O Sacrifício do Cervo Sagrado
Original:The Killing of a Sacred Deer
Ano:2017•País:Irlanda, EUA, UK Direção:Yorgos Lanthimos Roteiro:Efthymis Filippou, Yorgos Lanthimos Produção:Ed Guiney, Yorgos Lanthimos, Andrew Lowe Elenco:Colin Farrell, Nicole Kidman, Barry Keoghan, Raffey Cassidy, Sunny Suljic, Alicia Silverstone |
Quando estudei sobre crítica cinematográfica, tanto na faculdade de jornalismo quanto na Escola Livre de Cinema, sempre fui orientado a não utilizar 1ª pessoa, condição esta que tento utilizar na maioria de meus textos. Sempre gostei de filmes incômodos, desconfortáveis, e quando me deparo com produções que me tiram de certa zona de conforto, me permito a escrever um texto mais livre, expressando os sentimentos que aquele determinado filme proporcionou em mim, e, de maneira que consiga transmitir isso a você, leitor. O Sacrifício do Cervo Sagrado, um belo nome para mais uma obra devastadora do grego Yorgos Lanthimos, diretor ao qual vi seu primeiro filme no ano passado, na ocasião, Dente Canino, e logo após, me questionei porque demorei tanto para assisti-lo.
É interessante ver a similaridade na estética adotada por Yorgos quanto à interpretação de seus personagens, tanto em Dente Canino, como em O Lagosta, e aqui em seu mais recente trabalho: os diálogos e as expressões dos personagens (ou a falta delas) refletem quase que como seres sem vida, funcionando no automático, que, em qualquer outro tipo de enredo, soariam forçado, mas encaixam bem nas narrativas que o diretor propõe. Não significa que os mesmos não tenham sentimentos, aliás, há de enaltecer a atuação de Farrel e Kidman (e também do resto do elenco), que conseguem mesmo nessa estética, transmitir a angústia da narrativa do filme.
Não cheguei a ler a tragédia grega que inspirou o filme – Ifigênia, de Eurípedes (sobre um rei que tem que sacrificar sua filha como restituição por ter matado um cervo sagrado) – porém, assim como em Dente Canino (que foi inspirado no Mito da Caverna de Platão), Yorgos transforma essa história de uma forma mais visceral, crua. O filme acompanha o cirurgião Steven Murphy (Farrell), e sua relação com o adolescente Martin (Keoghan), filho de um ex-paciente, aparentando existir ali um tipo de amizade. Essa relação se intensifica e começamos a compreender (ou tentar) os motivos entre as partes. Após o filho caçula de Steven perder os movimentos das pernas, e apesar de não haver nenhum diagnóstico clínico que explique o motivo da doença, que só piora, a filha mais velha do protagonista começa a sofrer do mesmo mal que assolou o irmão. O filme segue em ritmo angustiante, onde Murphy tenta, ao lado da esposa Anna (Kidman), entender o que está acontecendo com os filhos. Claro que esta ameaça que se instaura sobre a família do protagonista tem a ver com a relação com o jovem Martin.
A bela e assustadora trilha sonora, presente de forma intensa durante quase todo o filme, alinhada com os enquadramentos em sua maioria constituída com planos abertos, e lentos, mas constantes movimentos de câmeras, eleva a sensação de desconforto a um patamar, onde o espectador sente que algo de muito ruim está para acontecer. Entender as ações e reações dos personagens não é mais uma opção, em meio a uma tragédia anunciada, a qual, ninguém poderá impedir.
A conclusão pessimista do filme só reflete o que o diretor constrói durante a trama, e, por mais devastadora que seja, pergunto a você leitor: o que faria naquela situação?
Não Achei essse filme de terror ele ta mais pra um drama