O Diabo em Ohio
Original:Devil in Ohio
Ano:2022•País:Canadá, EUA Direção:Steven A. Adelson, Brad Anderson, John Fawcett, Leslie Hope Roteiro:Aaron Carter, Lorelei Ignas, Daria Polatin, Andrew Wilder, Joy Gregory, Kathleen Hale Produção:Ian Hay Elenco:Emily Deschanel, Sam Jaeger, Gerardo Celasco, Madeleine Arthur, Xaria Dotson, Alisha Newton, Naomi Tan, Jason Sakaki, Evan Ellison, Tahmoh Penikett, Marci T. House, Bradley Stryker, Ty Wood, Eva Bourne, Djouliet Amara, Laura Soltis, Samantha Ferris, Jennifer Copping, Keenan Tracey, Heather Feeney |
O diabo volta a ser uma opção dentre os assinantes da Netflix, mas merecia algo melhor. A temática é sempre interessante, e reconhecida em muitos exemplares recentes, tanto em filmes de possessão e satanismo, quanto séries que promovem reflexões sobre fanatismo religioso. Contudo, para funcionar bem dentro de uma proposta voltada aos fãs de horror, é preciso ser envolta em uma atmosfera aterrorizante, despertar incômodos e calafrios em uma narrativa que tente pelo menos fugir do lugar comum. O Diabo em Ohio, produzida e inspirada na obra homônima de Daria Polatin, não permite sequer um arrepio e ainda traz subplots desnecessários, é arrastada para se prolongar por oito episódios e é recheada de clichês. Pelo menos, se há uma boa notícia, podemos nos animar por ela já se apresentar como minissérie, sem perspectiva de novas temporadas.
Começa espelhando inúmeras produções ao mostrar uma jovem fugindo de uma residência rural, correndo por corredores de milho, até alcançar uma estrada em busca de carona – uma referência / homenagem ou cópia do prólogo de Colheita Maldita? Ela se livra de uma faca que trazia na mão, e consegue uma carona. Depois de uma abertura animadora ao som de “Lessons of the Fire“, de Bishop Briggs & Will Bates, a série apresenta a psiquiatra Suzanne (Emily Deschanel, de O Pesadelo), que faz apoio a um hospital, e é informada sobre a chegada de um paciente, com estranhos cortes nas costas. A jovem, que posteriormente se apresentará como Mae (Madeleine Arthur, de A Cor que Caiu do Espaço), possui um pentagrama invertido em um corte profundo nas costas, intrigando a médica e os demais da instituição.
Suzanne é esposa de Peter (Sam Jaeger), que reforma residências para venda, e mãe de Jules (Xaria Dotson), Helen (Alisha Newton) e da talentosa Dani (Naomi Tan). Quando estranhos começam a ir ao hospital atrás de Mae e o hospital já não permite mais sua permanência, até conseguir uma família, Suzanne a convida para sua casa, despertando o estranhamento dos familiares pela presença de uma garota simples, de aparência doce, mas que faz orações para Lúcifer. Mesmo sem dar muitos detalhes sobre seu passado, Mae permite que saibam que ela fugiu da pequena Amon, cidade vizinha, conhecida pela realização de rituais, algo que chama a atenção do detetive Lopez (Gerardo Celasco), que passa a procurar informações sobre a seita local e seus líderes.
A principal linha narrativa é essa. Como Mae é um elemento importante para o culto principalmente para uma futura noite de lua cheia, aos poucos ela passará a influenciar a família, seja com a aparição incômoda de símbolos, adoração por cruzes invertidas, um incidente envolvendo um corvo, incêndios e uma estranha van. Como a série não tem muito mais a contar os episódios serão preenchidos com conflitos escolares, a relação entre Jules e Helen, apresentação musical da pequena Dani, o passado traumático de Suzanne que explica seu medo de altura e as investigações de Lopez – como se houvesse razão para essa dedicação exclusiva do detetive, sem que tenha ocorrido um crime sequer e a garota já esteja ambientada em sua nova moradia.
Mae, que nos primeiros episódios falava quase nada, passa a se soltar mais, aproximando-se de Jules para irritação de Helen e de um amigo da escola. Apesar dessa desenvoltura, Suzanne, com a experiência como psiquiatra, demora episódios para extrair informações importantes da jovem; e ainda a coloca como membro de sua família, sem entender os riscos que isso poderia trazer. Porém, não há risco algum. Um irmão de Mae se aproxima de Jules, Dani tem problemas respiratórios no Halloween, a mãe sofre uma batida de carro, a outra casa se incendeia. Muito pouco para se considerar ameaçador. E é incrível como a família aceita facilmente que Mae tenha orientação religiosa de um grupo satanista, com ritual de sacrifício e adoração ao “portador da luz“. Se fosse só pela questão religiosa, abordando o satanismo sem um livro de ritual, sem túnicas pretas e máscaras de corvo, poderia ser compreensível.
O Diabo em Ohio permite uma boa analogia com a ótima Servant, produzida por M. Night Shyamalan. Contudo, esta é tudo o que o Diabo tentou ser e não conseguiu. Traz uma garota oriunda de um culto satânico em uma família, mas com elementos de terror bem evidentes. Há uma atmosfera incômoda pela presença de membros do culto como o tio George e a mulher de preto Josephine. Mesmo com elementos de humor e ambientada inteiramente em uma casa, Servant traz um dinamismo interessante, sem desvios desnecessários de sua narrativa central. Em ambas as série, as mães tentam “se livrar” das garotas arrumando estudos completos em outras cidades; em O Diabo em Ohio isso só serve para justificar a ação final de Mae, já em Servant, a possibilidade de viagem trará um desastre às intenções propostas.
Dentro do subgênero do culto ao satanismo ou a uma religião com seus preceitos esquisitos, opte por Servant. Além de contar com um elenco mais interessante, tem episódios dirigidos por Shyamalan e boas surpresas. O Diabo em Ohio, que até tem a direção do ótimo Brad Anderson (de Session 9) e John Fawcett (de Possuída), interessará aos poucos exigentes, pouco habituados a tramas onde o diabo vai além de ser apenas um detalhe.