Oferenda à Tempestade
Original:Ofrenda a la tormenta
Ano:2020•País:Espanha, Alemanha Direção:Fernando González Molina Roteiro:Luiso Berdejo, Dolores Redondo Produção:Mercedes Gamero, Adrián Guerra, Peter Nadermann, Núria Valls Elenco:Marta Etura, Leonardo Sbaraglia, Nene, Imanol Arias, Itziar Aizpuru, Benn Northover, Marta Larralde, Alicia Sánchez, Patricia López Arnaiz, Eduardo Rosa, Álvaro Cervantes, Francesc Orella, Ana Wagener |
A boa aceitação do segundo filme da trilogia Baztán elevou às expectativas sobre o capítulo final. Que ideias interessantes poderiam vir da obra de Dolores Redondo para a adaptação do roteiro de Luiso Berdejo? Como houve uma mudança bem notada entre o primeiro e o segundo filme, partindo de um simples thriller de investigação para elementos de bruxaria e conspiração, trazendo informações importantes sobre o passado da protagonista, era de se esperar algo ainda mais marcante em Oferenda à Tempestade, lançado pela Netflix alguns meses após Legado nos Ossos. E realmente vieram mais novidades no enredo, mas não tanto em torno dos mistérios propostos, mas na construção de uma Amaia Salazar (Marta Etura) bastante humana.
No último ato de Legado nos Ossos, Amaia conseguiu salvar seu filho Ibai, antes que servisse de sacrifício para os propósitos de sua mãe Rosario (Susi Sánchez) de uma maneira até curiosa: o bebê foi salvo por ser do sexo masculino, o que não interessa como oferenda. Com a mãe desaparecida e com suspeita de ter morrido afogada, algo não aceito por Amaia, o terceiro filme começa com a perseguição policial a um homem em fuga com seu bebê morto. Com a prisão, ela descobre que a criança foi morta pelo próprio pai também como uma oferta de sacrifício. Assim, a inspetora resolve buscar mais informações sobre a seita, acreditando realmente que ainda existam outros envolvidos e que as respostas possam apontar o paradeiro de sua mãe em Baztán.
À medida em que se aproxima de uma verdade capaz de abalar até o que ela acreditava em relação ao assassino do primeiro filme – e que justifica a investida de sua irmã Flora (Elvira Mínguez) -, a personagem começa a se perder em suas próprias ações, aceitando os flertes do Juiz Javier Markina (Leonardo Sbaraglia). E essa caracterização humanizada de Amaia a deixa mais fraca em suas conclusões e até desfigura a empatia desenvolvida até o momento na franquia. Se essa desconstrução pode ser considerado um defeito, Oferenda à Tempestade ainda se mostra falho por uma condução lenta e sem muita empolgação, ainda que mantenha as qualidades técnicas como a direção bem realizada de Fernando González Molina e a fotografia acinzentada de Xavi Giménez.
O plot twist proposto, principalmente no que tange ao conceito original, é até interessante, assim como a ousadia em eliminar um dos melhores personagens da trilogia, porém é notado que o Oferenda à Tempestade é praticamente uma continuidade do segundo, sem apresentar uma nova trama: trata-se apenas da continuidade dos acontecimentos envolvendo os rituais e a conspiração religiosa. Não que isso seja realmente um problema, mas perde bastante força na comparação entre o primeiro e o segundo.
E, por fim, um enredo que se construía de maneira sólida até então se revela trivial, quando o principal inimigo se apresenta como uma solução dos problemas da protagonista, facilitando a reflexão e uma redenção. De todo modo, mesmo sendo surpreendentemente decepcionante, ainda por não explorar mais o Guardião Invisível, a trilogia se encerra em alto nível, e deve levar o infernauta a imaginar para que novos caminhos Amaia poderia seguir em novos filmes. Seria interessante ver a personagem explorando outros mistérios sobrenaturais em Baztán.