3.3
(4)

Noite de Lobos
Original:Hold the Dark
Ano:2018•País:EUA
Direção:Jeremy Saulnier
Roteiro:Macon Blair, William Giraldi
Produção:Eva Maria Daniels, Neil Kopp, Anish Savjani, John Schoenfelder
Elenco:Jeffrey Wright, Alexander Skarsgård, James Badge Dale, Riley Keough, Michael Tayles, Julian Black Antelope, Conor Boru, Anabel Kutay

O Alasca costuma chamar bastante atenção de roteiristas de filmes de terror. O isolamento geográfico, o frio intenso e vilarejos que passam boa parte do ano com poucas horas de sol servem como pontos de partidas para tramas do gênero. Além disso, os roteiros geralmente também trabalham com questões misteriosas por meio de lendas e folclores locais e até questões ufólogas. No meio de todas estas possibilidades sobra acompanhar o drama dos personagens que não devem apenas se preocupar com o vilão, mas com a própria posição geográfica.

O recém lançado Noite de Lobos, de 2018, segue todos os elementos do parágrafo acima, com exceção da questão ufóloga, ao trazer seu personagem principal, um forasteiro, que recebe um pedido de ajuda de uma mulher no Alasca, para uma trama repleta de simbolismo e cuja geografia está diretamente ligado com os acontecimentos. Infelizmente, pela potencialidade, o resultado não é excelente, embora esteja longe de ser ruim. Aqui temos um produto mediano, mas que pode agradar a um público específico.

Com direção de Jeremy Saulnier, de Sala Verde, Noite de Lobos acompanha o estranho caso de Medora (Riley Keough), cujo marido Vernon (Alexander Skarsgård) está lutando na Guerra do Iraque. Um dia o filho pequeno de Medora e Vernon desaparece enquanto brincava na neve do lado de fora da casa, localizada em um vilarejo no Alasca. Medora acredita que o menino tenha sido levado e devorado, nesta ordem, por lobos. Abatida, a mulher entra em contato com Russell Core (Jeffrey Wright), um escritor especialistas em lobos.

Ao chegar ao lugar, Russell parte em busca da alcateia que teria devorado o garoto. Russell logo percebe que existe algo de estranho na situação envolvendo Medora e posteriormente o marido dela que acaba por voltar da guerra após ser gravemente ferido. Ao mesmo tempo, parece existir um plano de vingança de Vernon contra a população local, além da polícia que se mostra incapaz de solucionar o mistério.

Baseado no romance escrito por William Giraldi, Noite de Lobos segue lento em sua narrativa apresentando sem correr seus personagens em um desfile de pessoas aparentemente frias. Este ponto é bastante positivo dentro da trama uma vez que permite ao público acompanhar com estranhamento tudo o que está acontecendo. Céticos, ficamos ao lado de Russell como testemunha dos acontecimentos.

O filme faz ótimo proveito da localização geográfica e do homem como elemento sombrio diante dos acontecimentos. A fotografia é bastante soturna e algumas cenas propositalmente lentas ajudam no estranhamento diante da ação.
O problema de Noite de Lobos, ou o que pode desagradar parte do público, é justamente os parágrafos que destacamos acima como interessantes. Por sua narrativa lenta, precisamos juntar as partes de um quebra-cabeça para tentar compreender seus personagens e suas ações e nem tudo vai fazer sentido de forma clara.

Neste caso, por exemplo, o título em português atrapalha bastante diante do que realmente é mostrado. Hold the Dark pode ser traduzido literalmente como Segurando as Trevas ou a Escuridão. Este título original nos coloca diante de personagens que, embora antagônicos, neste caso Russell e Vernon, parecem ter trevas internas e é por meio desta relação que o filme segue. Não necessariamente eles são pessoas ruins, mas talvez diante de situações específicas, assim como lobos que matam filhotes para se alimentarem, estes personagens podem chegar à ações extremas. No caso de Vernon, ele teve o filhote dele morto. Trata-se de um ponto interessante do filme, embora não claro e as pistas são deixadas nas entrelinhas. Estas entrelinhas conduzem ao final do filme, deixando em parte do público mais dúvidas do que respostas.

SPOILER!!!!! SPOILER!!!!! SPOILER!!!!! SPOILER!!!!! SPOILER!!!!! SPOILER!!!!! SPOILER!!!!!

A conclusão do filme mostra que na verdade quem matou o menino foi a própria Medora. Uma das possíveis explicações do final do filme pode ser compreendida como uma tentativa de impedir que as trevas do marido se espalhem no filho. Lá pela metade do filme descobrimos que, quando criança, Vernon estava muito doente e foi curado por um xamã local com óleo de lobo. Isto tornaria Vernon não uma pessoa má, mas extrema diante de situações específicas. Vemos que nas cenas de Guerra que Vernon mata o soldado que estava estuprando uma nativa.

Sabendo que a natureza do marido poderia ser transmitida para o filho, Medora decide matar o garoto. Ela foge, mas antes chama o especialista em lobos para matar o animal que levou o filho dela. Na verdade Medora parece saber que Russell iria partir para o embate contra o próprio Vernon. Este, ao colocar uma máscara de lobo, deixa aflorar toda a selvageria animal. Além de querer vingança pela morte do filho, o pai também está em combate com a polícia local que não descobre quem é o assassino e não está conectada com as lendas locais. Ao final do filme, Medora faz o marido ir até ela em uma fonte de águas termais retirando a máscara dele de lobo e se reconectando ao marido. Provando que agia por extinto e não por maldade, Vernon salva Russell antes de partir com a esposa.

FIM DO SPOILER!!!!! FIM DO SPOILER!!!!! FIM DO SPOILER!!!!! FIM DO SPOILER!!!!!

Após esta explicação, o filme pode ganhar uma nova interpretação de quem o assiste. Mas caso não seja possível fazer esta leitura, ou até perceber diferentes interpretações, destacamos que mesmo assim trata-se de um filme que deve ser conferido. Infelizmente parte da crítica tem sido negativa muito em função desta narrativa mais lenta e não tão clara. Neste caso, como uma escuridão que insiste em se mostrar internamente e que apenas pessoas atentas vão conseguir enxergá-la.

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Média da classificação 3.3 / 5. Número de votos: 4

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3 Comentários

  1. O filme tem uma atmosfera sombria com doses de suspense. É mediano.

  2. O filme é legal pelas paisagens e pelo gelo. Não diria ser confuso, mas sombrio. Eu achei que existe um surto de alguma doença local que aparece em algumas gerações e, por isso, as crianças são mortas com o objetivo de autopreservação da comunidade. Como na cena em que os lobos devoram um filhote, talvez, para sobreviverem ao inverno. Agora, matar todos os policiais, inclusive a xamã da aldeia e deixar o forasteiro vivo, eu não entendi.

  3. Pode arrumar um monte de explicações para o filme, mas não muda o fato que é uma tremenda porcaria. Mais uma bola fora da Netflix…

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