A Avó
Original:La Abuela
Ano:2021•País:Espanha, França, Bélgica Direção:Paco Plaza Roteiro:Carlos Vermut Produção:Enrique López Lavigne Elenco:Almudena Amor, Vera Valdez, Karina Kolokolchykova, Marina Gutiérrez, Berta Sánchez, Alba Bonnin, Gabriela Calonfirescu, Ileana Wilson, Chacha Huang |
Quando se pensa em avó geralmente o que vem em nossa mente é aquela figura caricata da senhora querida e amável que enche os netos de mimos e os acostuma mal, entretanto os anos passam e esses estereótipos são quebrados, nos mostrando outras facetas não tão amistosas assim. Nessa fábula sombria vemos um lado obscuro da velhice e dos laços familiares e seremos apresentados para uma avó que esconde muitos segredos e desejos, muitos deles mortais.
Paco Plaza pode ser considerado um nome relevante na direção de terror principalmente por ter trazido sua identidade única no subgênero found footage com o excelente Rec, de 2007; depois ele retorna com Verônica: Jogo Sobrenatural (2017), que se mostrou um filme mais maduro, tenso e bem assertivo. Com La Abuela, por sua vez, o diretor decide entrar mais fundo no terror psicológico com cenas pretensiosas e uma escolha de elenco apurada para nos contar uma trama curiosa.
Nesse filme conheceremos a personagem Suzana (Almudena Amor), uma jovem modelo que vive em Madri e está em busca do sonho do estrelato na cidade de Paris. Eis que quando uma grande oportunidade aparece ela precisa deixar tudo para trás para cuidar de sua avó Pilar (Vera Valdez), que sofreu um AVC. Essa senhora vive sozinha numa cidade distante da capital e é a única parente viva de Suzana, pois após o falecimento de seus pais ela acabou sendo criada pela avó.
Ao chegar lá, ela encontra Pilar completamente debilitada, sem falar e aparentemente não reconhecendo fisionomias, e isso denota que possivelmente sua estadia será mais longa que o imaginado. Conforme os dias passam, uma sensação de estranheza toma conta de Suzana ao perceber que sua avó fala e ri sozinha como se estivesse vendo uma presença na casa, se levantando nas madrugadas e tendo rompantes de violência aleatórios. Conforme essas situações vão se tornando mais corriqueiras e pesadas, uma sensação de perigo e assombro toma conta das duas. Seria apenas paranoia e fadiga ou realmente há um mal esperando a hora certa de atacar?
Tanto no trailer quando na sinopse esse filme se vende como um suspense que irá trazer revelações ao longo de sua trajetória, e isso dificultou um pouco a escrita da minha sinopse para não estragar a experiência de vocês.
Por sua vez, quando comecei o filme percebi que Paco Plaza não se sentiu incomodado ao trazer essas respostas logo no primeiro ato ou ele imaginou que estivesse fazendo mistério com uma lanterna apontada para as respostas.
Aqui temos um longo arco que nos apresenta essas personagens, diversas cenas pretensiosas que mostram o paralelo entre a juventude e velhice versus a crueldade do tempo, além de longos momentos mostrando a dificuldade de cuidar de uma pessoa debilitada, pontuados de modo muito espaçado com outros que mostram que estamos num filme de terror.
Claramente se vê um cuidado na escolha de elenco, pois com pouquíssimos diálogos, tudo o que vemos é crível. O carinho de Suzana por sua avó (que inclusive é interpretada de maneira brilhante por Vera Valdez, uma ex-modelo e atriz brasileira), o olhar parado e desesperado dela enquanto é cuidada e até mesmo abraçada por sua neta, a relação espinhosa que as duas têm, mostrando que claramente há muitos elefantes na sala, e até mesmo os personagens terciários que aparecem muito pontualmente só para elevar a tensão.
Contudo, toda essa preparação e pretensão precisavam ser misturadas com mais terror e sustos para realmente ser memorável – e olha que tinha grande chance de ser este o caso de La Abuela. Se você conseguir passar para o terceiro ato sem tirar aquela bela soneca dos justos, irá se deliciar com um terror que não surpreende, mas pode atacar seu lado saudosista, assim como atacou o meu. Em sua conclusão apressada cheguei até a lembrar de filmes de terror sobrenatural dos anos 80 e 90 como Poltergeist (1982) e A Casa das Almas Perdidas (1991).
Sobre o filme não farei mais digressões falando sobre o seu poder metafórico, sua alusão à passagem do tempo ou a perspicácia da sua fotografia, pelo simples fato de que para mim sua alta pretensão foi sua própria âncora.