Nas Garras do Terror
Original:Claw
Ano:2021•País:EUA Direção:Gerald Rascionato Roteiro:Gerald Rascionato, Joel Hogan Produção:Joel Hogan, Gerald Rascionato, Andre Stamatakakos Elenco:Chynna Walker, Richard Rennie, Mel Mede, Ken Mertz, Allen Lyster, Juan Carlos Sanchez, Alejandra Camacho, Jonah Blechman |
Depois que um Tiranossauro Rex atravessou a cerca elétrica desativada do Parque dos Dinossauros, o cinema que envolve animais pré-históricos nunca mais foi o mesmo. Pelo menos, pode-se dizer que o olhar do público é diferenciado, exigente. Ainda assim, os dinossauros continuaram servindo ao gênero fantástico em produções de gosto duvidoso, oportunistas, sem transmitir a mesma sensação de desconforto. Se Jurassic World Domínio já recebe críticas pelo enredo, pela justificativa de sua existência, ignorando um dos motores propulsores da Sétima Arte que é o entretenimento, o que esse público pode esperar de Nas Garras do Terror (Claw, 2020), filme dirigido por Gerald Rascionato?
Como as imagens de divulgação, incluindo o pôster, e o trailer já deixam evidente, trata-se de um filme de monstro, tendo um velociraptor como ameaça. As prévias já mostram que o longa não dispôs de muitos recursos para convencer o espectador de que um dinossauro ronda uma cidade fantasma, restando apenas a curiosidade para ver o nível de bagaceira da produção. Todavia, curiosamente, o filme até que flui bem em sua primeira meia-hora, com dois personagens carismáticos, e que poderiam fazer parte de qualquer outro filme de terror. Durante essa primeira parte, você até fica imaginando como seria interessante se os dois chegassem ao ambiente proposto para enfrentar um fantasma ou até mesmo Leatherface. Além de ser mais barato, provavelmente a avaliação seria outra.
A dupla de protagonistas, na interpretação de Chynna Walker e Richard Rennie, traz à memória a boa química de Sara Paxton e Pat Healy em Hotel da Morte. Até mesmo na relação cômica, nos comentários, e no temor diante do perigo. Julia (Walker) é uma aspirante a humorista de stand up comedy. Ela está em viagem com o amigo Kyle para Los Angeles, onde o agente artístico “mais conceituado da cidade” irá assistir sua apresentação. No percurso, o pneu do carro estoura, obrigando-os a buscar abrigo num local próximo, já indicado numa placa como sendo uma cidade fantasma própria para turismo.
Ela ainda não está aberta ao público, mas os dois invadem o local em busca de um telefone ou alguém que possa fornecer um pneu – como o rapaz embarca numa viagem sem um estepe? Eles encontram o solitário Ray (Mel Mede), bastante simpático, mas com atitudes suspeitas. O alerta de perigo já poderia soar quando ele diz que o irmão virá na manhã seguinte para dar carona aos dois e até corrigir o problema, mas eles percebem que não existe o tal parente. E perto dali um cientista louco (Ken Mertz) fez experiências com fósseis encontrados no vale e conseguiu recriar um velociraptor – deixe a ciência para lá, pois o que importa é a ameaça. Ao tentar alimentá-la, a criatura escapa de seus domínios e fica rondando a cidade para caçar os humanos ali presentes.
Assim, cabe ao trio encontrar meios de evitar contato com o dinossauro e buscar ajuda. Por alguma razão não explicada, depois que os personagens conseguem abrigo na morada de Ray, eles planejam um meio de fugir dali. Ora, por que a pressa? Se o animal não teria meios de invadir uma casa e eles poderiam ficar em silêncio até ele se afastar para buscar alimento em algum lugar, o roteiro, de Joel Hogan em parceria do diretor Gerald Rascionato, opta por fazê-los planejar uma fuga que envolva correr pela cidade, distrair o velociraptor, enquanto Ray busca uma bateria para recarregar seu carro!! Se isso não é estupidez, não sei mais o que poderia ser.
Além dos efeitos ruins – a única boa cena é a que ilustra o cartaz, com o velociraptor sobre um RV, confrontando Julia (parece uma cena do jogo Limbo)-, Nas Garras do Terror se perde em seu final ainda mais bobo que seus personagens. O filme é praticamente uma média-metragem, pois tudo se resolve exatamente aos 60 minutos de duração, mas a produção precisaria encher de gordura para permitir lançamentos em plataformas adequadas. Assim, depois de seu final “oficial“, acontecem duas cenas completamente desnecessárias, funcionando como devaneios patéticos. E ainda há o acréscimo de um erro de gravação sem graça, além de longos créditos. É ver para crer.
Nas Garras do Terror poderia realmente funcionar se a proposta fosse outra, se o enredo simplesmente aproveitasse a ambientação para desenvolver um outro argumento, que não evidenciasse efeitos ruins e nem precisasse enrolar para chegar ao seu final. Era um filme agradável até, com potencial pela dinâmica de seus personagens, mas que resultou numa bobagem trash que poderia ser extinta.