Apocalypto
Original:Apocalypto
Ano:2006•País:EUA Direção:Mel Gibson Roteiro:Mel Gibson, Farhad Safinia Produção:Bruce Davey, Farhad Safinia, Mel Gibson, Ned Dowd, Sergio Miranda, Vicki Christianson Elenco:Rudy Youngblood, Morris Birdyellowhead, Raoul Trujillo, Dalia Hernández, Jonathan Brewer, Gerardo Taracena, Amílcar Ramírez, Mayra Serbulo, Carlos Emilio Báez. |
No fim da civilização maia, os governantes de um império em declínio acreditavam que a chave para a prosperidade seria aplacar a ira dos deuses construindo templos suntuosos e realizando indizíveis sacrifícios humanos. Com sua tribo destruída, um jovem guerreiro é capturado e, num ato de sorte e num ímpeto de bravura, empreende incrível fuga para voltar para casa e salvar a mulher grávida e o filho.
Essa é a premissa de Apocalypto. Em seu 4° longa como diretor, Mel Gibson nos entrega um trabalho ousado e intenso do início ao fim. Aliás, ousadia é uma palavra que define muito bem este filme singular, que arrisca ao colocar um elenco totalmente desconhecido composto por muitos estrangeiros para interpretar personagens que se comunicam apenas em um antigo dialeto maia. Felizmente, esta crítica trata de uma obra que acerta muito por sua originalidade com boas doses de violência gráfica que a gente aqui do Boca do Inferno não dispensa.
A história se passa na região da Península de Lucatã, no extremo sudeste do território onde é o atual México e toda a construção técnica do filme na sua direção de arte garante uma perfeita ambientação de vidas duras em plena floresta tropical e seus perigos. Há um ótimo trabalho de fotografia, impecável figurino e maquiagem com atores que entregam muito de si e a trilha sonora do saudoso James Horner consegue garantir o clima épico contemporâneo que segura o ritmo. Não é à toa que a obra recebeu três indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Som, Melhor Edição de Som e Melhor Maquiagem.
As perseguições se tornam o ponto alto do longa, que explora muito bem a adrenalina com a selvageria brutal e sangrenta em todos os seus atos, apesar do enredo simples. Gibson cria muito bem os momentos de tensão com jogos de câmera filmados em meio às selvas reais da América Central, captando a coragem de um escravizado em fuga e a fúria de guerreiros impiedosos, tendo as próprias feras e geografia da floresta como desafios naturais.
Sem entregar muitos spoilers, o filme alcança seu ápice nos ritos sangrentos quando os prisioneiros desafortunados chegam a capital do Império Maia. O banho de sangue eviscerado e cabeças decepadas escadarias abaixo são chocantes e angustiantes e podem muito bem ser uma das mais bem construídas representações da Sétima Arte sobre a ignorância e imoralidade de guerras entre tribos e cidades-estados antes da colonização espanhola. Mas o cenário de luta de classes também desperta importantes questionamentos sobre o que pode exaurir uma sociedade.
Como uma civilização que até hoje é conhecida por seus avançados conhecimentos nos campos da matemática, geografia e astronomia foi capaz de se autodestruir? O desespero das elites com a seca, doenças e a fome em paralelo com a crença em deuses para justificar a violência e a dominação de povos não é algo exclusivo desse remoto período da história e, simboliza uma perversa estrutura social constantemente vista na evolução humana.
A civilização maia evoluiu e se autoconsumiu, e Apocalypto traduz muito bem em perturbadoras cenas sangrentas porque não foi uma tarefa difícil submeter-se a uma cultura já devastada. Em seus momentos finais a trama ainda reserva uma surpresa que te fará pelo menos soltar um riso de nervoso. Se você é fã de narrativas simples, mas bem contadas com boas doses de adrenalina, esse filme alucinante é pra você. Depois de assisti-lo, fica a nós apenas o pensamento recorrente de que se não repensarmos nossos valores como sociedade, podemos muito bem encontrar um fim semelhante aos de nossos antepassados.
Ha informação errônea. Não da para considerar os Maias como império, pois não teve conquista de outras civilizações (além dos conflitos entre as tribos maias). Segundo Navarro, Grube, Thompson, o correto é chamar de “Civilização Maia”.