Fratura (2019)

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Fratura
Original:Fractured
Ano:2019•País:EUA
Direção:Brad Anderson
Roteiro:Alan B. McElroy
Produção:Neal Edelstein, Mike Macari, Paul Schiff
Elenco:Sam Worthington, Lily Rabe, Lucy Capri, Adjoa Andoh, Stephen Tobolowsky, Lauren Cochrane, Shane Dean, Stephanie Sy, Marina Stephenson Kerr, Dorothy Carroll, Erik Athavale, Natalie Malaika

Apenas pela leitura da sinopse ou uma observação rápida no trailer – amplia se associar tudo ao título -, já é possível prever boa parte dos acontecimentos do thriller Fratura (Fractured, 2019), e isso não é bom. Remete de súbito a outro thriller, bem mais envolvente, lançado em 2005, dirigido por Robert Schwentke, com Jodie Foster no papel de uma mãe que perde a filha dentro de um avião e fica tentando provar que entrou com ela na aeronave. No caso de Fratura, a perspectiva também envolve o lado psicológico do protagonista, porém em escala muito mais evidente de distúrbio do que o proposto a Kyle Pratt.

Essa construção de personagens insanos, psicologicamente perturbados, é bem característica da filmografia de Brad Anderson. Um de seus melhores trabalhos é sem dúvida o excepcional Session 9, de 2001, embora ele também tenha tocado em temas similares com Chamada de Emergência (2013) e, principalmente, Refúgio do Medo (2014). Nesse longa, produzido pela Netflix, ele desenvolve mais o personagem do que as cenas de tensão na busca por respostas, porém o excesso de pistas da narrativa facilitam ao infernauta antecipar a solução principal, ainda mais quando alguém ali dá uma ideia exata do que aconteceu.

Logo na cena inicial, a câmera se aproxima de um veículo, dirigido por Ray Monroe (Sam Worthington), dando uma leve impressão de que ele possa estar falando sozinho. Não está. Ao atravessar o vidro, a tomada permite que o público comece a entender o conflito do rapaz com a esposa Joanne (Lily Rabe), testemunhado pela pequena Peri (Lucy Capri). Em poucos minutos, já se nota a instabilidade do personagem, o que causou uma “fratura” (permita o trocadilho para que você entenda as várias camadas do título) em seu relacionamento. Descuidado a ponto de quase causar um acidente de trânsito, ele resolve parar em um posto para que a garota possa ir ao banheiro.

Na loja de conveniência, Ray opta por deixar de lado as pilhas que a filha pediu para comprar bebida – uma das principais causas de seus problemas e que ocasionou uma tragédia no passado. Enquanto aguarda a mãe, um cão (e a tentativa do pai de tentar afastar o animal) faz com que a garotinha se desequilibre e caia num fosso. Mesmo com a altura elevada, ela somente fratura o braço, e Ray, entre delírios e apagões, resolve levá-las ao hospital mais próximo. Faz o registro no hospital, responde a um questionário e ainda paga com dinheiro (numa postura difícil de entender que a instituição aceite). O médico, Dr. Berthram (Stephen Tobolowsky), sugere que ela faça uma tomografia para verificar se não houve problemas na cabeça, em um procedimento que dura horas.

Assim que percebe que não recebe mais notícias da filha e da esposa há muito tempo, Ray busca informações a respeito e descobre que ninguém no local lembra de tê-lo visto entrar com elas. Começa, então, o pesadelo do herói de Avatar e Fúria de Titãs ao tentar provar que as duas existem e que podem estar presas num setor do hospital para fins macabros. Para trabalhar essa possibilidade, o roteiro de Alan B. McElroy expõe pistas verdadeiras e falsas, cabendo ao infernauta tentar descobrir a qual delas se atentar. Por exemplo, mostra enfermeiros entregando órgãos, o que poderia sugerir que o hospital, por ser distante e em lugar ermo, possa ter envolvimento com esse tipo de comércio.

Traz personagens sinistros e confunde o espectador com sequências de delírio para que os dois lados tenham a mesma proporção. Contudo, infelizmente não é o que acontece. Ficam bastante evidentes os rumos que a narrativa tomará, mesmo quando são mostradas situações irreais e os tais vilões se mostram coerentes em suas justificativas. Com isso, ainda que tenha uma boa condução e construção de personagens – Sam Worthington não é tão convincente em sua atuação complexa -, Fratura se mostra falho por não ir além de suas próprias teorias, resultando em um filme problemático como o protagonista em suas convicções distorcidas.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Fratura (2019)

  • 16/12/2019 em 12:18
    Permalink

    Poderia ter sido um bom entretenimento se tivesse mantido o mistério e não fosse tão óbvio.

    Resposta

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