4.5
(13)

Bingo Macabro
Original:Bingo Hell
Ano:2021•País:EUA
Direção:Gigi Saul Guerrero
Roteiro:Shane McKenzie, Gigi Saul Guerrero, Perry Blackshear.
Produção:Jason Blum, Lisa Bruce, Chris Dickie, Lauren Downey, Jeremy Gold, Adan Orozco, Raynor Shima, Paul Uddo, Ian Watermeier, Marci Wiseman.
Elenco:Richard Brake, Bertila Damas, L. Scott Caldwell, Adriana Barraza, Gigi Saul Guerrero, Joshua Caleb Johnson, Clayton Landey, David Jensen, Kelly Murtagh, Grover Coulson, Jonathan Medina, Wendy Conrad.

por Caio Lobato

O terror tem tocado cada vez mais em questões socialmente pertinentes, sendo um gênero completo para exploração dessas temáticas que são de fato aterrorizantes. Portanto, nem sempre utilizando-se de monstros, mas contemplando outros elementos assustadores que por muitas vezes rendem uma experiência visceral e simbólica. Dois excelentes exemplos são os filmes Mãe, dirigido por Darren Aronofsky, e Midsommar, de Ari Aster. Ambos exploram o terror de forma exitosa a fim de destacar o caráter aterrorizante de problemáticas sociais.

Em Bingo Macabro, somos apresentados a um bairro humilde localizado em Oak Springs, caracterizado por casas simples, estabelecimentos bem específicos no que vende e pessoas que funcionam como uma espécie de líderes comunitários. Há pobreza e descaso dos políticos com os habitantes do lugar, principalmente com pessoas mais vulneráveis, tais como imigrantes e pessoas negras. Apesar disso, o bingo existente no local é um momento de diversão para a população, sendo organizado pela protagonista Lupita (interpretada por Adriana Barraza). Esse é um momento de reunião entre todos, possibilitando o ganho de prêmios em dinheiro.

Conforme a trama segue, somos apresentados a um elemento que muda tudo: um carro luxuoso estacionado, que torna-se um diferencial quando comparado aos demais automóveis populares da cidade. Nessa transição, existem diversos fatores que nos remetem a um perigo iminente, como a escrita da placa do automóvel, o local em que está situado e as mudanças graduais que vão acontecendo no bairro, inclusive o surgimento de um bingo de luxo.

Esteticamente apenas uma palavra pode definir o filme: trash. A configuração das cenas, ambientação dos personagens, caracterização e outros elementos fundamentais da construção do enredo são propositadamente mal feitos e bagunçados. Acredita-se que seja para proporcionar um contraste maior entre a simplicidade do bairro, juntamente com a pobreza dos moradores, e o luxo dos elementos do novo bingo, rodeado de mistérios. A câmera explora a quebra na narrativa e essa contraposição. As cenas levam o telespectador a um passeio profano pelos elementos da transição da trama.

De início, os personagens têm receio de participar do bingo, por estarem apegados a eventos mais simples e consequentemente socializarem de outra maneira, além de acharem estranho um espaço daquele porte inserido à decadência do bairro. Entretanto, as promessas de prêmios espalhadas por toda a cidade através de cartazes, acabam seduzindo de morador a morador, que logo começam a participar e enfrentam consequências avassaladoras.

O vilão coordena todo o espetáculo e a população defende-se das ameaças proporcionadas por ele à la Bacurau de Kleber Mendonça, mas dessa vez longe dos perigos mundanos e sim tentando libertar-se de consequências sobrenaturais. O apresentador simboliza muito bem a conduta dos propagadores cristãos. É nítida a crítica aos graves problemas socioeconômicos enfrentados pelos EUA, ao moralismo cristão decadente que prevê consequências terríveis para cada ato de revelia, mesmo que seja executado em pensamento. A execução da equipe técnica do filme é pecaminosa.

A produção abusa de cenários multicoloridos, efeitos estrambólicos em cores e movimentos de câmeras que estonteia e provoca agonia em quem está assistindo – pode ser que seja para induzir uma identificação com os elementos do contexto do bingo, porém, incomoda e aborrece o público mais sensível. A narrativa utiliza-se do humor talvez para deixar a crítica ainda mais velada, e os telespectadores mais atentos com certeza poderão perceber assim mesmo. O roteiro é fraco e os diálogos enfadonhos. Não se percebe uma progressão da narrativa pelas falas dos personagens e a interação dos habitantes com o apresentador é recheada de passividade, deixando quem está assistindo a ver navios e alavancando o desejo por uma boa cena que só é entregue no clímax da história.

O filme finda com um ensinamento que mais parece tirado de fábulas: no final a amizade é o que mais importa. A obra entrega violência, estética trash, tontura com a composição cenográfica e movimentação de câmera mal executados, metáforas e críticas. Por fim é um saldo positivo. Vale a pena assistir, só não é válido ver de novo.

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Média da classificação 4.5 / 5. Número de votos: 13

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4 Comentários

  1. vou conferir
    já que tem na prime video consigo ver enquanto enrolo no trabalho que nem o que to fazendo agora enquanto comento kkkkkkkkkk

  2. Esperava mais desse filme, no entanto vi uma trama frouxa e sem maiores temperos. Concordo com a crítica ao dizer que dá para assistir, mas sem repetir a dose.

  3. Análise muito boa, principalmente quando comentou a relação entre o terror e as questões sociais! Precisamos ver mais disso 👏💀

  4. Umas das melhores críticas que já vi. Vou até assistir ao filme após lê-la. Está de parabéns.

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