4.7
(10)

The Terror
Original:The Terror
Ano:2018•País:EUA
Direção:Tim Mielants, Edward Berger, Sergio Mimica-Gezzan
Roteiro:David Kajganich, Andres Fischer-Centeno, Vinnie Wilhelm, Josh Parkinson, Dan Simmons, Soo Hugh, Gina Welch
Produção:Howard Ellis, Robyn-Alain Feldman, Adam Goodman, Ridley Scott
Elenco:Jared Harris, Tobias Menzies, Ciarán Hinds, Paul Ready, Adam Nagaitis, Ian Hart, Nive Nielsen, Christos Lawton, Sebastian Armesto, Jack Colgrave Hirst

A época das grandes explorações marítimas serve de mote para muitas histórias de aventuras, consolidação de lendas e mitos e também relatos assustadores. Muitas dessas expedições resultaram em progresso para composição de conhecimento geográfico e desenvolvimento de mapas e cartografias, mas nem todas foram bem sucedidas, com o retorno de seus exploradores. Uma dessas é conhecida como “a expedição perdida de Franklin“, que envolveu uma longa viagem britânica para o Ártico, liderada pelo Capitão Sir John Franklin, e iniciada em 1845, com duas embarcações, Erebus e Terror, com a intenção de encontrar a desejada Passagem do Noroeste, um atalho náutico que poderia favorecer futuras transações comerciais e acessos. Contudo, os navios, com 129 tripulantes, ficaram encalhados no gelo próximos ao Estreito de Victoria, perto da Ilha King William, sem perspectiva de mobilidade, obrigando os sobreviventes, após um ano nesse pesadelo claustrofóbico, a tentar buscar ajuda, sendo ameaçados por hipotermia, escorbuto, deficiência de zinco, fome e envenenamento por chumbo. Ou será que havia algo mais ali à espreita?

Foi com esse contexto real que o escritor Dan Simmons publicou em 2007 o romance The Terror. Desenvolveu um vasto estudo sobre o período, incluindo motivações para a expedição e sugestão de conflitos, além do papel da coroa britânica numa possível movimentação de resgate. Com a boa recepção do material literário, a obra foi adaptada para uma série homônima em 2018, indo ao ar pela AMC, empolgada com os bons números de The Walking Dead. O resultado foi uma grandiosa produção, com efeitos visuais impressionantes, com um elenco de primeira, tendo como showrunners David Kajganich e Soo Hugh e produção executiva de Ridley Scott, Alexandra Milchan, Scott Lambert, David W. Zucker e Guymon Casady. A boa recepção desencadeou uma segunda temporada, com uma nova história, também com inspiração histórica para promover elementos sobrenaturais.

Como na base real, a série tem início com informações sobre a expedição fracassada de Sir John Franklin (com a sempre boa interpretação de Ciarán Hinds) ao Ártico. Sir James Ross (Richard Sutton) está em uma tenda conversando com um homem netsilik, que afirma que os tripulantes da embarcação foram perseguidos por uma criatura conhecida como “Tuunbaq“. A narrativa retorna quatro anos, em setembro de 1846, quando Erubus se choca com um iceberg e tem problemas em sua hélice. Embora o capitão do Terror, Francis Crozier (Jared Harris), sugira a transferência de todos para seu navio, o relutante Franklin insiste no progresso da expedição para o oeste, deixando ambas embarcações presas no gelo espesso.

Em junho de 1847, uma tentativa inicial de busca de ajuda terrestre resulta no ferimento fatal de um homem inuíte, além do primeiro ataque de Tuunbaq  ao grupo, levando à morte o tenente Graham Gore (Tom Weston-Jones). Eles trazem de volta o ferido, que depois descobre-se que se trata de um poderoso xamã, único capaz de controlar a criatura, e também sua mulher, que recebe o apelido de Lady Silence (Nive Nielsen) pela dificuldade de comunicação. Outros personagens se destacam na trama, como o Comandante James Fitzjames (Tobias Menzies), conhecido pelos exageros de suas aventuras e combates; o cirurgião Harry Goodsir (Paul Ready); e o conspirador Cornelius Hickey (Adam Nagaitis), que lentamente ganha força com seus questionamentos aos capitães e possui um passado obscuro.

Além da criatura imensa que ronda as embarcações, o grupo é também ameaçado por doenças, fome e conflitos internos, como a disputa de ego entre Franklin e Francis, devido ao fato deste último ter o pedido de casamento com a sobrinha do primeiro negado. Algumas decisões erradas contribuem para o fim trágico dos tripulantes, como a organização de motins e até uma festa à fantasia, a demora em buscar ajuda, a dificuldade de comunicação e suas próprias leis. Nessa série de infortúnios, o monstro se evidencia como o próprio homem, algo comum em situações extremas em que o convívio se mostra complicado, ao passo que Tuunbaq simplesmente assume o papel de personificação das escolhas errôneas, uma ameaça coadjuvante como as incertezas de encontrar uma saída desse pesadelo.

The Terror é uma série absolutamente fantástica. Ainda que se mostre por vezes arrastada, caso você a confunda somente com um produto sobre monstro atacando navegantes, toda a sua condução é essencial para a construção da insanidade progressiva e para que os personagens adquiram profundidade. Com a direção de Edward Berger, a partir de roteiro desenvolvido por David Kajganich, ela ainda é beneficiada pela fotografia acinzentada, a cargo de Florian Hoffmeister, que amplia a atmosfera de solidão e falta de perspectiva, além de um constante medo do desconhecido, um conteúdo que sempre promove histórias assombrosas. Aliás, ambientes gélidos já deixaram rastros de boas premissas no gênero, e aqui não foi diferente.

Com um final aberto a interpretações e com uma boa diferença em relação ao livro, The Terror mostrou a capacidade criativa de Dan Simmons em produzir um horror histórico, aproveitando a liberdade que a própria história real permitiu. Mas o que teria realmente acontecido com os tripulantes das duas embarcações, além das evidências encontradas em seus corpos, ficará para sempre enterrado nas geleiras do Ártico.

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2 Comentários

  1. Achei que a segunda temporada conseguiu ser ainda melhor. Queria que tivesse continuado…

  2. Uma série da AMC muito boa. O frio, a escuridão e o isolamento foram perfeitamente dimensionados à tela. Falhou tecnicamente no efeito visual, que são expostos nas filmagens diurnas. Uma temporada foi o limite perfeito de tempo.

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