4.5
(4)

Too Old to Die Young
Original:Too Old to Die Young
Ano:2019•País:EUA
Direção:Nicolas Winding Refn
Roteiro:Nicolas Winding Refn, Ed Brubaker
Produção:Lene Børglum, Rachel Dik Dukes, Alex Gayner
Elenco:Miles Teller, Augusto Aguilera, Cristina Rodlo, Nell Tiger Free, John Hawkes, Jena Malone

A prova de que Too Old to Die Young é uma série que brinca com a própria convenção de uma linha temporal exata é que, no Festival de Cannes deste ano, o diretor Nicolas Winding Refn resolveu apresentar ao público os episódios 4 e 5 de sua minissérie de 10 episódios feita para a Amazon Prime. Abraçando o streaming, Nicolas tenta em sua obra mostrar que TOTDY não é nem TV, nem cinema, é algo diferente, uma convergência de estilos audiovisuais, mas, acima de tudo, uma convergência dos elementos daquilo que o próprio diretor já produziu.

Na produção, somos apresentados a Martin, um policial que não sabemos encaixar. Se no primeiro episódio, Martin é conivente com seu colega de patrulha extorquindo de forma grotesca uma jovem antes deste mesmo levar um tiro na cara, por outro, ele também assume que quer ser um justiceiro ao conhecer Viggo, um caçador de pedófilos, algo hilário, já que o próprio Martin namora uma menor de idade.

Em paralelo, a série também nos apresenta Jesus, o homem que mata o parceiro de Martin e foge em seguida para o México, refúgio do cartel de sua família. Logo, descobrimos que Jesus cometeu uma vingança. O policial havia matado sua mãe, a lendária chefe do cartel nos Estados Unidos, mas é na tentativa de se reencontrar após fugir, que seus planos se tornam outros e o retorno ao país é necessário, com um encontro com Martin se tornando inevitável.

Mesmo com um interessante enredo, acompanhar TOTDY não é uma experiência comum, para se dizer o mínimo. Refn assume que só terminou de filmar porque o dinheiro dado ao projeto acabou. O resultado é que a série é longa. E muito. Esqueça a padronização de episódios. A maioria tem entre uma 1h30 e 1h15, com a exceção do último, que tem apenas 35 minutos.

Com cada episódio nomeado com uma carta do tarot, Too Old é uma história contada principalmente no peso das longas sequências que nos apresenta, pelas feições de seus protagonistas, pelo uso de filtros de cores fortes e a marcante trilha sonora, assinaturas indistinguíveis do diretor que dirigiu obras sensacionais como Driver, Demônio de Neon e Only God Forgives, onde de forma interessante sentimos presença de todas em sua primeira minissérie.

De fato, aqui a história parece ser mais contada pela força da imagem, do que por seus diálogos, que vez ou outra demoram bastante para começar.

Não há heróis em Too Old. Aliás, não há ninguém para realmente admirar. Todos os personagens parecem estar numa corda bamba, lutando para não cair na insanidade. E é nos momentos que esse equilíbrio deixa de existir, onde há a queda, que o melhor e pior dessas personas vem à tona.

Martin se torna cada vez mais instável por viver cercado de instabilidade. Jesus aos poucos perde a sanidade, incapaz de superar a morte da mãe com a qual notavelmente não tinha a mais saudável das relações. Até mesmo Yaritza, personagem que cresce a cada episódio como a Sacerdotisa da Morte, apresenta mais sinais de ser louca, do que santa.

A violência também é outro elemento crucial na condução da história. Há sequências extremas em praticamente todos os episódios. Desde tiros, a tortura mais gráfica possível, Too Old é uma série sobre a violência como fio condutor. Não há beleza nela, mas ainda assim Refn é capaz de lhe dar um toque poético.

Há ainda espaço para críticas do diretor ao crescimento do fascismo nos Estados Unidos de forma nada discreta, principalmente numa caricata representação da polícia e em discursos transmitidos pelos rádios dos carros de seus personagens.

Infelizmente, a minissérie tem um ritmo tão instável quanto a mente dos protagonistas. Com uma certa demora para engatar (Refn não mostrou os episódios 4 e 5 realmente a toa em Cannes, eles são uns dos melhores), há uma quebra também no final, quando a roda do protagonismo gira.

A representação das personagens femininas também é um problema a parte, onde até a acusação de misoginia não pode ser descartada, já que a maioria das mulheres presentes possuem uma representação vazia, ou simplesmente estão lá para sofrer de alguma forma gratuita, com destaque para a cena do motel na beira da estrada onde até o nazismo está presente.

Too Old to Die Young é um produto que traz o melhor e o pior da carreira de Nicolas Refn, sempre exigindo uma reação do espectador que fica longe do indiferente, para algo que esteja entre o marcante, ou o repulsivo.

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3 Comentários

  1. Concordo com os comentários. Não vi nada de misoginia ali. Trata-se de fascismo e sua linguagem.

  2. Não concordo com as acusações de misoginia. Acho o contrário, inclusive. As relações entre homens e mulheres na série, me parece uma vingança criada por Refn. Exemplos: as cenas de sexo entre Jesus e Yaritza, onde ele é dominado por ela; Jesus tem seu corpo gratuitamente sensualizado durante a série; Martin se ajoelha e rasteja de quatro para Jane. E o arco de Yaritza aborda isso de forma mais óbvia.

    1. Concordo inteiramente. Também não entendi essas acusações de Misoginia. De qualquer forma, acho que essa obra é que melhor sintetiza o crescente fascismo em alta no mundo todo e, principalmente, o niilismo moderno. Não existe esperança aqui. Não existe mocinhos, nem inocência. Fomos todos engolidos pelo caos pós-modernos e não há pra onde fugir. A passividade do Martin é reveladora nesse sentido; ele só consegue se expressar através da violência. É sua única forma de se conectar com o mundo. Por isso a cena da perseguição de carro é filmada magistralmente como se fosse algo romântico.

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