Kingdom - 2ª Temporada
Original:Kingdom - Season Two
Ano:2020•País:Coreia do Sul, EUA Direção:Kim Seong-hun, Park In-je Roteiro:Kim Eun-hee Produção:Lee Sung-joon, Lee Sang-baek Elenco:Ju Ji-hoon, Bae Doona Ryu, Seung-ryong, Kim Sang-ho, Heo Joon-ho, Jeon Seok-ho, Chu Hun-yub |
Escrito por Kim Eun-hee e dirigido por Kim Seong-hun e Park In-je, Kingdom é a primeira série original da Coreia do Sul da Netflix e um verdadeiro acontecimento para a plataforma. Antes mesmo da primeira temporada estrear, o sucesso da obra era dado como certo e a plataforma já havia encomendado uma segunda.
De fato, para quem assistiu e se maravilhou com a primeira temporada, esperar um ano pelo retorno foi uma verdadeira tortura. A história do príncipe Lee Chang na tentativa de retomar o reino das mãos de uma família rival e tentar sobreviver ao apocalipse zumbi que infesta o país em pleno século XV havia sido eletrizante em seu primeiro ano, mas terminava em um momento chave poderoso, capaz de gerar ataques de ansiedade em seus espectadores.
Assim, a segunda temporada começa exatamente onde a primeira terminou. A resistência criada pelo príncipe em Sangju contra a horda zumbi entra em um conflito visualmente impecável. Uma cena de batalha memorável com uma luta sangrenta e resultados catastróficos onde não há um verdadeiro vencedor.
Todo o aspecto da produção se mantém aqui e é até mesmo ainda mais aprimorado. A fotografia é um dos principais destaques da temporada, principalmente em suas cenas noturnas. O figurino é outro ponto forte, extremamente belo e de encher os olhos, servindo inclusive para diminuir os impactos da cenografia que às vezes não é capaz de trazer a grandeza que a série realmente merecia.
O aspecto político se mantém ainda mais forte aqui também. O grande vilão da trama, o comandante Cho Hak-ju, tem seu auge neste retorno, gerando alguns dos pontos altos da temporada, entre sua grande armadilha contra o príncipe já no segundo episódio e sua surpreendente derrocada já no terceiro, ainda que consiga reunir forças para se manter por mais tempo.
O arco da rainha Cho ganha aspectos ainda mais cruéis e sangrentos, gerando um peso político maior que o do próprio pai, com sua psicopatia ainda mais clara e revelando que nunca aceitaria uma derrota, preferindo ver o reino destruído em sangue do que nas mãos de outro. A personagem da médica também tem um grande avanço aqui, tomando ares de pesquisadora a frente de entender a doença que transforma as pessoas em monstros.
Mas as cenas de ação claramente brilham na segunda temporada de Kingdom. O ar do caos zumbi tomando todos os cantos do reino é infinitamente maior. E quando tudo culmina para a grande batalha dentro da cidadela real, temos o auge de carnificina e destruição, onde mesmo com centenas de figurantes, todo o trabalho é extremamente bem coreografado, dando espaço aos protagonistas para esforços únicos e sem pena de fazer sacrifícios para um final arrepiante.
De fato, com apenas seis episódios, não há enrolação em Kingdom, tudo é dinâmico e destrutivo. As reviravoltas são impressionantes, com pelo menos uma grande por episódio entre traições, arapucas e crueldades, não deixando nada a desejar a um Game of Thrones em seu auge, ainda que algumas sejam convenientes demais.
O retrato da desigualdade social do país num período conturbado por conflitos sem fim com o Japão e a China perde um pouco de força aqui, mas a analogia de os mais ricos terem sempre o privilégio da proteção, enquanto o povo pobre e passando severas necessidades está sempre mais em risco, se mantém presente.
Mas é dos momentos finais que vem as escolhas mais polêmicas de Kingdom, com direito a pegar de forma surpreendente quem achava que a história seria encerrada em sua segunda temporada. As decisões finais do príncipe Lee sobre o comando do reino são no mínimo incoerentes perante suas atitudes ao longo de todos os episódios. Com um salto de sete anos nos momentos finais do último episódio, somos apresentados a um novo arco da família real, com um grande e aterrorizante mistério sobre o trono ainda a ser desvendado.
O destino do príncipe Lee e toda a Coreia também é incerto, com os segundos finais sendo reservados a uma intrigante nova vilã.
Kingdom se mantém como um dos melhores produtos originais Netflix e merece muito reconhecimento por sua ousadia e construção, mesmo que nos confunda na ideia de gerar novas perguntas onde ficamos desejando suas respostas, as quais torcemos que cheguem em uma terceira temporada.