4.4
(5)

Twisters
Original:Twisters
Ano:2024•País:EUA
Direção:Lee Isaac Chung
Roteiro:Mark L. Smith, Joseph Kosinski
Produção:Patrick Crowley, Frank Marshall
Elenco:Daisy Edgar-Jones, Glen Powell, Anthony Ramos, Brandon Perea, Maura Tierney, Harry Hadden-Paton, Sasha Lane, Daryl McCormack, Kiernan Shipka, Nik Dodani, David Corenswet, Tunde Adebimpe, Katy O'Brian, David Born

Os bons ventos  mostraram que era o momento certo de resgatar a ideia central do divertido Twister, lançado em 1996, e que serviu de influência para os rumos do cinema-catástrofe. Mas por que demoraram tanto, uma vez que o longa original fez bastante sucesso na época, tendo um Jan de Bont inspirado e o protagonismo carismático de Helen Hunt e Bill Paxton? Durante as últimas décadas, por vezes uma continuação oficial virou pauta, com o interesse, tanto de Hunt quanto Paxton, em voltar a ver uma vaquinha sendo arrastada por um tornado, mas a atriz não conseguiu convencer os produtores a deixá-la dirigir uma ideia própria e o bom ator faleceu em 2017. Assim, somente em 2022, o cineasta Lee Isaac Chung fez uma apresentação aos produtores Frank Marshall e Steven Spielberg, intercalando cenas de Twister com seu último longa, Minari – Em Busca da Felicidade, de 2020, ambientado no Arkansas, na cena em que os personagens testam um “relógio de tornado“, mostrando-se apto à função e algumas ideias para o novo filme.

De Twister para cá, o cinema-catástrofe se dividiu entre blockbusters (O Dia Depois de Amanhã), produções picaretas (Independence Daysaster) e paródias (a franquia Sharknado), sendo que os tornados foram pouco explorados de maneira, no mínimo, satisfatória – o melhor do período é o found footage No Olho do Tornado, e que, curiosamente, tem momentos melhores do que Twisters, vale ressaltar. Com base nessa bagagem de mais de vinte anos, o que o novo filme poderia apresentar de novidade? Seria uma continuação, um reboot ou remake? Está mais para reboot, com uma relação tênue com o longa de 1996, além da ambientação no mesmo universo.

Como no original, o longa começa numa tragédia em Oklahoma. A estudante Kate Carter (Daisy Edgar-Jones, de Fresh) está liderando uma perseguição a tornados com o namorado Jeb (Daryl McCormack) e os amigos Javi (Anthony Ramos), Addy (Kiernan Shipka, de Dezesseis Facadas) e Praveen (Nik Dodani), fazendo uso da Dorothy V – em Twister, foram até o IV – pela liberação de sensores e esferas de poliacrilato de sódio, com a teoria de que seria possível diminuir a intensidade do fenômeno. Surpreendidos por um F5, somente Javi e Kate sobrevivem ao episódio, um trauma que a jovem terá que conviver pelos próximos cinco anos, em constantes sonhos em que se vê abraçada por Jeb.

Trabalhando em Nova York, em um centro de registros meteorológicos, ela é contatada por Javi, agora funcionário da grande Storm Par, e que precisaria da ajuda dela para utilizar um sistema de varredura de tornados a partir de radares posicionados como um triângulo. Kate aceita participar por apenas uma semana, depois que assiste uma reportagem sobre um tornado ter destruído uma cidade. Com companheiros formados em grandes universidades, incluindo Scott (David Corenswet, o projecionista de Pearl), logo ela conhece uma equipe rival, comandada pelo popular youtuber Tyler Owens (Glen Powell), conhecido como “domador de tornados“, com uma legião de seguidores, e transmissão de experiências ao vivo na internet.

A primeira tentativa de Kate falha pela falta de coragem da garota em se aproximar do fenômeno. Tyler percebe que a garota possui o dom de saber onde serão as formações, assim como Bill Harding (Paxton) no original, na captação de um punhado de areia – já ela observa o movimento de pétalas soltas ao ar. A competição entre as equipes, como acontecia no primeiro filme, divertem na proposta, mas com um diferencial: aos poucos Kate percebe que Tyler não é tão superficial como apresenta e que as arrecadações com venda de roupas e acessórios de sua equipe servem para auxiliar vítimas de tornado, ao passo que a tal Storm Par tem interesse em lucrar com a compra de terras em locais devastados por tornados. Ela se une a Boone (Brandon Perea), Dani (Katy O’Brian), o experiente Dexter (Tunde Adebimpe) e Lily (Sasha Lane) enquanto pensa em reviver seu projeto de cinco anos atrás.

Se no original havia a psiquiatra Dra. Melissa Reeves (Jami Gertz) como uma “estranha no ninho“, no papel de alguém sem experiência se envolvendo na aventura, representando o espectador, neste a função foi assumida pelo jornalista inglês Ben (Harry Hadden-Paton), promovendo alguns momentos divertidos. Outra curiosidade está no veículo usado por Tyler, a partir de âncoras que o prendem ao solo e permitem “entrar no tornado“, e que foi algo visto no filme No Olho do Tornado. Também há semelhanças com o filme de De Bont na energia do grupo, utilizando trilha sonora como motivação das ousadas tentativas de se aproximar dos ventos fortes.

Com bons efeitos especiais, mas sem vaquinha voando, o longa também faz uma referência ao cinema de horror. Em 1996, um cinema drive-in exibia O Iluminado, de Stanley Kubrick, até ser arrasado por um tornado. Em Twisters, é a vez do clássico Frankenstein, de 1931, tendo exibição em uma cinema de uma cidade pequena sendo “invadido” pelo fenômeno, no último ato. E há boas cenas de destruição como era de se esperar, mas o primeiro filme fez um trabalho melhor nesse sentido ao atirar mais coisas sobre os personagens, obrigando-os a desviar de uma casa na estrada, postes e troncos, e precisando buscar abrigo em um celeiro, repleto de ferramentas perigosas.

Trouxe uma grande popularidade ao ator Glen Powell, já sendo associado a diversos outros papéis pelo carisma apresentado em cena, roubando o protagonismo de Daisy Edgar-Jones. É seu personagem que traz um momento incômodo – para mim – quando ele resolve apresentar a ela “o melhor do ser humano“, levando-a a um rodeio, com animais servindo de diversão para montadores. Para quem não vê com bons olhos essas festas de peão, a chegada do tornado me fez sentir preocupação apenas com os animais em busca de abrigo.

Twisters vale o ingresso, principalmente para os que assistirem na tela grande. Além de divertido, o novo filme, mesmo seguindo uma linha parecida com o original, deve servir também para resgatar a primeira aventura, apresentando-a a novos públicos. Faturando mais de US$ 170 milhões e com críticas favoráveis, já há conversas sobre uma continuação, quem sabe com a participação de Helen Hunt, desde que o público não precise esperar por quase trinta anos até o próximo vento giratório.

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