Passageiros
Original:Passengers
Ano:2016•País:EUA Direção:Morten Tyldun Roteiro:Jon Spaiht Produção:Stephen Hamel Elenco:Chris Patt, Jennifer Lawrence, Michael Sheen, Laurence Fishburne |
O que a solidão e o isolamento podem fazer a uma pessoa? Sentimentos e condições que já foram retratadas em diversas vertentes narrativas do cinema, desde Taxi Driver, de Martin Scorsese, até Wall-E, de Andrew Stanton, a solidão pode afetar seriamente a sanidade da pessoa ou talvez possa ser um momento de reflexão, com a possibilidade dela se encontrar. Neste conto de fadas sexista travestido de ficção, a solidão é o motivo que leva o personagem Jim a fazer o que faz. O roteirista John Spaihts perdeu uma grande oportunidade de narrar uma história sobre escolhas e consequências, mas preferiu criar soluções inverossímeis, que não condizem com o cenário atual do cinema, quando falamos de personagens femininas.
A trama é a seguinte: Jim (Chris Pratt) é um passageiro de uma nave que segue em direção a uma planeta colonizado por uma empresa terráquea. Porém a viagem é longa e os passageiros (cerca de 50) são congelados até chegarem em seu destino. A cápsula de Jim falha, e ele acorda 90 anos antes do programado. Sem conseguir comunicação imediata com a terra, sem acesso aos comandantes da nave, e sem condições de voltar a sua cápsula, Jim tenta segurar a onda, e passa a maior parte de seu tempo de papo com Arthur (Michael Sheen), o garçom robô que acaba virando seu único amigo. Porém Jim vê a cápsula de Aurora (Jennifer Lawrence) e se apaixona a primeira vista.
O primeiro ato é interessante. Chris Patt, que está bem à vontade em Guardiões da Galáxia, aqui, em um papel com uma carga dramática maior, acaba sendo discreto quando não deveria ser. Mas quem se destaca é Michael Sheen com o robô garçom Arthur – as cenas entre os dois me parecem uma referência ao filme O Iluminado, que, sinceramente, não vi nenhum sentido. Quando a personagem Aurora entra em cena, a coisa começa a desandar. O filme parte para um romance bobo, totalmente desinteressante e sem química entre os envolvidos. A óbvia situação que se desenrola é talvez o caminho que o filme pudesse seguir e se tornar novamente interessante, levantando uma polêmica sobre a escolha de Jim, e as consequências da mesma.
A reação de Aurora é natural, e desenha uma espécie de final trágico. Em paralelo a toda essas subtramas que se desenrolam, a nave começa a apresentar falhas, e entra em cena o Capitão Gus Mancuso (Laurence Fishburne), que tem uma breve e desnecessária participação, no momento em que a trama se perde. O personagem de Gus é inserido apenas para criar um ponto de virada, que vai mudar o rumo das relações entre os personagens. Tudo a partir daí é jogado de maneira desleixada e totalmente desconexa com a realidade. Jim assume uma figura de herói salvador, que não conseguiu detectar o que seria um simples problema em sua cápsula (segundo Gus), mas conseguiu descobrir como consertar um reator gerador de energia.
Como citei no início dessa crítica, vivemos em um cenário, onde a mulher assume uma figura forte, independente, e recentemente esse papel se intensificou com a morte de Carrie Fisher, que já representava e muito bem uma personagem que se encaixa nessas características. Aqui a personagem de Aurora, interpretada bem preguiçosamente por Jennifer Lawrence, assume o papel da “Bela Adormecida”, que fica ali como uma espécie de objeto de desejo, para uma mera fantasia masculina, que o roteiro tenta transformar em uma história de amor. Veja que Lawrence se destacou no cinema com sua personagem na trilogia Jogos Vorazes, que é totalmente oposto do que vemos aqui.
