Pânico nas Alturas (2019)

2.6
(8)

Pânico nas Alturas
Original:Otryv / Break
Ano:2019•País:Rússia
Direção:Tigran Sahakyan
Roteiro:Denis Kosyakov, Alexandr Nazarov, Olga Rud, Tigran Sahakyan
Produção:Tigran Sahakyan, Artur Astvatsatryan, Alexandr Karpov, Sergey Selyanov, Oleg Yakovlev
Elenco:Irina Antonenko, Anastasiya Grachyova, Vladimir Gusev, Denis Kosyakov, Andrey Nazimov, Aleksandr Nikitchenko

O abandono talvez seja uma das mais perturbadoras sensações que o cinema já promoveu. E não se trata apenas de um garoto tendo que enfrentar vilões atrapalhados no Natal, mas de pessoas levadas aos limites da solidão e da claustrofobia, enfrentando inimigos naturais e principalmente testando a resistência. Mar Aberto, por exemplo, aterroriza ao mostrar um casal sendo deixado em alto mar, envolto em tubarões, e o desespero pelo simples fato de não poder tocar os pés no chão; já Pânico na Neve, de Adam Green, também permite a valorização do solo ao expor três esquiadores num pesadelo teleférico numa região onde o frio extremo e lobos famintos são os maiores desafios. Este último é a provável inspiração para o russo Pânico nas Alturas (Otryv, 2019), de Tigran Sahakyan, disponível na Amazon Prime.

Troca-se o teleférico por um bondinho, aumenta-se o número de personagens, um vilão de ocasião (lobos estavam em falta) e um relacionamento conturbado e, assim, você tem a base do roteiro de Denis Kosyakov, Alexandr Nazarov, Olga Rud e do próprio Tigran. E o cenário permanece o mesmo: temperaturas extremamente baixas, ausência de contato com o mundo exterior, constantes torturas físicas e psicológicas e a espera por uma provável ajuda que talvez nunca venha. Tal qual o longa de Green há alguma ideia insana de tentar descer ou até andar pelo cabo para retornar ao ponto de origem. Apesar das semelhanças estruturais, Pânico nas Alturas perde feio para o anterior, sendo falho e mal realizado.

Na noite do dia 31 de dezembro, poucas horas antes da Virada, um grupo de amigos decide celebrar o evento de maneira incomum, atravessando uma região gélida em um bondinho para depois retornar em snowboards. A blogueira Katya (Irina Antonenko), o até então namorado Kirill (Andrei Nazimov), o amigo gordinho Roma (Mikhail Filippov), Vika (Ingrid Olerinskaya) e seu parceiro Denis (Denis Kosyakov) estão prestes a entrar nessa aventura. À porta de embarcar, Kirill percebe que pode ter esquecido sua mochila, tenta convencer a namorada a sair do bonde, mas acaba solitariamente desistindo do passeio, o que facilita as coisas para Katya, que chegou a dizer para uma amiga que pretendia terminar o relacionamento com a entrada do ano novo.

Assim, o enredo se divide em duas desnecessárias narrativas: apresenta o grupo de amigos curtindo o passeio, ao mesmo tempo em que traz a jornada de retorno de Kirill para o hotel e depois para o aeroporto. A intenção é deixar o espectador apreensivo sobre um possível retorno do rapaz para salvar os amigos, desde que ele consiga perceber a tempo que o funcionário da estação de controle morreu em um acidente estúpido. No entanto, o que importa é saber o que irá acontecer aos quatro ocupantes do veículo, assim que ele fica sem energia no meio do percurso noturno, obrigando-os a comemorar a Virada ali mesmo e depois pensar em meios de sair dali.

Como em Pânico na Neve, a provável sobrevivência do grupo aconteceria se eles resolvessem trabalhar em conjunto ou se pensassem em estratégias que não permitissem o orgulho falar mais alto. Contudo, afetados pela situação extrema, alguns surgem com ideias ruins e há o que se revela uma ameaça maior que a própria condição a qual estão. Seria interessante – e plausível – se o elenco colaborasse com uma atuação aceitável, dentro da proposta, mas a limitação de Mikhail Filippov, por exemplo, um dos personagens que mais necessita de uma convincente expressividade, acaba prejudicando o resultado exatamente pelo excesso desta, fazendo até mesmo cara de mau nos momentos em que quer eliminar um oponente.

Sem muito dinamismo, o que resta são alguns pesadelos que perturbam a belíssima Katya, mas que facilitam a compreensão dos intentos dos realizadores, ainda mais na última cena. Também atrapalha uma boa avaliação os fracos efeitos especiais, como o uso evidente de CGI em alguns momentos importantes, e a trilha incidental totalmente deslocada, utilizada na cena em que dois personagens se confrontam sob o teto do bondinho. Soma-se à solução boba, quando ignora-se completamente o tempo de ida e volta de Kirill apenas para alimentar o suspense.

Pânico nas Alturas revela-se uma grande decepção, quando se compara ao outro Pânico, muito mais eficaz e divertido. Sem a lembrança do longa de Adam Green, ainda assim não sobram muitos méritos para este trabalho de estreia de Tigran Sahakyan, mostrando-se irregular e desinteressante.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Pânico nas Alturas (2019)

  • 14/08/2020 em 01:06
    Permalink

    Adoro PÂNICO NA NEVE, acho muito divertido! Esse aqui fiquei com vontade de assistir, mas acabei deixando pra trás por receio de ser uma bomba rs!

    Resposta

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