4.9
(10)
Goodfellas - Os Bons Companheiros
Original:Wiseguy
Ano:2020•País:EUA
Autor:Nicolas Pileggi•Editora: Darkside Books

Considerado um dos maiores filmes sobre a máfia por detalhar todas as nuances e companheirismo da organização italiana, Goodfellas foi dirigido por Martin Scorsese, aclamado diretor e fã convicto do neorrealismo italiano. Ao ler Os Bons Companheiros, Scorsese afirma que ficou tão maravilhado com a narrativa, que precisou “dar vida” ao livro imediatamente. Entrou em contato com o autor, Nicholas Pileggi e, juntos, escreveram o roteiro de uma das obras primas do cinema no que diz respeito à máfia ítalo-americana.

O livro conta a história de Henry Hill, um gângster trapaceiro apaixonado pelo mundo do crime. Filho de irlandês e italiana, Henry morava no Brooklyn com seus pais e mais outros seis irmãos e irmãs. A casa vivia um caos e seu pai, eletricista, vivia com raiva, tanto pelo barulho constante  quanto pelo fato de não ganhar o suficiente para uma família tão grande. Foi então que, com apenas onze anos, o pequeno Henry decidiu arranjar algum emprego após a escola. Perambulando pelo bairro, acabou parando em um ponto de táxi, onde elegantes homens de ternos apareciam com frequência, exibindo seus carros e seus bolsos cheios de dinheiro.

Seus pais ficaram em êxtase pelo filho ter conseguindo um emprego tão jovem e tão perto de casa e sua mãe, Carmela, contentou-se ainda mais quando soube que a família dona do ponto de táxi eram os Vario. Como se fosse um tipo de cumplicidade italiana.

Logo, o contentamento de seus pais se transformou em preocupação. Henry passava o dia no ponto de táxi, quase não ia mais às aulas, se vestia como um gângster.  O que eles não sabiam é que, muito mais do que uma central de táxis, o local era o ponto de encontro de Paul Vario, um dos grandes chefes do crime organizado, e seus companheiros.

Henry fazia pequenos serviços para Paul, como comprar cigarros, servir café, levar recados. Percebendo a esperteza e comprometimento do garoto, logo seu “chefe” foi confiando nele cada vez mais e, assim, Henry Hill estava aos poucos entrando no mundo da máfia. E ficando fascinado.

Conforme os anos passaram, os delitos também aumentaram. Jogos de azar, fraude, trapaças…o dinheiro nunca parava de entrar. E, com Henry, também acabava com a mesma velocidade. Com doze anos, já ganhava mais dinheiro em uma semana do que muitos trabalhadores honestos da rua.

Além de esperto e útil, também era carismático, não demorando muito para ficar próximo a Jimmy Burke e outros mafiosos. Já era tão conhecido e influente no meio que, quando foi detido pela primeira vez aos dezesseis anos, em menos de uma hora teve ajuda dos Vario para ser solto e ter sua fiança quitada. O acontecimento foi como um ritual de passagem, como se o garoto estivesse enfim se tornando um homem. Um homem do crime.

Todas as etapas da vida de Hill são retratadas. Do final de sua infância à vida adulta, a máfia foi sua casa, sua família, sua escola e seu porto seguro. Ele era praticamente intocável por fazer parte desse mundo. A cumplicidade entre eles fica evidente, até mesmo quando algum deles fazia algo errado, como delatar algum companheiro ou traficar drogas – algo estritamente proibido por Paul – e era pego. O coitado que ousasse fazer besteira seria morto imediatamente pelos seus próprios comparsas. Sem conversa, sem negociação, sem aviso. Pode parecer cruel, mas a morte era rápida e pelas mãos dos seus justamente como uma última homenagem. Se algum deles precisasse morrer, que fosse por mãos familiares.  Em último caso, o chefe dava autorização para outra gangue matar algum ex protegido seu, mas normalmente isso só acontecia quando era uma retaliação.

Hill cometeu diversos crimes e acabou passando pela prisão mais de uma vez, sempre protegido e amparado pela sua segunda família.

Então, em 1978, aconteceu um dos maiores e mais bem sucedidos roubos da história dos Estados Unidos: 5 milhões de dólares em dinheiro e mais um tanto em joias foram roubados do terminal de carga da Lufhtansa. Burke, Henry e outros estavam envolvidos.

Após uma pesada investigação, de presenciar todos os envolvidos no roubo serem apagados um a um e de se envolver com o tráfico de drogas, Hill decide fazer um acordo com a polícia federal e vira um informante. Era isso ou ser morto por seus próprios companheiros, pois desobedeceu uma das regras de Paulie.

A vida que conhecia acabou. Henry e sua família entraram para o programa de proteção a testemunhas, e ele contou tudo que sabia, todos os esquemas, todos os negócios, tudo. Seus dias de crime e máfia estavam acabados. As ameaças recebidas eram tão pesadas e constantes que precisava mudar de local com frequência, sempre escoltado fortemente pelos federais.

Nicholas Pileggi retrata tudo que lhe foi contado com muita precisão, apenas mudando um ou outro fato que acabam sendo irrelevantes na totalidade da narrativa. Não há muitos detalhes específicos sobre os crimes cometidos em si, a intenção é se aprofundar na vida daqueles mafiosos, sua rotina e convivência, como lidavam com traidores e o quanto se respeitavam.  Temos até mesmo a visão de Karen, esposa de Henry, sobre alguns acontecimentos e como ela lidou com isso.

Os Bons Companheiros é um livro essencial e ideal para os entusiastas da máfia ítalo-americana, mostrando uma visão realista do que acontece dentro desse mundo tão cheio de segredos.

Em 1996, Henry Hill deixou o programa de proteção a testemunhas e viveu livre para dar entrevistas e contar sua história usando seu próprio nome até o dia de sua morte, em 12 de junho de 2012, dia seguinte ao seu aniversário de 69 anos.

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