Grito de Horror 5: O Renascimento (1989)

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Grito de Horror 5: O Renascimento
Original:Howling V: The Rebirth
Ano:1989•País:UK
Direção:Neal Sundstrom
Roteiro:Freddie Rowe, Clive Turner
Produção:Clive Turner
Elenco:Phil Davis, Victoria Catlin, Elizabeth Shé, Ben Cole, William Shockley, Mark Sivertsen, Mary Stavin

“Por 500 anos o segredo esteve domado…até agora!”

Sempre que a Lua Cheia surge no céu, os lobisomens povoam o imaginário dos amantes do sobrenatural. Quando isso acontece, a única certeza que temos é que em algum lugar alguém está sendo devorado por uma dessas criaturas lendárias. Não é fácil alimentar a enorme quantidade de pessoas que buscam todo mês contos, lendas, livros e histórias relacionadas à lendária criatura do horror. Muitos foram os autores e cineastas que tentaram, mas a fome aumentava a medida em que os efeitos especiais tornavam os lobisomens ainda mais realistas. Um dos grandes contribuidores para o subgênero foi o cineasta Joe Dante, que, no início da década de 80, desenvolveu o absoluto Grito de Horror, com uma leve inspiração na obra literária The Howling, de 1977, de Gary Brandner.

Desenvolvido como um conto de horror conduzido em um vilarejo macabro, o longa tornou-se reconhecido pela quantidade de exemplares expostos na tela, em um festival de transformações impressionantes, muito sangue e uivos de terror. Nele, o público pode acompanhar o desespero de uma jovem jornalista, Karen White (Dee Wallace) ao tentar esquecer um pesadelo numa comunidade conhecida como Colônia, sem imaginar que o ambiente estaria repleto de monstros, incluindo o causador de sua angústia. No ano seguinte, viria a continuação, Grito de Horror 2, estrelado pelo saudoso ícone Christopher Lee, atuando como um investigador do ocultismo que quer impedir que sua irmã consiga realizar um ritual macabro que fará com que todos os lobisomens se revelem. Apesar da presença ilustre do ator, o filme só consegue arrancar mais risadas do que medo dos espectadores, em efeitos precários e edição ruim, na expressão sem talento algum do diretor Philippe Mora.

Este mesmo conduziria a terceira parte, apresentando lobisomens marsupiais, que se transformam durante o dia e vivem em comunidades isoladas, sem interesse de causar atrito com os humanos. Além dos efeitos rasteiros, com criaturas de focinho branco ou face gigantesca, Grito de Horror 3 diverte um pouco mais do que a parte 2, ainda que provoque mais risos e suspiros do que medo e tensão. Apesar da inspiração no terceiro livro de Brandner, o longa seria o primeiro a não possuir relação alguma com o original, algo que se repetiria com mais intensidade em Grito de Horror 4: Um Arrepio na Noite.

Desta vez, as criaturas demoram a aparecer, com um trabalho mais intenso no terror psicológico através das visões assustadoras da escritora Marie Adams (Romy Windsor). E merece uma nota melhor pela qualidade na direção de John Hough e seus posicionamentos de câmera estilosos, além do retorno da mitologia à área rural, com um vilarejo sinistro, envolto por uma floresta de mata densa e silenciosa, atormentado pelos uivos ouvidos na madrugada. Algumas brigas nos bastidores, envolvendo o diretor e o roteirista/produtor, dificultaram o sucesso da produção, mas não evitaram o surgimento do quinto filme, o primeiro a contar com apenas um lobisomem no enredo.

Com direção de Neal Sundstrom (de Slash – Rock do Terror, 2002), aqui temos uma produção estilo slasher, estimulando o espectador a tenta desvendar o mistério proposto, numa inspiração não-creditada ao clássico A Fera deve Morrer, de 1974, dirigido por Paul Annett, e estrelado pelo astro Peter Cushing. Como a sinopse de ambos já adianta, há um lobisomem entre os convidados para um evento, e o espectador se faz presente no local como um detetive, investigando as pistas apresentadas no decorrer.

Um berço movimenta-se sozinho na escuridão ao som de uma música que abusa da repetição do mesmo acorde satânico, com uma referência discreta àO Bebê de Rosemary. Essa melodia irá acompanhar (e atormentar) o espectador sempre que algum personagem estiver sendo atacado pelo lobisomem, escondido em sombras por toda a projeção em um terror sugestivo, diferente do que fora visto nos outros filmes da franquia. A história tem início em 1489, em Budapeste, em um castelo gótico coberto por uma nevasca, onde acaba de ocorrer um violento massacre em que muitas pessoas foram mortas enquanto preparavam-se para jantar. Um casal pode ser visto ajoelhado diante das vítimas, exclamando entre lágrimas sobre o possível fim do mal. O homem enfia uma espada no peito de sua esposa e depois atravessa o próprio peito com a mesma arma. Entretanto, antes de morrer, ele escuta um bebê chorando em algum cômodo próximo e, então, diz suas últimas palavras: “Morremos em vão.

Quinhentos anos depois, nove turistas chegam à cidade para visitar o velho castelo do massacre de 1489. Eles não sabem porque foram escolhidos, mas estão animados com o convite feito pelo mal humorado conde Istvan (Phil Davis). A caminho do castelo, em um velho ônibus, descobrem que foram convidados para a reabertura do local, fechado após o famoso massacre, enquanto o veículo atropela algum animal, sem que isso adquira qualquer importância para o enredo. Entre paqueras e conversas sobre a mitologia do homem-lobo – uma manifestação do demônio para alguns – e fama, devido à presença da conhecida atriz Anna (Mary Stavin), os nove iniciam uma exploração sutil dos ambientes frios, como o professor (Nigel Triffitt), que, intrigado pelas histórias ouvidas, decide se afastar para “desvendar o mistério“, sendo a primeira vítima do monstro.

A partir daí, os convidados desaparecem, um a um, vítimas da terrível criatura e, finalmente, a justificativa do convite é revelada no último ato – embora esteja na sinopse – quando o conde diz que um dos convidados é um lobisomem e que a maldição teve início a partir do momento em que chegaram ao local do massacre. Também é revelado outro detalhe: os nove não foram escolhidos ao acaso, pois todos os convidados têm uma mancha de nascença no braço, o que permite que possam eliminar a maldição que acompanha a família. Em outras palavras, o Conde quer iniciar e finalizar o terror que acompanha as lendas do castelo, sendo que tudo poderia ser mantido como está, se ele não fizesse o nobre convite.

Se você se esquecer que se trata de um lobisomem e imaginar um assassino de um slasher oitentista verá que se trata de uma produção curiosa e com algumas boas reviravoltas, por decorrência do ambiente favorável: um castelo em sua estrutura gótica, tendo no subsolo um labirinto. Não é difícil adivinhar a identidade da criatura pelo desaparecimento de dado personagem nos momentos de ataque, mas a revelação só será feito no último frame de Grito de Horror 5: O Renascimento, quando já não houver mais a quem apontar como culpado.

Grito de Horror 5: O Renascimento é a melhor continuação do original, mesmo que não tenha relação alguma. Permite alguma diversão no mistério proposto, sem que o lobisomem tenha muita importância ao enredo de Freddie Rowe e Clive Turner. Aliás, ele nem aparece muito, não há cenas de transformação, nem grandes efeitos de maquiagem – somente na representação dos cadáveres, com os pescoços dilacerados. Vale a recomendação, portanto, pelo contexto e pela possibilidade de tentar descobrir o monstro que se esconde na pele de algum personagem discreto, com a lua servindo apenas de inspiração para os uivos da criatura.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

4 thoughts on “Grito de Horror 5: O Renascimento (1989)

  • 22/05/2018 em 01:13
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    Como um filme desse pode prestar se nem a atração principal dá as caras em nenhum momento, uma boa história que poderia ter rendido um clássico se pelo menos o lobisomem tivesse aparecido. Muito broxante essa sequencia

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  • 01/05/2018 em 22:55
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    Lembro-me quando o assisti há mais de 10 anos atrás. Apesar de não ser o melhor filme de lobisomens, sem dúvidas essa melodia me “assombrou” durante muitos anos. Só de ouvi-la já dá arrepios. Vale a pena assistir quando não se tem mais nada pra fazer e de preferência de noite pra entrar no clima do filme rsss…um clássico!

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  • 03/04/2018 em 12:25
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    A “franquia” deve ter uns 10 filmes ou quase isso. Na época do emule consegui baixar todos. A maioria foge ao início e são estórias independentes, por mais que tentem uma conexão. A exceção do primeiro, todos são bagaceiras. Gostei porque sou fã do trash, me remete ao Cine Trash da Band, entretanto são péssimos em todos os sentidos. É um filme que merece um remake.

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  • 02/04/2018 em 12:02
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    Rapaz, eu nem sabia que tinha tanto exemplares de Gritos de horror, só lembro mesmo de ter assistido o primeiro que na época junto com Bala de Prata , também conhecido com a Hora do Lobisomem foram um marco na minha infância. Depois dessa crítica vou baixar para assistir esse quinto filme.

    Vlw

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