O Homem nas Trevas 2
Original:Don't Breathe 2
Ano:2021•País:EUA Direção:Rodo Sayagues Roteiro:Rodo Sayagues, Fede Alvarez Produção:Fede Alvarez, Sam Raimi, Rob Tapert Elenco:Stephen Lang, Madelyn Grace, Brendan Sexton III, Adam Young, Rocci Williams, Christian Zagia, Bobby Schofield, Fiona O'Shaughnessy, Stephanie Arcila, Diaana Babnicova |
Fede Alvarez está se apropriando de uma característica bem interessante em sua filmografia, seja como diretor, roteirista ou produtor, que envolve a confusa índole de seus personagens. Basicamente, ele não permite que você saiba quem é o herói, vilão e anti-herói de seus trabalhos, com a possibilidade de inversões e alterações drásticas de comportamento. No seu longa-metragem inicial, A Morte do Demônio (2013), ninguém poderia imaginar que Mia (Jane Levy), a jovem que atraiu os demônios antigos e atacou seus amigos, seria a única que poderia enfrentar as entidades; já em O Homem nas Trevas (2016), aqueles assaltantes que invadiram a morada daquele velho homem cego (Stephen Lang), e que representavam a ameaça, estariam mais próximos do que poderíamos considerar heróis. Assim, havia uma certa dúvida sobre os caminhos da continuação, e se ela iria manter essas trocas de personalidade ou apenas dar continuidade aos acontecimentos do primeiro.
Inicialmente, as minhas expectativas sobre o novo filme foram bem baixas. Além de sentir que não havia porque continuar, mesmo com a proposta do epílogo, o trailer parecia apresentar uma repetição dos argumentos do longa de 2016: o homem cego novamente iria enfrentar invasores. A diferença talvez viesse do que ficamos sabendo sobre sua conduta: ele é um homem destruído por uma perda e capaz de sequestrar mocinhas para que elas lhe deem um novo filho – e que lembra a jornada nobre de Zé do Caixão. Mas havia ali uma criança. Será que a história é um prelúdio ou iria avançar bastante no tempo para mostrar que ele finalmente atingiu seu objetivo? Já sobre os aspectos técnicos havia também a dúvida se a direção do estreante Rodo Sayagues, parceiro de filmografia de Fede Alvarez, seria suficientemente agradável.
A cena inicial de O Homem nas Trevas 2 remete a primeira do filme original: em uma tomada aérea nota-se uma garotinha em fuga em uma rua até desfalecer e ser finalmente encontrada por alguém. Oito anos depois, a tal garota é apresentada como Phoenix (a talentosa Madelyn Grace), que vive em uma casa isolada em Detroit com seu pai, o tal Homem Cego do primeiro, sendo treinada constantemente contra ameaças de um mundo hostil em companhia do já conhecido rottweiler Shadow. Seu único contato com o mundo exterior é Hernandez (Stephanie Arcila), que traz alimentos aos dois e tenta convencer o senhor a permitir que a pré-adolescente vá à cidade grande. Quando ele decide autorizá-la ao passeio, a pequena, que possui uma curiosa mecha branca de nascença, é ameaçada pelo estranho Raylan (Brendan Sexton III), durante uma ida ao toalete, mas salva pelo cachorro e pela companhia adulta.
Raylan faz parte de uma gangue, tendo como parceiros Jim-Bob (Adam Young), Duke (Rocci Williams), Raul (Christian Zagia) e Jared (Bobby Schofield), e estão dispostos a seguir a van de Hernandez para saber onde a pequena reside. Já sabendo do endereço – e o espectador sem conhecer a motivação -, eles irão invadir o local naquela mesma noite, sem imaginar que o pai dela é um veterano da marinha e bastante apto e inteligente, e que os treinamentos da jovem lhe serão úteis na luta pela sobrevivência. A partir daí, segue-se sequências de tensão e claustrofobia pelos diversos ambientes, com destaque para a invasão inicial, com o esforço de Phoenix para se esconder dos inimigos em uma longa tomada única, atravessando cômodos, enquanto ela traz distrações e busca refúgio, respondendo àquela dúvida do final do segundo parágrafo.
Com invasores em número maior e bem armados – no primeiro só havia um e outros dois não adeptos a um confronto violento -, O Homem nas Trevas 2 deixa de lado a tensão silenciosa, um dos aspectos enaltecidos no primeiro, por sequências violentas e de resistência ameaçadora, embora desta vez o Homem Cego opte por não liquidar os vilões de uma vez, talvez para evitar que a pequena se assuste com sua verdadeira índole. Outra diferença importante em relação ao original é a mudança de ambientação: desta vez o filme não se passará inteiramente em uma única morada e irá promover argumentos inverossímeis, com o objetivo justificado pela tensão e entretenimento, destoando da narrativa pé no chão de O Homem nas Trevas.
ATENÇÃO PARA SPOILERS NÍVEL MÉDIO NO PRÓXIMO PARÁGRAFO (não recomendado para quem ainda não viu o filme)
Os tais absurdos do enredo, co-escrito por Fede Alvarez e Rodo Sayagues, se concentram em várias ideias não muito bem digeridas ao longo do filme. É claro que aceitar que o Homem Cego seja uma espécie de Demolidor já é bastante improvável, mas nada se compara a algumas decisões e facilidades do roteiro. 1. o rosto do veterano foi mostrado em noticiários na época do incidente, o que causa estranhamento Hernandez não tê-lo reconhecido, principalmente por ser um episódio bastante conhecido na região; 2. como o cego conseguiu atravessar a cidade e descobrir o esconderijo da gangue, indo a pé apenas em companhia de um cachorro (ainda que este tenha um faro aguçado e pudesse ter sido treinado para isso), imagina-se que a distância seja razoável; 3. um cego conseguir se virar em casa é compreensível pelo costume e aptidão de outros sentidos, mas ter sucesso em outro local, chega a ser exagero; 4. os pais terem decidido fazer a cirurgia de transplante na mesma noite em que a garotinha chegou (e precisava ter contado para ela?) não dá para engolir; 5. ainda que a pequena seja da mesma família, isso não significa que o coração dela será compatível (imagino como cirurgiões devem rir de situações assim).
FIM DOS SPOILERS
Ignorando as falhas e diferenças relativamente importantes, deve-se enaltecer a inteligência dos inimigos. O Homem Cego e a garotinha não irão enfrentar bandidos ingênuos, pelo contrário. Desse modo, o título original se define principalmente na cena em que Phoenix decide se esconder em uma espécie de caixa metálica, e o inimigo tentará provocar sua saída através do afogamento. Ao mesmo tempo em que luta para resistir à agua e à possibilidade de um choque fatal, o público rói as unhas ao acompanhar o confronto do lado de fora – e envolve mais do que esforço físico, mas também atitudes inteligentes. E há méritos também em todos os episódios que envolvem cães agressivos na franquia e que promoveram cenas bem divertidas e tensas.
Inferior ao primeiro pelos exageros propostos, O Homem nas Trevas 2 ainda assim é bem realizado, tem boas atuações e se conclui de maneira satisfatória, resolvendo, inclusive, aquela característica comum da filmografia de Fede Alvarez. Mais uma vez, há dúvidas sobre os papéis de heróis e vilões, até mesmo na mudança de atitude de um dos participantes da gangue de Raylan, justificando uma tendência natural do ser humano, sem o maniqueísmo que ronda o gênero. Desnecessário, mas ainda assim interessante, deve ser recomendado como um bom thriller claustrofóbico, com boas possibilidades, violento e divertido, concluindo de maneira satisfatória essa franquia particular da filmografia.
O roteiro é meio forçado… Mas dá pra assistir.
Até o incêndio na casa foi ótimo, mas depois das forçadas de roteiro, a cena da cirurgia (sei lá, me pareceu muito final de “The Last of Us”, me pareceu que tentaram forçar demais uma escolha moral nos personagens e, o Homem chegando na hora exata para salvar a Phoenix… não comprei”) e adaptação rápida do Homem Cego eu desliguei e passei só a curtir as cenas de ação sem levar mais tão à sério.
No mais, é um ótimo thriller psicológico com ótimas cenas de ação e tensão. Não chega a ser uma bomba como sequências costumam ser.
Esse ,ei espero chegar nos streamings🤭😁🤣
Mas parece legalzinho.