Terror nas Trevas (1981)

3.9
(13)

Terror nas Trevas
Original:L´Adilà
Ano:1981•País:Itália
Direção:Lucio Fulci
Roteiro:Lucio Fulci, Dardano Sacchetti, Gianpaolo Saccarola
Produção:Fabrizio De Angelis
Elenco:Catriona MacColl, David Warbeck, Cinzia Monreale, Antoine Saint-John, Veronica Lazar, Anthony Flees, Giovanni De Nava, Al Cliver, Michele Mirabella, Gianpaolo Saccarola

Uma mulher entra no IML para ajeitar o corpo do marido recém-falecido, vítima de uma morte não explicada, deixando no corredor a filha do casal. Após colocar as vestes no cadáver, ela nota na maca ao lado que há um outro morto, putrefato, em um visual repugnante. Ela se assusta e grita numa expressão de horror, atraindo para o local a garotinha, que somente encontra a mãe desacordada, sendo banhada por uma substância ácida em um processo lento de degradação, com a evidência de bolhas e sangue. Essa cena nonsense faz parte do universo do famoso cineasta italiano Lucio Fulci (1927-1996), reconhecido pelas mortes gráficas e violentas, pelos closes nos olhos e por enredos que fazem uma mistureba que pouco faz sentido.

Em uma filmografia, com 61 créditos, destacam-se exatamente os filmes marcados pelos exageros e que lhe deram a generosa alcunha de “padrinho do gore“. Terror nas Trevas (The Beyond aka …E tu vivrai nel terrore! L’aldilà, entre outros títulos) foi lançado em 1981, como parte de uma trilogia macabra com pouca relação entre os longas, envolvendo a localização maldita das tais “portas do inferno“. São elas que permitem a passagem do mal absoluto, representado por uma horda de zumbis, assombrações e entidades perdidas, que podem vir acompanhadas de animais peçonhentos e agressivos. Há ainda nesse balaio de horror apocalíptico espaço para um livro maldito – Eibon -, quadros que traduzem a imagem do Inferno e bruxaria, além, claro, das tradicionais mortes violentas.

O conceito de The Beyond foi desenvolvido pelo diretor em parceria de Giorgio Mariuzzo e Dardano Sacchetti, com o apoio do produtor Fabrizio De Angelis, que imaginava a produção como algo mais risível, sem proporcionar medo, apenas repulsa. Tanto que o roteiro foi desenvolvido a partir de ideias de morte, que Fulci queria encená-las, e uma relação tênue com uma moradia construída sobre uma entrada para o Inferno. Antes mesmo do filme ter o roteiro de Sacchetti, o artista Enzo Sciotti já trabalhava na arte que seria oferecida aos produtores. Assim, o longa basicamente pode ser resumido como um conglomerado de sequências de terror costuradas de maneira cronológica, mesmo que o resultado em si não faça sentido.

Com somente três páginas do roteiro, Fulci já estava filmando em New Orleans, Louisiana, contando com um elenco de rostos já vistos em suas produções anteriores, além de velhos conhecidos do diretor. Apesar de ter uma preferência por Tisa Farrow, com quem trabalhou em Zombi 2, a intérprete da protagonista Liza Merrill ficou a cargo da atriz inglesa Catriona MacColl, de Pavor na Cidade dos Zumbis, que depois ainda faria a terceira parte da trilogia, A Casa do Cemitério, atuando como outra personagem. O mesmo aconteceu com David Warbeck, que fez O Gato Preto (1981), e foi escalado para assumir o papel do cético Dr. John McCabe, com uma arma que possui balas infinitas. Há também aqueles que se envolvem com o filme, simplesmente porque cruzaram com o diretor no processo de filmagem como é o caso de Larry Ray, contratado inicialmente como guia local para, por fim, assumir o cargo de Assistente de Produção.

The Beyond começa em 1927, com uma fotografia cinzenta, mostrando um grupo de pessoas empunhando tochas e atravessando um lago. Eles estão atrás do feiticeiro Schweick (Antoine Saint-John), que pintava um quadro no quarto 36 do Hotel Seven Doors, e acabou sendo levado, entre golpes e correntes que arrancaram nacos de sua pele, até os porões, onde foi pregado e derretido com uma substância corrosiva. Desde o momento em que os pregos atravessam seus pulsos até o rosto se tornar uma massa disforme, toda a sequência é mostrada sem timidez pelo cineasta dos exageros gráficos. A morte do bruxo é narrada por uma estranha mulher, que, lendo o Livro de Eibon, prenuncia a abertura dos portões do Inferno, antes da publicação se envolver em chamas.

