4.4
(12)

Hatching
Original:Pahanhautoja
Ano:2022•País:Finlândia
Direção:Hanna Bergholm
Roteiro:Hanna Bergholm, Ilja Rautsi
Produção:Elina Gedina Ducena
Elenco:Siiri Solalinna, Sophia Heikkilä, Jani Volanen, Reino Nordin, Oiva Ollila, Ida Määttänen, Saija Lentonen

Dentro do terror e seus inúmeros subgêneros, talvez um dos mais instigantes seja o do body horror. São inúmeros os exemplos que temos de filmes que conseguem gerar incômodo ao mesmo tempo que propõem reflexões sobre aquilo que é mostrado em tela. É o caso de Hatching, produção finlandesa que teve seu lançamento no festival de Sundance em 2022 e marca a estreia da diretora Hanna Bergholm em longas.

A partir do roteiro de Ilja Rausti, Hatching nos apresenta a família de Tinja, uma jovem ginasta de 12 anos que faz de tudo para agradar sua mãe (Sophia Heikkila), que está determinada a documentar a vida de sua família e mostrar ao mundo como a relação dela, de seu marido (Jani Volanen), de sua filha e seu filho mais novo, Mathias (Oiva Ollila), funciona de maneira perfeita.

Essa perfeição em primeiro momento é interrompida pela chegada de um pássaro preto que quebra diferentes itens de decoração da casa perfeita da família de Tinja. Esse caótico evento faz com que a jovem encontre um estranho ovo na floresta próxima à sua casa e o leve para seu quarto, gerando a partir disso uma curiosa criatura.

Tudo em Hatching gira em torno da possibilidade de diferentes interpretações para o significado do ovo e da criatura gerada a partir dele. Temos aqui uma espécie de coming of age bastante ligado na relação entre mãe perfeccionista e uma filha que vai absorvendo cada vez mais traumas e frustrações – estes que, por sua vez, parecem servir de alimento e aconchego para que o ovo e sua criatura possam florescer.

Vale destacar aqui o incrível uso de efeitos práticos para a criatura, trazendo referências de filmes como A Mosca e até mesmo alguns dos animatronics criados por Jim Henson. O uso do CGI é extremamente pontual e não serve de muleta para tapar buracos, mas sim como um auxílio na hora da construção das cenas.

No decorrer do filme vemos essa relação de família perfeita ir rachando aos poucos e revelando que nem tudo que está na internet é de fato uma realidade. A partir do ponto do nascimento da criatura, o filme consegue gerar excelentes momentos de tensão e suspense, mesmo que em alguns casos o uso excessivo de cortes rápidos na montagem acabe prejudicando um pouco o ritmo das cenas. Além disso, a obviedade do roteiro é um fator um tanto quanto decepcionante no longa. Para o espectador um pouco mais atento, o caminho que o filme irá tomar no seu final se torna bastante claro a partir da metade e pode decepcionar aqueles que esperavam um roteiro um pouco mais surpreendente, dada a excelente construção de início que temos entre filha, mãe e criatura.

Ao optar pelo foco principal na relação de Tinja com a sua mãe, o roteiro acaba por deixar um pouco de lado o desenvolvimento de personagens secundários, como o pai e o filho mais novo, por exemplo, que em determinados momentos parecem existir apenas como meros espectadores da vida da família. Fica a sensação de que algumas pequenas tramas poderiam ter sido aprofundadas de maneira melhor, podendo expandir ainda mais esse conto fantástico que Bergholm se propõe a contar.

Contudo, apesar de seus problemas, Hatching está longe de ser um filme ruim. O body horror é bem explorado e bem colocado, mostrando que a diretora tem referências e ao mesmo tempo a originalidade de trazer uma história que consegue surpreender e chocar em diversos pontos. A interpretação da atriz mirim Siiri Solalinna é o grande destaque da produção e faz com que a imersão na história da personagem seja ainda mais interessante.

Entre seus acertos e erros, Hatching é sem dúvida um filme que vale a pena ser conferido, seja por aqueles que estão em busca de um terror mais metafórico para martelar a cabeça por dias ou por aqueles que estão em busca de criaturas grotescas e viscosas.

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