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X - A Marca da Morte
Original:X
Ano:2022•País:EUA
Direção:Ti West
Roteiro:Ti West
Produção:Jacob Jaffke, Kevin Turen, Harrison Kreiss
Elenco:Mia Goth, Jenna Ortega, Brittany Snow, Kid Cudi, Martin Henderson

Se pararmos para pensar alguns minutos, facilmente conseguimos traçar alguns paralelos entre filmes pornôs e filmes de terror, especialmente aqueles do gênero slasher do tipo mais comum: argumentos sofríveis (quando existem), muita sexualização e exploração dos corpos em cena, foco na violência gráfica (e aqui vale ressaltar que, ainda que não vejamos sangue e gore nos pornôs, quando partimos para análise dos fetiches, percebemos que a violência está lá), e um fetiche escondido (nos slashers, sob a máscara do assassino, e nos pornôs, sob a nossa consciência). Entre realizar esses gêneros de filme e algo que se possa chamar de “cinema“, então,  há um abismo gigantesco que o mercado poucas vezes tentou ultrapassar.

X foi uma das promessas mais recentes a seguir nesta direção. O esperado e badalado filme do diretor Ti West chegou aos cinemas estadunidenses em abril deste ano, e tem provocado reações adversas no público, muito pela expectativa gerada pelo fandom do estúdio A24, queridinho do momento, que já fazia julgamentos precipitados antes mesmo do filme chegar às telas do cinema. E há algo de justificado nisso pelo padrão de qualidade que os filmes da produtora têm entregado até então.

Em seu novo filme, Ti West foi mais “honroso” que pretensioso quanto ao gênero que resolveu trabalhar. Nas suas quase duas horas de duração, X se sai imerso em boas referências aos grandes slashers (ou proto-slashers) da década de 1970, resgatando aquelas velhas atmosferas que talvez os fãs mais saudosistas dos bons e violentos filmes daquele período consigam captar mais facilmente. Há muitas menções honrosas a clássicos como Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978), e até Devorado Vivo (1976) (forçando um pouco a barra), mas com toques de originalidade ao fugir conscientemente da banalidade da violência pela violência.

Na história, uma trupe de artistas pornôs viaja ao interior do Texas para produzir um novo filme. A ideia é realizar uma proposta mais “artística“, que ganhe destaque entre as produções artificiais do gênero pornô, em ascensão naquela década (se observar a analogia entre pornôs e slashers do início desse texto, a auto referência em X fica bem clara). O local escolhido para as filmagens é uma fazenda afastada onde vive um casal de idosos, cadavéricos e assustadores (nos moldes da família do Leatherface), que até gosta do que aquele bando de hippies cocainômanos estão aprontando em sua propriedade, mas ficam ressentidos de não serem convidados para participar. A partir daí a trama se desenrola.

X é um filme com muitos méritos, e não tentar inovar totalmente é um deles. Ele tem todo o cuidado e excelência técnica que marcam os filmes da A24, e vai além por não nos entregar um produto mais do mesmo. Ao mesmo tempo, repete alguns paradigmas do gênero ao criar uma trama clichê (à primeira vista), e desenvolver uma vilã mítica e com potencial para gerar uma nova franquia, que parece ser o que os fãs esperam – a prequela que conta a história de Pearl, só para se ter uma ideia, parece já ter sido filmada, tão confiantes estavam no êxito desse primeiro filme.

Na parte técnica, fotografia e figurino se destacam na recriação de uma atmosfera que nos remete diretamente aos filmes da década de 70 (talvez até mais que os próprios filmes da época, sendo esse excesso de nostalgia um dos meus “poréns” a esse X – tudo tem cara de filtro vintage). E antes que eu diga que tudo parece “artificial” ou “decorado” demais, Ti West tira da manga o ótimo elenco que, super à vontade em seus papéis, faz a diversão acontecer. O roteiro e a construção dos personagens têm peso nisso, sendo a reviravolta que a trama da protagonista sofre nos últimos instantes um dos melhores momentos dessa criação.

