The Witcher – 1ª temporada (2019)

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The Witcher - 1ª Temporada
Original:The Witcher
Ano:2019•País:EUA, Polônia
Direção:Tomasz Bagiński, Alik Sakharov
Roteiro:Lauren Schmidt Hissrich, Jenny Klein, Beau DeMayo, Sneha Koorse, Declan de Barra, Haily Hall
Produção:Sean Daniel, Jason Brown, Tomasz Bagiński, Jarosław Sawko, Lauren Schmidt Hissrich
Elenco:Henry Cavill, Freya Allan, Anya Chalotra, Joey Batey, Jodhi May, Björn Hlynur Haraldsson, Adam Levy, MyAnna Buring, Mimi Ndiweni, Therica Wilson, Emma Appleton

Quando em 1985 o polonês Andrzej Sapkowski inscreveu seu conto O Bruxo em um concurso de histórias de fantasia, sua obra acabou não ganhando o primeiro lugar, mas incrivelmente ganharia o mundo. A série de contos de The Witcher começaria a partir daí uma trajetória de sucesso gigantesco na Polônia e em parte da Europa, que a tornaria popular internacionalmente após a série de games criados pelo estúdio CD Projekt Red e que em 2019 encontra seu verdadeiro auge na estreia de uma das maiores séries de público da Netflix que se tem notícia. Com uma grande campanha de marketing orgânica na ideia, até mesmo de tentar tapar o buraco do imaginário popular deixado por Game of Thrones, temos aqui um produto que tem sim seus méritos, mas que ao percorrer um caminho completamente diferente de sua prima muito distante da HBO, não é capaz de empolgar na mesma proporção.

Em The Witcher temos a história do bruxo Geralt de Rivia. Bruxos são homens arrancados de suas origens ainda crianças, levados para uma das escolas de bruxaria, passam por treinamento físico rigoroso, mutações corporais que geralmente matam a maioria dos “candidatos”, se tornam detentores de poderes especiais e no fim viram mercenários caçadores de monstros, sempre prontos a usar suas habilidades com a espada em troca de dinheiro, ainda que possuam um código de conduta rigoroso que entre as principais regras está a de não aceitar contratos para matar outros seres humanos.

Ainda assim, The Witcher tem a ousadia de não se apoiar exclusivamente em seu “bruxão”. A série aposta em três linhas temporais num período de mais de 30 anos, o que gera até uma interessante confusão, ao mostrar não só a fama de Geralt se espalhando por todos os reinos a cada contrato cumprido, como dando um grande espaço para outras duas protagonistas da série, a feiticeira Yennefer e a jovem princesa Ciri.

Aliás, é do arco de Yennefer que vem alguns dos melhores momentos da temporada. A jovem interpretada muito bem por Anya Chalotra tem de longe o arco mais interessante e todo seu papel de transformação de uma jovem deformada a uma feiticeira poderosa, mas cercada de inseguranças, é crescente. O episódio que mostra a personagem fugindo de uma caçada é um dos pontos altos da série, principalmente em seu final, onde o interesse amoroso de Geralt se desfaz de toda a armadura emocional que criou para ser forte e sucumbe de vez a dor que tanto tenta esconder.

Já o arco de Ciri é infelizmente mal construído. Entendemos que o reino destruído já no primeiro episódio é boa parte culpa dela, mas não fazemos ideia do porquê e nem faremos. O vilão absurdamente superficial e que não revela suas motivações é pouco convincente e nada atraente da nossa atenção. E mesmo que a relação da princesa com Geralt seja explicada, a construção emotiva não se justifica.

Mas de fato, o protagonismo de Henry Cavill é de longe a alma da produção. O gigantesco ator é um fã de videogames e entrega um Geralt praticamente idêntico ao dos jogos, principalmente na interpretação da voz e trejeitos pouco expressivos, já que os bruxos são privados de sentimentos. O “hum” e “fuck” de Cavill ficarão gravados na memória. O que é até uma superação, visto que a primeira aparição do ator caracterizado foi quase um trauma para os fãs da franquia.

É interessante que The Witcher realmente abrace a fantasia de suas histórias. Sem medo de soar brega com feitiços de visuais duvidosos, temos ainda momentos como um homem misturado com porco espinho bem pouco convincente e um dragão que não fez lá muito sentido (num dos episódios mais fracos da temporada), cujo único objetivo notavelmente era o de impressionar o público no tipo “Oh, uau, tem dragão aqui também”.

O roteiro simples e de poucas surpresas é reflexo até mesmo da obra de Sapkowski, que ganha tons mais profundos apenas depois de seus primeiros lançamentos de contos. No esforço de construir seus personagens, The Witcher tem uma grande falta de contextos para entender bem como funciona um universo tão rico de reinos, raças, magia e monstros. Tudo é apressado, o que reflete inclusive em diálogos mal escritos.

O cenário político é muito mal apresentado para um mundo de tantos reinos e até mesmo continentes. Tudo na série é simples demais. A falta de explicações mais convincentes, profundas e que deixem lacunas de mistérios realmente interessantes chega a irritar e tudo é jogado na cara gratuitamente. Para uma série que tenta ocupar descaradamente o espaço deixado por GoT, esse é de longe um defeito que não dá pra passar.

Mas a Netflix ainda assim investiu pesado em todo esse material e sanou aqui um de seus maiores pontos fracos em séries com cenas de ação no geral: as lutas. Todas as batalhas de The Witcher são simplesmente incríveis e de encher os olhos. É o ponto alto do primeiro episódio, inclusive. Geralt dança com a espada. A trilha sonora também é bastante apropriada, ainda que a canção fenômeno Toss a Coin To Your Witcher, vinda de um personagem que nem sempre cumpre bem seu papel de alívio cômico (além de não envelhecer como deveria), seja grudenta e destoante ao mesmo tempo.

Para aqueles que conheceram Geralt exclusivamente pelos marcantes games, não há muita esperança de adaptação das tramas que se passam décadas após os livros e que Sapkowski simplesmente odeia. A showrunner Lauren Schmidt sempre deixou claro que queria adaptar apenas os livros, ainda que a Netflix pareça planejar até sete temporadas. Como prêmio de consolação, é notável que a estética ali é totalmente puxada dos jogos.

The Witcher é razoavelmente ousada, mas se desenvolve pouco dentro da grandeza de seu próprio mundo. Ainda assim, o potencial é enorme, principalmente depois de uma primeira temporada que funciona ao ser sustentada pela ótima caracterização de seus personagens principais.

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Samuel Bryan

Jornalista, acreano, tão fã de filmes, games, livros e HQs de terror, que se não fosse ateu, teria sérios problemas com o ocultismo. Contato: games@bocadoinferno.com.br

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