a droga tem um efeito colateral: causa dependência. A droga é chamada de EPH-2 e é uma evolução da EPH-1, que Dr. Morse, em suas experiências, transformou uma horda de scanners em verdadeiros viciados, mantidos em cativeiro no laboratório. O vício é tanto que todos os dias alguém fornece a droga para saciar sua dependência.
O comandante Forrester, aliado ao Dr. Morse, pretende usar os scanners em um plano de escalada do poder (pouco criativo por sinal) e implantar uma “Nova Ordem” social (do título original do filme), mas não pode contar com a droga para controlar os scanners já que os torna praticamente zumbis. Então eles precisam de, segundo os termos de Forrester: “um scanner limpo, de mente virgem”
E corta para a ponte Golden Gate, e conhecemos nosso scanner bonzinho chamado David Kellum (David Hewlett, de Cubo e de Boa vs. Python). Ele é um estudante de veterinária, que arruma rapidinho um caso com a gatinha Alice Leonardo (Isabelle Mejias). Quando eu digo rapidinho, é rapidinho mesmo, em uma cena eles se conhecem e dois minutos depois já estão íntimos e se beijando…
Acontece que convidado para jantar, nosso amigo David vai às compras com sua nova namorada. Dois violentos assaltantes invadem o local (usando máscaras ridículas), matam uns e fazem Alice de refém – desnecessário dizer que David se enfurece e usa suas habilidades para dar cabo dos meliantes enquanto tudo é gravado pelas câmeras de segurança.
Ferida, Alice é mandada para um hospital e Forrester, assistindo à fita, toma conhecimento do “scanner de mente virgem” (!!!).
Como você pode imaginar, Forrester busca por David e convence-o a abraçar sua causa após ambos pegarem um criminoso responsável por envenenar crianças, fazendo uns servicinhos de scanner, e o resultado você já deve ter visto milhares de vezes: arrependimento, busca pela verdade e depois tentar desfazer e impedir os planos do vilão.
Em sua busca pela verdade, David vai à casa dos pais sem saber que é perseguido por Drak e Gelson e onde é esclarecida a ele toda a história sobre o Ephemerol que já sabíamos. Ali acontece a única ligação deste com o primeiro filme:
Início de SPOILERS
David fica sabendo que é adotivo e na verdade é filho de Cameron Vale e Kim Orbist, os protagonistas do Scanners original, e ainda por cima tem uma irmã, Julie Vale (a gata Deborah Raffin)
Encontrando a irmã, David descobre que ela teve um noivo scanner e resolve voltar e terminar com toda a trama de Forrester e Morse.
Fim de SPOILERS
A partir daí o filme parte para os previsíveis confrontos homem-scanner e scanner-scanner com um final feliz e sem sal, deixando um ar de decepção.
Dois dos grandes defeitos do filme estão relacionadas à interpretação e construção dos personagens: David Hewlett se esforça, porém seu personagem é pobre, dono de uma bondade blindada que chega a irritar; o comandante Forrester de Yvan Ponton é verborrágico e inexpressivo, entretanto de longe Peter Drak é o pior: além de ter as falas mais ridículas do filme, como a reproduzida no início deste texto, Raoul Trujillo faz tantas caretas e exagera tanto no personagem “scanner viciado-maluco” que se fosse interpretado por Jim Carey não faria a menor diferença.
A produção tem seus bons momentos de violência e gore como no original e por ser mais moderno chega até a convencer, porém acaba parecendo que o dinheiro para a maquiagem acabou nas últimas cenas. É ver pra crer.
Duguay também transparece em certos momentos o pouco orçamento disponível, como o laboratório do Dr. Morse, que é vazio e tem apenas uns monitores e osciloscópios ligados – pra ficar bem podre só faltaram àquelas lampadinhas inúteis piscando.
Entretanto a maior aberração de continuidade é a cena em que Drake força o chefe da polícia a se matar com um tiro e o impacto joga o corpo contra a janela. Seria normal, se não fossem TRÊS camadas de vidro em uma ÚNICA janela e visivelmente filmada em outro estúdio.
Mas sem dúvida o maior problema do filme é a falta de ousadia: o roteiro não tenta inovar, e não tem reviravoltas ou revelações bombásticas como no primeiro filme e a direção nunca chega a criar um clima realmente tenso ou desconfortável. Duguay é burocrático e segue a cartilha direitinho, mesmo que não comprometendo, está muito aquém do que Cronenberg fez.
Infelizmente, Duguay e Nelson avacalhariam de vez em Scanners III, mas essa é uma outra história.
Resumindo: se você for um fã da série pode assistir sem medo de ser feliz, mas não espere grande coisa. No Brasil o filme foi lançado em VHS pela TransVídeo e em DVD pela Califórnia Filmes com o tenebroso subtítulo A Força do Poder e dá um pouco de mão de obra pra achar.
Momento de cultura inútil: os scanners estão mais poderosos no segundo filme. A tagline do primeiro indica “20 segundos – você explode“, já a tagline nacional do segundo diz “15 segundos – você explode“. É um aumento de 25% no poder!! Incrível, não??
Novos Poderes
Como dizia Darwin, evoluir é preciso (se não for isso, é quase isso). E com os Scanners é a mesma coisa. Neste filme nossos mutantes favoritos aprendem novas utilidades e desenvolvem novas habilidades para seus poderes. Confira o que há de novo em Scanners 2:
Enxergar com os olhos alheios: para entrar desapercebido no laboratório do Dr. Morse, Julie ensina a David uma nova técnica. Controlando a mente do tenente Gelson ele passa a ver o que ele vê, mas têm um efeito colateral. O “Scaneado” fica com a íris branca parecendo um zumbi.
Scaneamento remoto: Não são apenas computadores que podem ser acessados remotamente por scanners. David descobre que as pessoas também. Usando o tenente Gelson como câmera de vídeo, Julie vinga-se do Dr. Morse pelo que ele fez ao seu noivo.
Cura veterinária: Essa não dá nem pra comentar aqui…
Um bom momento: David tomado por um acesso de raiva explode a cabeça de um dos assaltantes do mercado que feriu sua namorada. A cena é gráfica e bem filmada.
Mas sua cabeça pode explodir quando: David em sua impenetrável bondade cura um cachorrinho sofrendo com dor de cabeça (?!?!) usando suas habilidades de scanner e depois dá o filhotinho para sua namorada Alice.(Que meigo… blergh…).