A discussão entre puritanismo e “pecado”, subtrama clássica dos slashers, é revirada pelo avesso por um corpo de personagens bem desenvolvidos e salientada em excelentes diálogos que subvertem os papéis tradicionalmente impostos pela sociedade – algo que para nós, olhando deste 2022 quase distópico, não surpreende, visto que parece ser muito mais provável vermos coerência e integridade num bando de artistas pornôs do que nos “ratos de igreja” e religiosos conservadores em geral. Mas isso talvez já seja um spoiler (pra vida).

Em resumo, X é um baita filme, divertido, bonito de ver, e com mínimas imperfeições. Muito da crítica sofrida vem mais da expectativa provocada pelos fãs que pelo filme em si. Há quem sinta falta de um assassino mascarado, mas não acho que a proposta seja ser esse tipo de terror que impressionava 30 ou 40 anos atrás. X olha pra frente com forma, consistência, e até coerência, três qualidades básicas mas difíceis de serem vistas juntas em slashers medianos e até em alguns já tradicionais ou considerados “top de linha“.

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Média da classificação 4 / 5. Número de votos: 35

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11 Comentários

  1. Filme absurdamente superestimado, não acontece quase nada nos primeiros 50 minutos, e quando acontece não é nada demais.
    Os primeiros 15 minutos de Martyrs (2008) tem mais história, desenvolvimento de personagens e ação do que X inteiro.

  2. Talvez o que encantou os críticos foi a aula sobre transições de formato de tela (fullscreen, widescreen ou anamórfico) ou por ele ter sido feito em 35mm, 16mm ou em Super-8. Claro que toda a ambientação setentista realmente chama a atenção, e nos faz sentir que estamos vendo um filme antigo mesmo, não um “filme recente que se passa nos anos 70”. Mas tirando esse lado técnico, “X” é uma farofada servida num restaurante chic e “à la carte”. Uma mistura de “O Massacre da Serra Elétrica” com “A Visita”, e talvez “Quadrilha de Sádicos” (sem o corre corre dos slashers por questões de saúde), mas que nos deixa sem entender se a história quer nos passar uma lição imoral, se tenta conscientizar que todos um dia irão envelhecer, se levanta a importância da saúde sexual na 3ª idade, ou se faz uma crítica social/religiosa ao X-Vídeos e ao mercado pornográfico, intercalando com todas as outras opções.

    Não existe história, existem personagens sem desenvolvimento algum, numa situação clichê (porém, tecnicamente conceitual). Existe crueza nas mortes e muito gore, mas mesmo essas cenas sendo bem feitas, serão esquecidas no dia seguinte. Vale a pena perder o tempo? Vale. Mas se você assistir de graça. Porque tirando as homenagens aos clássicos do gênero e essa questão técnica citada, é um filme esquecível, mesmo conseguindo apresentar alguns pontos peculiares e ter um pequeno plot-twist no final que deixa ele bonzinho de forma conclusiva.

    E fica aqui o alerta: conteúdo com gemidões do WhatsApp. Talvez a classificação indicativa seja para +18. E só uma dúvida aleatória, por que no Brasil acrescentaram o subtítulo “A Marca da Morte”? Nada a ver e acabaram com o conceito.

  3. Fraquinho. As vezes tenho a impressão que a galera que curte o gênero ironicamente se impressiona demais. Entre mortes e acontecimentos tem seus momentos, mas nada que justifique tanto barulho, mesmo porque é algo já visto inúmeras vezes.

    1. Você fala da nacionalidade do filme ou de usar o adjetivo pátrio?

  4. Após muitos elogios e até mesmo saber que “X” tinha 100% de aprovação no Rotten Tomatoe me encorajei a assistir. Minha expectativa era grande, porém a realidade mostrou-se diferente. O filme tem seus bons componentes e vale uma olhada, mas ficou aquém do que eu esperava.

    1. Rapaz, não vi nada de extraordinário como os críticos estão falando, fazendo campanha para tornar um filme comum ou menos disso, em obra prima máxima, já Pearl esse sim é ótimo.

  5. Tbm gostei muito 😉👏👏👏👏👏

  6. Baita filme! Presta uma bela homenagem aos filmes slash, ao mesmo tempo que acrescenta algumas ideias novas ao gênero, obvio que como bem salientado na critica grande parte da qualidade se deve ao fato de não querer inventar a roda. Ah o elenco está ótimo, muito a vontade no papel. Curiosidade: a protagonista faz também o papel da senhora.

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