4.1
(18)

A Semente do Mal
Original:Amelia's Children
Ano:2023•País:Portugal
Direção:Gabriel Abrantes
Roteiro:Gabriel Abrantes
Produção:Gabriel Abrantes, Margarida Lucas
Elenco:Brigette Lundy-Paine, Carloto Cotta, Anabela Moreira, Alba Baptista, Rita Blanco, Beatriz Maia, Nuno Nolasco, Sónia Balacó, Valdemar Santos, J. Dixon Byrne

Procurando por sua origem e seus pais biológicos, Edward (Carloto Cotta) recebe, através de um serviço de identificação de DNA que ganhou de presente de aniversário, o contato com seu irmão gêmeo, que o convida pra conhecer a ele e sua mãe, em seu lar ancestral, no interior de Portugal. E, ao chegar na bucólica região onde nasceu, Ed e sua namorada Riley (Brigitte Lundy-Paine) começam a conhecer a estranha e bizarra história de sua família, ou melhor, de sua mãe, que esconde segredos aterrorizantes.

A Semente do Mal é uma produção portuguesa para o mercado estrangeiro, tanto que o título original é Amelia’s Children (que seria algo como “As Crianças de Amélia”), em inglês mesmo, e é uma pena que o título nacional não tenha seguido uma tradução mais próxima, o que poderia até dar uma boa impressão para o filme (e ser mais próximo do que ele apresenta). Com um orçamento relativamente baixo, mas muito bem utilizado, o que pode-se perceber na qualidade técnica do filme, em sua excelente fotografia (na maior parte do tempo), som, cenografia e outros aspectos.

Mas a qualidade visual e estética pode enganar o espectador, fazendo-o crer que está diante de uma grande obra do terror, que irá presenciar um belo desenrolar de uma trama psicológica que será construída diante dele. Essas promessas (não tão) rapidamente vão morrendo e dão lugar a um certo desencanto e decepção.

Gabriel Abrantes tem bons momentos em sua direção, mas também tem péssimas escolhas em outros. Seu roteiro desenvolve a história de forma difusa e lenta, e não é lenta de uma forma boa. É normal e esperado que em um terror psicológico dedique uma boa parte do tempo em tela para a construção dos personagens e da trama, para melhor compreensão e aceitação do peso psicológico necessário, para que entendamos o que assusta e o que é terrível na vida dos personagens naquele momento, por que e como tais acontecimentos impactam a vida dos mesmos.

E não é o que acontece neste caso, infelizmente. Pouco tempo é dado para que conheçamos os protagonistas e poucos motivos são apresentados para que nos importemos com eles. Os atores também não ajudam muito, como a atuação de Carloto Cotta, que é perdida e que aparenta confusão constante. Quando ele interpreta seu irmão gêmeo (sim, ele faz os dois papéis), ele também não consegue convencer ao representar uma pessoa completamente diferente do outro personagem. Ao todo, as atuações dos atores principais são sofríveis, a pobre Brigitte Lundy-Paine até consegue alguma coisa, mas se perde no meio da ruindade ao seu redor.

O que é um grande problema se pararmos pra pensar que o ponto focal do filme são esses personagens. O roteiro difuso dá atenção para certas informações e cenas (sem maior profundidade) que não têm lá muita relevância pra trama, ao mesmo tempo que não apresenta informações que seriam muito mais necessárias para a compreensão do enredo, dos personagens, para podermos ter medo deles ou não. Em dados momentos, o diretor tenta criar um clima de tensão para gerar um susto que, depois de mostrado, o espectador se pergunta “só isso? Não tem mais, não?”.

Deveríamos ter medo de Amélia (Anabela Moreira), a estranha mãe de Ed e Manuel, e o filme se desenrola como se ela fosse a coisa mais assustadora dali, mas nos é dado muito pouco para que seja construído esse medo. A maquiagem para apresentá-la como uma pessoa terrivelmente idosa é destoante e não convence, mesmo com uma explicação razoavelmente bem pensada para explicar por que a mulher estaria daquela jeito. Mas isso não explicaria, por exemplo, a escolha de uma atriz jovem para o papel da mãe idosa, sendo que ela não aparece sem a terrível maquiagem e há outra atriz para interpretá-la como jovem (em flashback).

E tudo poderia até ser relevado se a história se desenvolvesse de uma forma minimamente razoável… o que não acontece. O filme não se decide se é um horror psicológico, se é um terror sobrenatural, tem momentos que flerta com um slasher, mas nem isso faz muito bem. E nessa tentativa de colocar vários elementos, talvez para agradar o público ou preencher o tempo do filme, a coisa toda que já estava perdida, se perde de vez.

O que deveria ser um contraste, mostrar um lugar lindo e idílico que esconde algo terrível, acaba se tornando uma bagunça bastante confusa e mal ajeitada. E nem isso é de uma forma boa, já que uma certa confusão e dúvida até seriam interessantes em histórias que envolvem a descoberta de passados e histórias e boatos.

A Semente do Mal é um filme que engana, começando bonito e cheio de promessas e quando se vai notando que não conseguimos sequer conhecer os personagens, que não conseguimos descrever o protagonista com qualquer coisa que não seja genérico, percebemos que é como um prato muito bonito, bem servido, mas que não tem gosto do que aparenta, não sustenta e nem sequer deixa um gosto ruim na boca. Ele só… é aguado.

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