A Rebelião
Original:Captive State
Ano:2019•País:EUA Direção:Rupert Wyatt Roteiro:Erica Beeney, Rupert Wyatt Produção:Rupert Wyatt, David Crockett, Jeff Valeri, Robert Kessel Elenco:John Goodman, Jonathan Majors, Ashton Sanders, Vera Farmiga, Kevin Dunn, James Ransone, Alan Ruck, Madeline Brewer, Colson Baker, Kevin J. O'Connor, Ben Daniels, Caitlin Ewald |
Em um planeta invadido e dominado por extraterrestres monstruosos, você seguiria as regras de cabeça baixa ou se juntaria à resistência para sabotar o novo sistema de opressão? Em Captive State temos uma premissa muito inteligente e interessante, mas sua execução decepciona, ficando melhor no campo das ideias. O longa tem Rupert Wyatt na direção, do excelente Planeta dos Macacos: A Origem (2011), e grandes nomes no elenco, como John Goodman, Jonathan Majors, Ashton Sanders e Vera Farmiga.
Dez anos atrás da linha do tempo do filme, alienígenas invadiram a Terra e a dominam. Os Legisladores (como são chamados) têm alguns representantes humanos para o controle do planeta, criando ainda mais desigualdade, pobreza, censura e violência, incluindo um sistema de rastreamento implantado em todos por tecnologia alienígena. Enquanto isso, uma célula de resistência em Chicago, organiza-se secretamente para colocar um plano de sabotagem e revolta em ação. No dia da invasão, os pais de Gabriel (Ashton Sanders) são mortos, e após isso ele vive nas sombras do grande revolucionário que se tornou seu irmão, Rafe (Jonathan Majors).
Rafe está desaparecido e Gabriel, que parece não querer nada com a revolução, é perseguido pelo policial William (John Goodman), que era amigo de seu falecido pai. Outros personagens passam a ser apresentados e fazem parte de uma rede para conectar à trama, porém não nos conecta com o principal: os personagens.
Para um filme de invasão alienígena, há uma proposta original: sem muita ação e CGI, focando sua trama nos humanos como escravos em seu próprio planeta. Vemos poucas cenas com os Legisladores, porém essas poucas são tão escuras, ambientadas de noite, com um CGI tão “segundo plano” que a dificuldade de enxergá-los parece proposital. Então quando aparecem, quase não causam impacto, além da estranheza em visualmente lembrarem um porco-espinho.
Já os personagens humanos são tão jogados rapidamente na tela, que, quando reaparecem, precisamos parar pra lembrar quem é e qual seu papel ali. São muitos nomes e fatos que podem fazer sentido para quem estava escrevendo, mas para quem assiste… Após a primeira meia hora de filme somos bombardeados com recortes de informação que não se ligam completamente. E como os humanos são o foco, a grande falha aqui é a falta de desenvolvimento dos mesmos. Todos rasos e aparentemente secundários na própria narrativa, sem protagonismo. É quase aquela frase popular de que “quando tudo é importante, nada é importante”.
Podemos fazer um paralelo como uma crítica social ao racismo e xenofobia, militarismo e até mesmo essa vigilância constante que já sofremos. Com tantos temas importantes, o longa é raso e não escancara e nem traz à tona a revolta sobre nenhum deles. Como se fosse um checklist de presença. Mas para uma boa história sabemos que só a presença não é o suficiente para sustentar uma crítica.
No segundo ato do filme, acompanhamos a célula da resistência. Um grupo de pessoas com motivações que queremos nos identificar e torcer, mas… fica difícil criar empatia com apenas rostos que mudam de minuto para minuto e quando voltam já nem lembramos mais o que estavam fazendo. Por exemplo: Rafe é um dos líderes e um nome importantíssimo para a resistência, mas… como ele chegou até ali? Como essa resistência foi criada? Qual o seu tamanho? Quais são suas vitórias e derrotas? E a oposição cheia de ricos que não sofrem nada com esse sistema totalitário também não é explorada para mostrar os horrores que motivaram a resistência existir ou como perpetuam ainda mais a desigualdade no planeta.
O ritmo da narrativa começa a passos lentos e depois é tudo tão corrido que quando você ainda está juntando as peças… acabou. Não é uma experiência que traz aquele aproveitamento e satisfação. Nem como um filme de ação, nem como thriller e muito menos como terror. Seus picos para o clímax passam batidos, como a cena de uma sabotagem em um grande evento televisionado, onde a resistência está infiltrada e de repente os aliens são chamados para patrulhar o lugar. A tensão é pouca, o medo ausente e a emoção quase nula. Isso para o que deveria ser um dos melhores momentos do longa.
O personagem de John Goodman é o mais intrigante. Além de sua ótima atuação, ficamos nos perguntando qual sua real motivação. Ele trabalha para os opressores, mas está sempre presente de maneira misteriosa com os oprimidos… mas até ele acaba caindo no esquecimento. Chega um momento da história que paramos de nos importar com ele e com todos os outros. Inclusive uma das quebras de ritmo principais é quando Gabriel, personagem que acompanhamos em foco pela primeira grande parte do filme, de repente some por pelo menos meia hora. E mais um personagem que deveria ser de suma importância é esquecido por nós.
Um ótimo filme de invasão alienígena com crítica social é Distrito 9, principalmente pela conexão e empatia que conseguimos ter pelo personagem principal. E até o famoso Independence Day é ótimo no seu clima de tensão e ação típica de uma leva de filmes dos anos 90. A premissa de Captive State poderia estar ao lado desses grandes nomes, mas infelizmente não foi o caso. Até a ideia dos aliens pouco aparecerem mas causarem um grande medo e tensão em quem assiste é ótima. Uma pena que não consegue cumprir com o que promete.
Principalmente porque a promessa já começa com um elenco de ótimos nomes da indústria. As atuações nos convencem que os atores são ótimos, mas não conseguem ir além por conta do roteiro e da edição. Vera Farmiga foi uma das personagens que mais me chamou atenção, exalando poder em seu apartamento “vintage”, mas ela também só aparece para despertar a curiosidade dando um quê de rede de intrigas, mentiras e falas codificadas.
A própria ambientação futurista poderia ser um interessante pano de fundo e, dependendo, até um personagem à parte. Parece um futuro crível e palpável, já que passamos por situações semelhantes hoje com uma tecnologia menos avançada.
Se não fosse pelos grandes nomes e efeitos tecnológicos para recriar esse mundo beirando o apocalipse, me fez lembrar de filmes de mesma temática em meados dos anos 2000 que também ficaram esquecidos por ser mais do mesmo por sua falta de investimento e originalidade. Como o remake de O Dia em que a Terra Parou, grande nome e dinheiro, pouco sucesso de execução.
E mesmo assim, esteticamente, esse mundo apocalíptico possui um apelo que funciona com a proposta. É atrativo aos olhos e ao mesmo tempo é convincente beirando uma visão possível sem muitas firulas. Isso mostra o quanto de dedicação e qualidade esteve por trás da produção do longa.
Infelizmente a quantidade de furos nesse roteiro nos impede de mergulhar a fundo em um grande potencial de temática. O plot guardado para o final quando acontece não emociona, pois é mais uma informação jogada ao vento. Conte com boas atuações em momentos pontuais, poucos momentos memoráveis e um número menor ainda de aparição extraterrestre. Como um todo, o filme não é dos piores, mas está num pódio de “grandes promessas e ainda maiores decepções”.