Bela Vingança
Original:Promising Young Woman
Ano:2020•País:EUA, UK Direção:Emerald Fennell Roteiro:Emerald Fennell Produção:Tom Ackerley, Ben Browning, Emerald Fennell, Ashley Fox, Josey McNamara, Margot Robbie Elenco:Carey Mulligan, Bo Burnham, Alison Brie, Clancy Brown, Jennifer Coolidge, Laverne Cox, Chris Lowell, Connie Britton, Adam Brody, Max Greenfield, Christopher Mintz-Plasse, Sam Richardson, Alfred Molina, Molly Shannon, Steve Monroe, Angela Zhou, Francisca Estevez, Austin Talynn Carpenter, Emerald Fennell |
“Nem todo homem…”
Em seu longa de estreia na direção e roteiro, a atriz Emerald Fennell (Camilla Parker Bowles, da série The Crown) abocanhou o Oscar de Melhor Roteiro e uma indicação na categoria de Melhor Direção. Assim como a sua anti-heroína do Promising Young Woman (título que carrega um sarcasmo bem mais emblemático que sua versão nacional), Fennell consegue questionar um costume já enraizado que empurra para baixo do tapete o assédio sexual perpetrado por homens “não criminosos”, amparados pela premissa de que a mulher dá motivos por expor comportamentos que “convidam estupradores”.
Em Bela Vingança, vemos Cassandra (em uma atuação inspiradíssima de Carey Mulligan), uma ex-estudante de medicina promissora, que, traumatizada por eventos do seu passado, possui uma jornada de vida dupla, onde trabalha durante o dia como barista em um café e a noite vai à caça, passando suas noites em bares fingindo estar bêbada, numa busca por vingança contra os homens que a tentam assediar.
A direção investe em uma quebra de paradigmas no que conhecemos de filmes sobre o desejo de vingança feminina, diferente de clássicos como Carrie – A Estranha, A Vingança de Jennifer, Kill Bill ou Lady Vingança, o roteiro até segue os passos da história de vingança tradicional, em que o anjo vingador nos desperta o sentimento de revolta sobre os comportamentos abusivos masculinos que precisam ser repreendidos e punidos. Porém, de forma muito assertiva, ele investe em uma quebra nesse gênero que flerta com o terror. O querido leitor pode até estar se questionando do porquê de uma crítica sobre esse filme estar aqui no Boca, mas não seria a realidade predatória que ele escancara bem mais assustadora do que qualquer possessão demoníaca?
Não há cenas gráficas de abuso aqui; o filme se destaca por trabalhar com a subjetividade, nos fazendo despertar o que já temos de conhecimento sobre o próprio machismo e a cultura do estupro. Adentra no consenso coletivo onde se aproveitar de mulheres bêbadas ou consideradas vulneráveis é algo comum, uma generalização necessária para sacudir o espectador, mas que pode ser uma via de mão dupla ao afastar os não tão receptivos à essa mensagem.
O filme é uma verdadeira miscelânea indie pop com referências aos slasher dos anos 80, comédias românticas dos anos 90 e até mesmo aos videoclipes pop dos anos 2000, o que pode desagradar alguns fãs de thrillers que seguem uma pegada mais conservadora. Apenas no terceiro ato podemos observar o verdadeiro desenrolar da trama e seus objetivos mais obscuros, algo que pode ser até um pouco cansativo, onde a própria inserção de um romance soa um tanto quanto desnecessária e blasé. Mas não desanime, caro leitor! O que vem por último compensa a espera. Na obra – recheada de uma temática sombria – a jornada de vingança é ainda mais objetiva e cruel, com um final apoteótico e visceral.
Bela Vingança não é um filme perfeito, longe disso, mas faz uma produção extremamente contagiante do começo ao fim e é difícil discutir seus méritos desviando de possíveis spoilers. Apesar de seu desenrolar um pouco monótono, quando a história faz uma curva inesperada, o grande turbilhão de emoções em seus momentos finais nos deixa sem fôlego e com um gosto amargo na boca.
O final meio que estraga toda a construção do filme.
Não gostei do filme, não gostei da protagonista, e não gostei que no trailer faz parecer que ela faz algo com os homens que ela deveria ” punir “, a verdade é que ela só faz eles passarem vergonha, só isso. A trama mesmo nem tava no trailer, e demora pra desenrolar. Como a moça disse ali em cima, esse filme parece que quer mostrar que nenhum homem presta. Se nenhum homem presta, toda mulher é interesseira.
Não é que nenhum homem presta, é que é muito difícil confiar num homem logo de cara, saca? Mulher tá com medo todo o tempo. Foda é que os caras nãoa conseguem jamais se colocar no nosso lugar pra tentar por um segundo entender essa questão, né?
Infelizmente a questão do abuso sofrido por mulheres na situação descrita no texto é uma realidade.
Lembro até de uma cena do filme “O Albergue”, quando os três amigos estão procurando mulheres num bar e um deles traz uma desacordada, os outros logo desaprovam. Foi uma cena cômica mas que mostrava uma realidade dura: mulheres tratadas como objeto.
Isso para não falar das situações que estamos acostumados a presenciar em bares ou festas…
Por favor, PAREM de dizer que “todo homem é um estuprador em potencial”. Eu fui molestada sexualmente na infância e posso garantir que esse tipo de comentário escroto e preconceituoso não nós ajuda em absolutamente NADA, muito pelo contrário, só atrai a antipatia das pessoas.
Muito bom, vai pra minha lista concerteza.
Longe de mim ser apreciador de filmes de temática slasher e afins. Só conheço mesmo pela cinefilia.
Porém, li o texto e fiquei no mínimo bastante curioso pra conhecer esse título.
Parabéns pelo texto!
Ótima resenha, não conhecia o filme é já coloquei na lista pra assistir, adoro a Carey Mulligan.
Se um está bêbado e pega um canhão, ele foi estuprado por uma balança.