O diretor Morten Tyldun, que já havia dirigido os bons HeadHunters e Jogo da Imitação, cumpre seu papel em conduzir o filme de acordo com o que o roteiro lhe proporciona. A parte técnica é impecável, os efeitos são eficientes, porém a narrativa desastrosa e os desleixos do roteiro são tantos, que não dá pra ser salvo por nenhuma das poucas qualidades do filme.
Uma tentativa frustada de emplacar um conto de fadas futurista, o filme não dá espaço a nenhuma reflexão para os motivos das escolhas dos personagens. As informações são jogadas em diálogos cansativos e nem um pouco interessantes (salvo algumas aparições de Arthur), e o resultado final é apenas mais um filme que falha e feio no que se propõe.
Assisti ao filme recentemente e, honestamente, não consigo enxergar a coisa machista/feminista/mimimi que li aqui e na crítica de um outro blog escrito por uma moça (como seria interpretado se Aurora acordasse primeiro e despertasse ele?).
Para mim o filme É um romance que foi ambientado no espaço sideral, e partindo disso, considero um dos melhores filmes da categoria que assisti ultimamente.
E é interessante como em tantos supostos “críticos” eu não vi ninguém falar da mensagem principal do filme: Viver da melhor forma possível com o que se tem no momento.
E a segunda mensagem também importante: O ser humano nasceu para viver em sociedade, é impossível ficar completamente sozinho durante muito tempo sem perder a sanidade. Dentro desse quesito, acredito que ele ter despertado a Aurora foi a melhor tentativa para não pirar (fora todo questionamento com ele mesmo por saber que estava ERRADO fazer isso – ele NUNCA fez isso de forma aleatória ou prazerosa como o texto acima dá entender).
Dentro do seu texto tem algumas coisas erradas: A nave Avalon leva 5000 passageiros (não 50) e mais 268 tripulantes.
O personagem Gus PRECISAVA aparecer para eles terem acesso a locais onde as credenciais de passageiros não permitiam (ele não criou o ponto de virada, quem fez isso foi a própria Aurora quando ouve a mensagem de despedida de sua melhor amiga e resolve ver com outros olhos o que aconteceu – fora já estar apaixonada pelo Jim e lutando internamente com isso).
Fora de questão acordar a tripulação, pois uma vez saindo da hibernação, não é possível adormecer novamente (como é explicado pelo personagem Jim Preston em conversa com Aurora, pois existe uma série de protocolos e ações que são feitas antes de entrarem nas cápsulas).
Como você bem falou no comentário acima, críticos não são responsáveis por formar a opinião das outras pessoas, mas seria muito interessante encontrar realmente uma crítica IMPESSOAL, pois lendo o texto acima qualquer pessoa que ainda não tenha visto o filme pensará se tratar de um manifesto espacial machista, e o filme não é nada disso.
SPOILEEEER
O mais revoltante pra mim desse filme foi o final, o roteirista pegou um caminho totalmente sem lógica. Os caras consertaram a nave e agora tem acesso as cabines de controle. Por que não acordar o engenheiro responsável a bordo e deixar ele resolver o problema? Ou mesmo o capitão? Nãaao, vamos ficar acordados na nave, gastar boa parte dos recursos durante anos e anos e quem sabe até atrapalhar a futura colonização do planeta. Pense! Super verossímil. Eu já teria acordado eles a tanto tempo….
E outra falha grave: que nave com 5000 pessoas tem apenas UMA ENFERMARIA com UM LEITO? Por favor, né?
Li em um site algumas críticas feministas aos papéis desempenhados neste filme.
Extremismos a parte (na crítica citada, achei alguns pontos ou pouco exagerados), acredito que um questionamento que fica sobre o filme (pelo q pude perceber mas resenhas) é sobre os direitos que nós homens [achamos que] temos sobre a vida dos outros. Em particular, sobre a vida e a liberdade feminina.
É isso, Caio. E já vi uma galera achando que isso é amor…
Alerta de Spoilers
Olá Caio – esse é o ponto que citei que o filme podia ter levantado e ter criado um caminho mais interessante, tratando o assunto como deveria ser tratado – mas o roteiro jogou isso como uma história de amor – incomoda e muito a aceitação da personagem feminina a situação colocada da maneira que foi.