Cinquenta anos depois, Liza (MacColl) chega ao local como herança de família, planejando restaurar o hotel para colocá-lo em funcionamento. Contudo, algumas situações estranhas já acontecem de imediato, como a queda de um pintor do andaime ao ver uma mulher de olhos brancos na janela, a morte bizarra do encanador Joe (Giovanni De Nava), que tem os olhos arrancados pela mão cadavérica de Schweick enquanto tentava consertar o vazamento do porão, e até o soar constante da campainha do quarto 36. Isso somado ao clamor da cega Emily (Cinzia Monreale), com seu pastor alemão, para que ela deixe o lugar o quanto antes, mas é prontamente ignorado por Liza por não acreditar nessas superstições locais. E, olha, até mesmo o médico conhecido dela, Dr. John (Warbeck), não acredita que ela precise investir nessa reforma, algo que a moça novamente ignora.

Outros assassinatos irão acontecer, como o mencionado no começo desta crítica e que envolve o corpo de Joe. Todas com a marca Fulci de não poupar recursos que incluem gosmas e sangue vermelho, e incluem os olhos, como o doloroso fim de Martha (Veronica Lazar), que já vivia no hotel com seu filho especial Arthur (Giampaolo Saccarola). Atacada pelo zumbi-fantasma Joe, ela tem a cabeça varada pelo prego usado no feiticeiro fazendo seu olho saltar. Em outro momento, um arquiteto sofre uma queda numa biblioteca e é atacado por várias aranhas: em uma cena demorada, elas avançam sobre o rapaz ainda vivo e arrancam partes de seu rosto como lábios, orelha e, claro, os olhos.

Ainda que o Fulci tenha um fetiche declarado por olhos, sempre destacando-os em suas produções, em The Beyond o uso é constante. Há quem busque uma razão figurativa para isso, como o estudioso de cinema Phillip L. Simpson, que vê nas cegueiras de Emily e da pequena Jill (Maria Pia Marsala) uma relação com “enxergar o mal” e a exposição ao livro maldito. Só não explicam a existência da própria Emily. Um anjo? Um fantasma do bem? Ela reside numa residência colonial que, ao ser visitada por John, nota-se que está abandonada há mais de cinquenta anos. E mesmo assim, ela é incomodada pelos zumbis-fantasmas na cena que culmina com o ataque do pastor alemão.

Mesmo com situações mal explicadas e furos no roteiro, The Beyond diverte pelos seus excessos. Figura facilmente entre os destaques da filmografia de Lucio Fulci – particularmente é o meu preferido -, como um bom representante do cinema violento e exagerado do diretor. Com seus percalços técnicos e um enredo que mais confunde do que explica, trata-se de uma produção que supera muito do que é visto hoje em dia, com a evolução dos efeitos especiais, em roteiros poucos ousados em que quase nada de interessante acontece.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

8 thoughts on “Terror nas Trevas (1981)

  • 08/04/2024 em 22:48
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    Quem tem Olhos para enxergar que veja esse filme do Fulcci! Com certeza eu assistirei antes que algum fantasma estrabico apareca com o machado volante!!

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  • 17/01/2023 em 14:37
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    O picareta sem talento do fulci, um dos piores (se não for o pior) diretores da historia do cinema, que acha que violencia grafica gratuita é sinonimo de bom filme de terror.

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      17/01/2023 em 16:09
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      Eu acho engraçado que vc odeia o Fulci, mas aparentemente viu todos os filmes dele, né, Ivan?

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      • 28/03/2023 em 13:40
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        Ao contrário, não consegui assistir a nenhum filme dele. Alias este mesmo não assisti nem 30 minutos para ver a mesma porcariada marca registrada do picareta demente.

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          28/03/2023 em 20:37
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          Mas a energia que vc gasta vindo nesse site todos os dias única e exclusivamente pra falar mal dos filmes dele e de outros diretores italianos é impressionante. E falar mal de coisas que então vc nem viu! Mas tudo bem, né, cada um sabe de si…

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    • 06/04/2023 em 13:45
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      Cara, esse Ivan Junior é o maior boçal que já vi comentando por aqui.
      Algum carcamano deve ter comido a senhora mãe dele, porque só isso justificaria o ódio dele pelo cinema de horror italiano.

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  • 25/09/2022 em 18:37
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    Lucio Fulci chegou na área, todos viram os copos.

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