Y: The Last Man (2021)

3.8
(5)

Y: The Last Man
Original:Y: The Last Man
Ano:2021•País:EUA
Direção:Louise Friedberg, Daisy von Scherler Mayer, Destiny Ekaragha, Mairzee Almas, Lauren Wolkstein, Karena Evans, Cheryl Dunye
Roteiro:Eliza Clark, Katie Edgerton, Donnetta Lavinia Grays, Tian Jun Gu, Catya McMullen, Charlie Jane Anders, Coleman Herbert,
Produção:Anna Beben, Nellie Reed
Elenco:Diane Lane, Ben Schnetzer, Olivia Thirlby, Ashley Romans, Juliana Canfield, Marin Ireland, Amber Tamblyn, Elliot Fletcher, Diana Bang

Há décadas a cultura pop brinca de imaginar como as pandemias podem levar a humanidade ao colapso. Das infecções zumbis à doenças mortais, há um número infinito de possibilidades de como esse cenário pode ser perturbador. E ainda assim, nada foi mais perturbador que a própria realidade, onde no cenário da pandemia de Covid-19, numa doença que estatisticamente mata uma pessoa a cada 100 contaminadas, o cenário global se mostrou frágil e absurdamente instável com caos econômico, social e político que demoraremos anos para nos recuperar. Como seria então sobreviver num mundo onde um único evento cataclísmico mata, de uma única vez, não só 48% da humanidade, como todos os mamíferos com o cromossomo Y? É isso que a série Y: The Last Man vai tentar nos mostrar.

Adaptação da aclamada HQ criada por Brian K. Vaughan e Pia Guerra – que já ganhou três prêmios Eisner, uma das mais importantes do mundo das histórias em quadrinhos – Y: The Last Man é uma adaptação em série feita pela FX e que no Brasil está disponível no Star+.

Na história, somos apresentados a uma série de mulheres que vivem seu dia a dia equilibrando trabalho, convicções e amores, até que não mais que de repente, em escala global, todos os mamíferos com o cromossomo Y morrem. Ou melhor, quase todos, já que nosso protagonista Yorick Brown, um mágico fracassado do Brooklyn, e seu macaco de estimação, Ampersand, são os únicos sobreviventes deste acontecimento que não entendemos se foi resultado de uma pandemia, um ataque biológico, ou até mesmo praga divina.

E embora limitada por seus recursos, a série capricha ao mostrar no primeiro episódio o cataclisma. A morte de todos os homens, principalmente aqueles ao redor das protagonistas é gore e extremamente perturbadora, com direito a mulheres segurando seus filhos mortos, esposas em choque com a morte dos maridos e até mesmo a senadora Jennifer Brown sendo banhada pelo sangue do presidente dos Estados Unidos.

E, claro, o caos se instala. Numa brincadeira no Twitter, lembro que durante o marketing da série, as pessoas se pegaram pensando como seria um mundo só de mulheres, e algumas pessoas simplesmente respondiam como “perfeito”, mas a verdade é que nem de longe com este acontecimento as coisas estariam perfeitas. Todo o tipo de crise se instala, os governos ao redor do mundo praticamente desabam, as estruturas econômicas e sociais idem, a produção alimentar e energética despencam. E mesmo os Estados Unidos criando um governo de coalizão, agora com Jennifer Brown no comando, a falta de uma comunicação estável com a população restante e toda a infraestrutura arruinada que não possui pessoas o suficiente para colocá-la de volta em total efetividade, combinada ao bipartidarismo extremista dos nossos dias, vira um barril de pólvora que sabemos que uma hora vai explodir.

E embora cheia de personagens interessantes, infelizmente, Y: The Last Man acaba girando em torno… bem… do último homem. Yorick é sim o verdadeiro protagonista, ainda que medíocre no sentido de ser uma pessoa pouco interessante. Obviamente que essa é a construção do personagem, muito bem interpretado por Ben Schnetzer, e a conquista dele com o público por esses motivos se dá de forma bem gradual. Yorick é filho de Jennifer, que acaba reencontrando-o apenas para precisar mandá-lo embora junto a enigmática Agente 355, afinal, com diversas teorias da conspiração ao redor de todos, se descobrirem que justamente o filho da presidente é o único homem que sobreviveu, o que já está ruim, ficará ainda pior.

