O Exorcismo
Original:The Exorcism
Ano:2024•País:EUA Direção:Joshua John Miller Roteiro:Joshua John Miller, M.A. Fortin Produção:Bill Block, Ben Fast, Kevin Williamson Elenco:Russell Crowe, Ryan Simpkins, Sam Worthington, Chloe Bailey, Adam Goldberg, Adrian Pasdar, David Hyde Pierce |
Antes de qualquer coisa, um esclarecimento: ainda que os dois filmes tenham Russell Crowe interpretando um padre, O Exorcismo não é uma sequência de O Exorcista do Papa. Tanto não é, que O Exorcismo começou a ser gravado muito antes de O Exorcista do Papa, em 2019, mas teve seu lançamento atrasado por conta da pandemia de COVID-19, que impossibilitou a regravação de algumas cenas (com tais regravações já sendo mau sinal) e a finalização do longa. Eis que, cinco longos anos depois, O Exorcismo finalmente chega aos cinemas brasileiros nessa semana.
As semelhanças entre os dois filmes se limitam a Russell Crowe usando uma batina, já que em O Exorcismo ele nem é padre. Explico. Aqui Crowe vive Anthony Miller, um ator que se afastou da carreira por alguns anos devido a problemas com álcool e drogas. Agora ele prepara um hesitante retorno no filme The Georgetown Project, no qual vai interpretar um padre que deve exorcizar uma adolescente possuída. As semelhanças do filme dentro do filme com O Exorcista são propositais, como o próprio título já adianta: o clássico de 1973 se passa no bairro de Georgetown, em Washington DC.
Mas a relação com O Exorcista vai muito além, pois quem dirige O Exorcismo é Joshua John Miller, filho de Jason Miller, intérprete do Padre Karras no filme de William Friedkin. Ele também é responsável pelo roteiro do longa junto com seu parceiro M.A. Fortin, com quem escreveu o excelente Terror nos Bastidores, outro filme que trabalha a metalinguagem para contar sua história – com um resultado muito melhor do que em O Exorcismo.
O filme começa bem, com Tony lidando com a ansiedade pela possibilidade de voltar a atuar ao mesmo tempo em que tenta melhorar seu relacionamento com a filha adolescente, Lee (Ryan Simpkins), que volta a morar com ele depois de ser suspensa da escola. A garota vira sua assistente pessoal no set de filmagens, onde vê seu pai lutando para entregar uma boa atuação e, não conseguindo, ser “incentivado” pelo diretor Peter (Adam Goldberg), que usa as falhas do passado de Tony para tirar dele o necessário para o papel.
O Exorcismo tropeça quando deixa de lado as questões psicológicas de seus personagens principais e parte para um terror cheio de clichês e jumpscares exagerados. Com as gravações acontecendo, Tony passa a agir de forma violenta, especialmente com Lee, e a princípio não se sabe se isso está acontecendo por conta do álcool ou se é uma possessão, mas qualquer ambiguidade acaba quando vemos, como em tantas outras vezes, o possuído se retorcer e estalar de formas impossíveis.
É interessante Joshua John Miller fazer uso da metalinguagem para contar essa história, além de mencionar os “sets amaldiçoados” de diversos filmes que tiveram problemas inexplicáveis durante sua produção, o próprio O Exorcista sendo um deles, mas isso não ajuda muito um roteiro bagunçado que explora assuntos delicados, como trauma e relações familiares, de um jeito bem capenga. Abusos que o personagem de Crowe teria sofrido quando criança dentro da igreja aparecem como flashbacks que não se conectam ao enredo, e a causa da possessão, como ou quando ela aconteceu, nunca fica clara. E sim, há uma cena de exorcismo no filme, claro, mas que parece ter vindo diretamente da escola de O Exorcista: O Devoto em questão de que qualquer fulano é capaz de realizar um exorcismo com resultados caóticos.
Com uma sequência de O Exorcista do Papa a caminho, não é agora que Russell Crowe vai abandonar esse nicho em que parece ter se encontrado, mas, em tempos em que figuras do catolicismo estão em alta no cinema de terror, são as freiras que têm mostrado mais força e personalidade.