The Doll (2016)

4.3
(3)

The Doll
Original:The Doll
Ano:2016•País:Indonésia
Direção:Rocky Soraya
Roteiro:Rocky Soraya, Riheam Junianti
Produção:Rocky Soraya
Elenco:Shandy Aulia, Denny Sumargo, Sara Wijayanto, Vitta Mariana Barrazza, Demian Aditya, Faiza Mahnur, Hans Gunawan, Aslam Abad, Annette Edoarda, Princess Martinez

Parece que o universo de Invocação do Mal foi mais distante do que se imaginava. Além de seus sete filmes (Invocação do Mal, Annabelle, Invocação do Mal 2, Annabelle 2, A Freira, A Maldição da Chorona e Annabelle 3), a franquia, desenvolvida por James Wan, também está servindo de inspiração para outras produções (A Maldição da Freira), até mesmo de outros países. No caso deste primeiro trabalho de Rocky Soraya para o gênero terror, The Doll, 2016, a fonte é quase que absolutamente consumida, permitindo que o longa possa ser definido como uma refilmagem não-assumida de Invocação do Mal. A relação entre os filmes, principalmente na primeira metade, alcança o viés da picaretagem, uma vez que não há menção alguma aos roteiristas Chad e Carey W. Hayes, responsáveis pelo argumento do longa de 2013. Exagero? Vejamos…

Tente identificar a qual filme pertence: logo na sequência inicial, é mostrado o relato de duas mulheres para um casal de paranormais sobre os problemas envolvendo uma boneca. O tal brinquedo é o causador de batidas na parede, aparições em lugares diferentes, bilhetes deixados pela casa com os dizeres “Venha me encontrar” até uma delas resolver jogá-lo no lixo. A boneca irá retornar, claro. Depois que arranha as pernas de um rapaz, as garotas resolveram pedir ajuda para os especialistas. A diferença entre as duas sequências é a razão que levou as garotas a serem amaldiçoadas. No roteiro de Riheam Junianti e Rocky Soraya, o rapaz urinou na árvore onde a boneca estava pregada, como uma provocação indireta, enquanto na versão americana, a boneca Annabelle foi adquirida por uma delas.

Depois desse episódio inicial, o longa apresenta o casal Anya (Shandy Aulia) e Daniel (Denny Sumargo), no momento em que o rapaz anuncia ter conseguido uma incrível promoção no trabalho e a possibilidade de compra da casa dos sonhos em Bandung. Assim que se mudam, a felicidade toma conta do casal, como uma família feliz na realização de seus desejos. Anya trabalha com a produção e venda da boneca que leva seu nome; enquanto Daniel é um empreiteiro, que está desenvolvendo a construção de um shopping numa área verde. Todas as árvores são cortadas para a obra, exceto a que está a boneca, devido ao medo dos operários por considerá-la maldita. “Ela pertenceu a uma criança que fora assassinada juntamente com seus pais.“, alerta um dos funcionários. Daniel ignora o alerta e pede que alguém a corte, levando a boneca para casa.

Anya acredita que o brinquedo possa ser consertado, e o coloca juntamente com sua coleção. Mesmo com o alerta da vizinha crente Niken (Vitta Mariana Barrazza), os problemas começam a acontecer na casa, exatamente do modo como ela previra: um cheiro ruim é sentido pelos cômodos (sinal da presença de espíritos), sons estranhos são ouvidos, surgem bilhetes pela casa. O mistério se intensifica quando Anya começa a visualizar uma criança, que a ataca por diversas vezes em um visual até que curioso: uma sombra negra, com olhos brilhantes na expressão de uma raiva constante.

Invocação do Mal é lembrado mais uma vez na presença da filha de Niken, que gosta de brincar de se esconder. Para dar pistas de onde possa estar escondida, ela usa um sininho (troque pelas palmas do filme de James Wan). Em dado momento, ao procurar a garota pela casa, Anya é levada até um guarda-roupas, somente para abrir as portas e não encontrar ninguém. Aparece, então, a assombração em cima do móvel, e ela salta sobre a protagonista, em uma cena inteiramente copiada do filme americano. Anya será atacada outras vezes até convocar um padre e, por fim, Laras (Sara Wijayanto), a Lorraine Warren da Indonésia. Relatando a perda do marido, ela sugere que seja feito um ritual para se comunicar com o espírito da garotinha fantasma, Uci (Faiza Mahnur), para tentar convencê-la a deixar a família em paz.

Sem obter êxito, a situação se complica quando o fantasma perturba a filha de Laras, Shera (Princess Martinez), em outro momento inspirado em Invocação do Mal. Mas, Rocky Soraya gosta de exageros, como pode ser observado em seu outro filme, Boneca Maldita. Ele promove um ataque de morcegos à residência do casal, com efeitos em CGI bem artificiais, e sequências de possessão bem sangrentas, e mais uma vez ignora as feridas mortais de seus personagens, como se inúmeras tesouradas na barriga e nas costas fossem machucados superficiais. Como enfrentar essa entidade que não possui mais sua árvore e só irá descansar depois de conseguir sua vingança?

Se não fossem as referências, imaginando um mundo sem Invocação do Mal, ainda assim The Doll seria apenas mediano. Para quem não conhece o trabalho do diretor e está acostumado apenas ao cinema americano, vale a pena notar o quanto o terror segue cartilhas que vão além de suas fronteiras. Se o enredo não é criativo, pelo menos não se pode questionar a direção de Soraya e nem a escolha do elenco, com destaque para Sara Wijayanto como uma experiente paranormal. E há uma sequência até bem construída em uma atmosfera assustadora, quando Anya observa na chuva um vulto pequeno escondido sobre um capa negra. Mesmo sem entender a razão que levou a protagonista a fazer o que fez, o episódio traz alguns gélidos arrepios, maiores até do que a própria boneca sem olhos.

Mesmo consciente do nível absurdo de picaretagem, a versão de Soraya é até bem realizada e traz um espetáculo de sangue e gritaria que pode empolgar os fãs do gênero. Fez um relativo sucesso na Indonésia e incentivou o cineasta a continuar trilhando os subgêneros das bonecas macabras, possessões demoníacas e assombrações. No ano seguinte, lá estaria Laras no combate a um novo brinquedo demoníaco – assunto para uma próxima resenha.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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