A Ilha dos Mortos
Original:Survival of the Dead
Ano:2009•País:EUA Direção:George A. Romero Roteiro:George A. Romero Produção:Paula Devonshire Elenco:Alan Van Sprang, Kenneth Welsh, Kathleen Munroe, Joshua Peace, Dru Viergever, Eric Woolfe, Shawn Roberts, Mitch Risman, Julian Richings, Wayne Robson |
Os mortos continuam irreconhecíveis no último filme de George A. Romero sobre a temática. Aliás, o próprio cineasta parecia ter perdido a mão quando quis fazer esse e o filme anterior, Diário dos Mortos (Diary of the Dead, 2007), como se resolvesse manter os mortos sob seu controle e fazer uso de subgêneros em voga, como os “found footages“. Na época de sua realização, achei até que fosse uma brincadeira de Romero para verificar até onde iriam seus seguidores, se aprovariam qualquer coisa que ele fizesse. Com as críticas negativas se acumulando, ele assumiu que quis referenciar uma produção clássica e o principal: o filme não faz parte da franquia original, envolvendo A Noite dos Mortos-Vivos, Despertar dos Mortos, Dia dos Mortos e Terra dos Mortos, quase como um exercício cinematográfico.
A homenagem é toda para o faroeste Da Terra Nascem os Homens (The Big Country, 1958), de William Wyler, que colocava duas famílias em disputa. A Ilha dos Mortos apresenta as diferenças evidentes entre os O’Flynns e os Muldoons: os primeiros acham que os mortos devem ser eliminados, enquanto os Muldoons querem conservá-los até que apareça uma cura. Em meio a essa disputa, estão alguns militares que, sabendo da ameaça crescente de zumbis, resolvem desertar em busca de um local seguro. O sargento “Nicotine” Crockett (Alan Van Sprang), Kenny (Eric Woolfe), Francisco (Stefano DiMatteo) e Tomboy (Athena Karkanis) seguem rumo à tal Ilha Plum, a partir de uma divulgação de O’Flynn (Kenneth Welsh), depois que este e alguns foram banidos do local ao tentarem matar duas crianças zumbis.
Antes de encontrar uma embarcação, eles roubam os personagens do filme anterior, em uma R.V., mostrando que o longa é realmente uma continuação de Diário dos Mortos, e levam na expedição Boy (Devon Bostick), que se mostra um exímio atirador. Confrontam O’Flynn no cais apenas para que ele depois consiga uma carona de volta à ilha, com pretensões de se vingar de seu inimigo Muldoon (Richard Fitzpatrick). No local, encontram mortos-vivos acorrentados exercendo funções que faziam em vida, como carteiros e trabalhadores rurais, e descobrem que uma das filhas de O’Flynn, Janet (Kathleen Munroe), apaixonada por montaria, transformou-se em zumbi.
Os invasores ganham terreno até finalmente se encontrarem com Muldoon e seus comparsas, dispostos a provar que é possível “ensinar os mortos a se alimentarem de outras coisas“. Assim, deixam Janet em um cercado, com o seu cavalo, sem contato com humanos, para que ela se alimente do animal, numa proposta tão absurda quanto o filme inteiro. Será que não pensaram que o processo poderia durar dias, semanas, até que o morto perceba que sua única fonte de alimentação é o cavalo? Não seria mais fácil ferir o animal para que o cheiro de sangue ou a exposição de partes de seu corpo pudesse mostrar à zumbi que ali também tem carne?
Nada nesse filme de George A. Romero empolga. Até mesmo os efeitos especiais, uma das marcas interessantes de sua filmografia sangrenta, foram substituídos por digitais, sendo que alguns são incrivelmente ruins. A cena em que alguns caipiras mantêm cabeças em estacas – uma cena muito melhor e mais bem feita foi vista em The Walking Dead -, numa possível crítica ao racismo, é de doer os olhos, assim como a do “tocha humana zumbi“, que deveria ser divertida. E a elas, inclui-se o sangue que espirra dos combates e as maquiagens mal realizadas, feitas sem a mesma dedicação de seus trabalhos iniciais. Há apenas uma sequência no final, com uma vítima sendo destroçada enquanto as criaturas comem sua carne, mas é muito pouco pelo currículo do cineasta.
Romero deixa o enredo irritante, sem protagonismo, sem personagens interessantes. Não se pode criticar as atuações, pelo menos, mas não são suficientes para tornar o filme minimamente recomendado. Algumas ideias soltas, como o debate sobre considerar os mortos como pessoas ou como criaturas, se há realmente uma expectativa de cura ou reeducação, são mal trabalhadas. Em Despertar dos Mortos, as reflexões são apresentadas no prólogo, na estação de TV, e são mais verossímeis, com os especialistas apresentando suas teorias em meio ao caos.
Realizado com US$4 milhões de dólares, como produção independente distribuída pela Artfire Pictures, A Ilha dos Mortos teve passagens pelos festivais de Toronto, Veneza, Trinity of Terrors, Fantastic Fest, em Austin, e o de Nouveau Cinéma em Montreal. Fico imaginando o constrangimento do público, contando com a presença do diretor, e tendo que aplaudir o filme no final. Mesmo com todos os seus problemas, o longa teve uma boa passagem pelos cinemas, arrecadando um total bruto de US$143 milhões, comprovando a força de George A. Romero como diretor prestigiado em seu trabalho final.
Alguns críticos até consideraram a obra divertida, o que é surpreendente. Vendo novamente depois de mais de dez anos, o filme continua absurdamente ruim. Sonolento, chato e desagradável, é o enterro definitivo de qualquer possibilidade de um reencontro com os mortos romerianos. Anos depois, o cineasta começou a desenvolver um novo roteiro para o que seria o quinto filme oficial da franquia original, continuando as ações de Terra dos Mortos. Não viveu para apresentar a história de Twilight of the Dead, ficando para sua esposa a responsabilidade de dar continuidade ao projeto. Se irá vingar, ainda não se sabe, mas é impossível que apresente mortos tão descaracterizados como os vistos aqui.
O tal do Twilight of the Dead é, provavelmente, um dos filmes que eu mais espero, mas mesmo assim tenho medo do que possa vir. Muitos efeitos, aqueles zumbis maratonistas, muitos jumpscares… sei lá. Essas coisas que estão em todos os filmes de terror atuais poderiam acabar de vez com a saga dos mortos que mestre George Romero. Ainda assim, fico imaginando como estaria o mundo depois de mais de meio século em que os vivos passaram a ter que conviver (e fugir) com os mortos nas ruas.
Corrigindo acima, não se levava a sério.
Eu gosto de ambos os filmes, em especial Diário dos Mortos, um filme found footage que justifica o editor e é mostrado em terceira pessoa. Sobre Ilhas dos Mortos, Romero disse em entrevista que era um filme bem humorado, que se levava a sério, gosto da violência cartunesca do filme.
Para mim, o pior filme do Romero. Uma pena…