4.5
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Além das Profundezas
Original:Breaking Surface
Ano:2020•País:Suécia, Noruega, Bélgica
Direção:Joachim Hedén
Roteiro:Joachim Hedén
Produção:Julia Gebauer, Jonas Sörensson
Elenco:Moa Gammel, Madeleine Martin, Trine Wiggen, Jitse Jonathan Buitink, Lena Hope, Alessio Barreto, Maja Söderström

Além das profundezas há mistérios que as viagens de exploração e a Sétima Arte não souberam abranger em sua plenitude. Fala-se de monstros marinhos, de criaturas cegas e cavernas aquáticas com diversas formas de vida, adaptadas ao ambiente, não sendo um lugar de fácil acesso aos seres humanos. Além da distância e da escuridão, alcançar o fundo do mar exige recursos e treinamento aos que tentarem a proeza, incluindo roupas de mergulho e garantia de oxigênio. Esse elemento essencial à respiração dos seres vivos promove as cenas de tensão e suspense do longa sueco Além das Profundezas (Breaking Surface, 2020), de Joachim Hedén. É um belíssimo exercício de construção de medo e desespero, envolvendo o fundo do mar, sem a necessidade de encher de tubarões e outras ameaças marítimas. Aliás, as principais são exatamente as que não estão na água.

Duas irmãs cresceram como peixes, nadando, mergulhando e tendo experiências de quase afogamento. Tuva (Madeleine Martin) passou a trabalhar como mergulhadora profissional, liberando hélices de barcos presas entre algas; Ida (Moa Gammel) se afastou depois da separação de seus pais, e também está em uma relação em vias de um desquite. Ambas se encontram para um mergulho em família, sem que a mãe possa ir junto devido a uma forte gripe. Elas levam equipamentos extras, como tanques de oxigênio, deixando dois próximos de uma encosta e outros dois no porta-malas do veículo, cuidado pelo cãozinho da família. Pouco antes de entrarem na água, um pequeno deslizamento no local já traz um alerta sobre futuros percalços. Ainda assim, entram na água, visitam uma caverna conhecida pelas duas, liberando oxigênio para terem o que respirar, até que uma avalanche ainda maior as atinge.

Tuva fica presa embaixo de uma pedra imensa no fundo do mar, exigindo que a irmã faça tudo o que for possível para chamar ajuda ou simplesmente trazer mais tanques para uma resistência mais duradoura. Mas a sorte está bem distante delas: o deslizamento soterrou os tanques na encosta, assim como as chaves do veículo, dificultando a abertura do porta-malas. Ida precisa agir rapidamente pois o oxigênio do tanque da irmã já está se esgotando, mas também necessita de um autocontrole por todo o peso da responsabilidade, com o retorno à retina de imagens de um passado que quase resultou na morte da Tuva, e toda a pressão psicológica à qual está sendo submetida, exigindo esforço físico e tranquilidade. Ora, a respiração acelerada acelera a baixa do oxigênio…

Diferente do longa de Johannes Roberts, Medo Profundo, que quis bater o recorde de cenas submersas, mas também precisou de tubarões, o interessante de Além das Profundezas é o jogo psicológico que envolve e tortura Ida. Sem qualquer apoio próximo, ela corre em disparada para uma moradia a alguns quilômetros, precisando invadi-la em busca de telefone ou alguma ferramenta que a permita abrir o porta-malas. Lá ela é atacada por um cachorro, o único animal ameaçador de toda produção. E o mau agouro continua perseguindo-a, em sequências em que derruba um tanque e afeta seu lacre ou na ausência do acessório necessário para ajudar a irmã, o que a leva a outras alternativas.

Assim como Tuva e Ida, o espectador também é afetado pela insegurança e falta de ar. Sem que precise se imaginar no lugar de cada uma delas, a tensão consome o público numa crise de pânico e angústia – é possível entender a pressa da personagem em emergir mesmo entendendo os riscos. Joachim Hedén faz um excelente trabalho de condução da adrenalina, com belíssimas imagens submersas, fazendo uso também da ótima fotografia, seja dos vales gélidos (a cargo de Anna Patarakina) ou do ambiente aquático (com Eric Börjeson). Curiosamente, o próximo trabalho do diretor, já em pós-produção, tem o título The Last Breath e conta mais uma vez com sequências submersas, mas desta vez com a ameaça de tubarões. E é um dos últimos filmes de Julian Sands.

Com a boa aceitação do público, o longa ganhou uma versão enxuta americana, intitulada Sem Ar (The Dive, 2023), com direção de Maximilian Erlenwein, com estreia agendada para o próximo dia 14 de setembro. O ideal seria o infernauta conhecer o filme original para fazer as comparações e descobrir qual deles o deixou mais sem fôlego.

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1 comentário

  1. Assisti o filme e me surpreendi positivamente.

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