PASSAGEIROS é um despretensioso filme que acaba roubando nossa atenção não por seus efeitos ou pela densidade de seus diálogos, mas exatamente pela leveza de suas interpretações. A beleza e o encantamento de Aurora (Jennifer Lawrence) e os mesmos atributos de Jim (Chris Pratt), não são os únicos atributos de uma história que poderia ser apenas mais uma de amor.
Há uma dramaticidade envolvente, algo que nos fixa na narrativa e nos faz torcer que tudo acabe bem.
Contudo, como acabar bem numa situação daquelas? Só assistindo, o espectador vai ver os conflitos que envolvem a trama em questão.
A queridinha de Hollywood rouba algumas cenas com expressões e carga emotiva sem ser Katniss Everdeen, nem tão pouco Tiffany Maxwell. Já Pratt, longe das piadinhas de seus outros personagens, não faz por menos, entrega-se aos clichês de um homem apaixonado, tornando sua atuação cativante.
O futurismo em que o filme é ambientado surpreende exatamente por não se tratar de um filme de ficção científica, mas de um romance literalmente das estrelas. É um ótimo filme que fala de amor, que discute temas interessantes de maneira clara e objetiva, sem metáforas confusas, nem com uma carga crítica pesada.
Achei muito perturbadora essa sua crítica, o que para você realmente é o trabalho de um critico? Pra mim é analisar qual a ideia do filme, e como ela transmite essa ideia, o filme é um drama/romântico, um dos melhores na minha opinião por explorar diversos sentimentos que estão fora da nossa realidade como a culpa que o protagonista sente ao roubar a vida da moça. A crítica carrega muita carga de opinião pessoal em muitos momentos do texto. Eu amo o trabalho do blog e sempre estou acompanhando, mas trazer uma crítica sobre um filme de romance foi meio despretensioso da sua parte.
Um erro (ou não) dos diretores do filme foi trazer atores com grandes nomes para a atuação! Isso também trouxe muita expectativa por parte de todo mundo.
Estarei sempre por aqui no blog! Um abraço e deixo aqui minha opinião sobre sua crítica e sobre o filme! Desejo sucesso ao blog!
Olá Alex,
obrigado pelo seu retorno e pelo debate que propôs – Vejo Passageiros como uma Ficção Científica com um romance embutido – e não apenas como um romance – quando você assume que encaixa apenas no romance, você está descaracterizando o gênero que o filme propõe e vende.
Sobre minha crítica ser “perturbadora”, sinceramente não entendi – não vejo nada de errado e não gostar um filme – o que pode ser ruim pra mim pode ser bom pra você, ou vice-versa.
Outra questão que você levantou foi sobre “O Papel do Crítico” – vou citar o trecho de uma publicação do crítico norte-americano Roger Erbert – “Ele não tem as respostas, mas pode ser um exemplo do processo de se descobrir suas próprias respostas. Ele pode notar detalhes, explicá-los, situá-los em um grande número de contextos, refletir sobre por que alguns ‘funcionam’ e outros jamais poderiam funcionar. Ele pode incentivá-lo a ver filmes mais antigos para expandir o contexto no qual você situará os mais recentes. Ele pode examinar como os filmes tocam vidas individuais e podem ser construtivos ou destrutivos. Ele pode defendê-los e enxergá-los como algo importante em contraponto àqueles que “só querem se divertir”. Ele pode argumentar que você se divertirá mais com um filme melhor. Todos temos um número desconhecido mas finito de horas de consciência. Talvez um crítico possa ajudá-lo a gastá-las de maneira mais significativa.”
Não é a função do crítico formar a opinião do Leitor, mas sim, mostrar detalhes do filme, argumentar sobre os mesmo, dentro de sua visão, de maneira a nortear o leitor a ter uma experiência melhor ao ver o filme e não apenas se entreter, mas refletir sobre.
Espero ter esclarecido minha posição nesse texto e quanto a suas colocações sobre o mesmo
Abraços