Yorick e a Agente 355 entram numa jornada para encontrar uma controversa geneticista chamada Allison Mann e quem sabe entender o que aconteceu com o resto do mundo. Mas além de um caminho absurdamente perigoso e instável, a série nos questiona o tempo todo sobre liberdades individuais e como o bem estar coletivo pode ficar acima da vontade de um único ser. Yorick é o último homem. Será ele então o responsável por recomeçar a humanidade? Será possível trazer os homens de volta a partir dele? E ele aceitaria isso de bom grado ou não teria direito mais às suas vontades?

De fato, Y: The Last Man é boa em nos fazer se questionar. Não só sobre o que deve ser feito com Yorick, mas em todos os cenários apresentados no geral. A HQ é reconhecida por explorar temas como gênero, raça, classe e sobrevivência, com a série seguindo muito bem esse rumo. A abordagem sobre transexualidade, por exemplo, é um ponto extremamente importante da série, ainda que feito com bastante delicadeza e respeito mesmo aos inúmeros confrontos apresentados. O nascimento do grupo Filhas das Amazonas é outro, com o ódio aos homens sendo confrontado por Hero Brown, a filha de Jennifer e irmã de Yorick. E, no geral, se mesmo a partir de uma ideia tão pesada a HQ tem um tom leve, principalmente em seus diálogos, a adaptação para série é muito mais sombria, com tons realmente de terror.

Mas mesmo com tantos pontos interessantes, Y: The Last Man erra em seu ritmo. Dos dez episódios, seu miolo é extremamente irregular e com muitos momentos arrastados. Seu começo é apoteótico e seu final realmente empolgante, o que segura a temporada junto a todo o resto citado.

Infelizmente, como anunciado pela showrunner e roteirista Eliza Clark, a série já foi cancelada, provavelmente uma vítima da pandemia de Covid-19 (irônico, não?), que prejudicou a produção, extrapolou o orçamento com refilmagens e dificultou a reunião do elenco numa negociação para novas gravações.

Y: The Last Man merecia mais, ou pelo menos um final digno. A HQ já povoa o imaginário da cultura pop e sua série não deveria trilhar por menos, ainda que não tenha começado exatamente de forma marcante.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 3.8 / 5. Número de votos: 5

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Samuel Bryan

Jornalista, acreano, tão fã de filmes, games, livros e HQs de terror, que se não fosse ateu, teria sérios problemas com o ocultismo. Contato: games@bocadoinferno.com.br

3 thoughts on “Y: The Last Man (2021)

  • 10/01/2022 em 12:05
    Permalink

    Antes ateu do que crente…credo…raça das trevas!!!

    Resposta
  • 28/12/2021 em 13:59
    Permalink

    Não sei qual a necessidade dos colunistas deste site ficarem colocando que são ateus.

    Querem parecer modernos ou posar de vítimas ?

    Depois reclamam de proselistismo dos crentes.

    Resposta
    • 31/05/2023 em 16:24
      Permalink

      Aí, ficou com dor de cotovelo. Primeiro, não existe proselitismo ateu. Ser ateu significa a ausência de Deus ou de fé religiosa, e você não converte pessoas ao ateísmo justamente porque significa não ter Deus. E falar que é um blog ateu, não vai fazer com que as pessoas virem ateus, mostra que eles têm orgulho, mas desperta pessoas preconceituosas como você que ver os Ateus como raros que não podem se mostrar e se expressar os ateu diferentes de vocês não fica querendo que acabe só mostra os problemas da religião que só quer mostra o ponto de vista dela.

      Resposta

Deixe um comentário para Otacilio Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *