3.4
(10)

Dois
Original:Dos
Ano:2021•País:Espanha
Direção:Mar Targarona
Roteiro:Cuca Canals, Christian Molina, Mike Hostench
Produção:Joaquín Padró, Mar Targarona
Elenco:Marina Gatell, Pablo Derqui, Kandido Uranga, Anna Chincho, Esteban Galilea

A Espanha é um país bastante tradicional quando se trata da produção de cinema fantástico, com exemplares de peso como O Orfanato, Os Olhos de Júlia e O Corpo. Esses três filmes foram produzidos por Mar Targarona, que já dirigiu alguns longas em sua carreira e volta a esse posto em Dois, um body horror que rodou festivais e chegou recentemente ao catálogo da Netflix.

Com apenas 71 minutos de duração, Dois não perde tempo e lança o espectador para dentro da história desde o primeiro momento. Vemos dois desconhecidos acordarem em uma cama, em um quarto bem decorado, um corpo sobre o outro e sentindo dores no abdômen quando tentam se mexer. Ela é Sara (Marina Gatell), ele é David (Pablo Derqui), e, de alguma forma, eles estão costurados um ao outro. Lógica, ciência? Nada disso, lembre-se de que o filme tem só pouco mais de uma hora, e nós acompanharemos o desenrolar dessa história praticamente em tempo real, sem que o roteiro se demore em explicações.

A trama de Dois se passa quase que inteiramente nesse quarto fechado, onde Sara e David precisam encontrar um jeito de escapar ao mesmo tempo em que tentam se descosturar um do outro. É como um escape room bizarro, em que os prisioneiros devem encontrar pistas no ambiente que os ajudem a sair. É claro que alguém os está observando e, a cada vez que as luzes se apagam, alguma coisa muda: aparecem comprimidos analgésicos, água e comida (a favorita de cada um deles), por exemplo.

Para além das pistas físicas que podem aparecer no quarto, Sara e David também especulam sobre o motivo de estarem ali. Os dois não se conhecem e aparentemente não têm nada em comum além do fato de serem duas pessoas solitárias, mas que detestam ficar sozinhas. Sara é casada e não teve uma vida difícil, mas tem suas vulnerabilidades; já David cresceu em orfanatos, mora na parte pobre da cidade e trabalha no porto. Ela é desconfiada e se desespera facilmente, enquanto ele mantém a calma e é mais racional. Os dois omitem algumas informações sobre suas vidas pessoais. Seriam eles mesmos os culpados de estarem presos? Poderia essa ser a vingança de algum desafeto?

O desenvolvimento dos personagens em Dois é essencial para fazer a história andar. Com apenas duas pessoas trancadas em um ambiente único, vamos desvendando cada nova revelação junto com a dupla, sem nada que nos adiante qualquer informação. E situações absurdas ou que, a princípio, não fariam sentido, nos fazem lembrar que Sara e David são seres humanos, por mais bizarro que seja seu estado. Fazer xixi é um ato que causa embaraço, mas que também os faz rir; beijos são uma forma de escape.

Mas, se Dois é um body horror, podemos contar com algumas imagens mais explícitas, certo? Às vezes, sim, mas menos do que se esperaria. A junção dos corpos de Sara e David é pouco mostrada à distância, mas há algumas cenas agoniantes em que os dois tentam se separar ou pelo menos se afastar. O foco maior é na atuação de Gatell e Derqui, mais do que em suas feridas, mas a forma como eles se movimentam merece destaque. Os dois precisam aprender a andar, se levantar ou deitar enquanto estão unidos, em um ballet penoso no início, mas que vai ficando mais fácil com o tempo.

O maior problema de Dois é sua revelação. Para um enredo tão absurdo, a descoberta final é prosaica e um tanto decepcionante. Há ainda mais uma reviravolta nos últimos minutos, mas que, infelizmente, não faz muito para melhorar essa impressão. Mesmo assim, a jornada de Sara e David até esse ponto é o bastante para entreter e para apresentar a ideia da dualidade, de como todos nós precisamos uns dos outros para sobreviver.

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Média da classificação 3.4 / 5. Número de votos: 10

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1 comentário

  1. A única coisa boa desse filme é a curta duração, pouco mais de 60 minutos. Um dos piores do ano

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