4.4
(19)

Pisque Duas Vezes
Original:Blink Twice
Ano:2024•País:EUA
Direção:Zoë Kravitz
Roteiro:Zoë Kravitz, E.T. Feigenbaum
Produção:Bruce Cohen, Tiffany Persons, Garret Levitz, Zoë Kravitz, Channing Tatum
Elenco:Naomi Ackie, Channing Tatum, Alia Shawkat, Adria Arjona, Christian Slater, Simon Rex, Kyle MacLachlan, Haley Joel Osment, Geena Davis, Liz Caribel, Trew Mullen, Levon Hawke

Zoë Kravitz já é um rosto conhecido por sua atuação em filmes como The Batman e Mad Max: Estrada da Fúria, mas agora ela dá seus primeiros passos atrás das câmeras com Pisque Duas Vezes, em que também assina o roteiro junto com E.T. Feigenbaum, com quem já trabalhou na série de TV Alta Fidelidade (2020). Curiosamente, 2024 é um ano que tem marcado a estreia na direção de outras mulheres de sobrenomes conhecidos, com Ishana Shyamalan e seu Os Observadores e Caitlin Cronenberg dirigindo Humane. Mas com Pisque Duas Vezes estreando nos cinemas, qual é o resultado? Bom, pra mim, um dos filmes mais interessantes desse ano.

No filme conhecemos Frida (Naomi Ackie), que divide com a melhor amiga, Jess (Alia Shawkat), um apartamento, cujo aluguel está atrasado, e um trabalho recorrente como garçonete em eventos. O job da vez é um jantar beneficente organizado pelo bilionário da indústria da tecnologia Slater King (Channing Tatum), a quem conhecemos através de vídeos de entrevistas nos quais ele comenta o quanto sente por seu mau comportamento, se dizendo uma pessoa mudada. Não sabemos qual foi exatamente o problema, mas, na vida real, é típico: um bilionário poderoso é pego na merda e se desculpa publicamente. King diz que já se desculpou tantas vezes que parece que um “me desculpe” nem faz mais sentido. Mas fez em algum momento?

Entendemos que Frida já tinha chamado atenção de King no evento do ano anterior e ela quer isso de novo. A certa altura, disfarçadas de convidadas, Frida e Jess acabam conseguindo acesso a King e seu grupo de amigos. O cara é encantador, gentil, engraçado. No fim da noite, Frida e Jess aceitam um convite para ir com o grupo para a ilha particular de King, um paraíso onde as pessoas não têm preocupações e estão sempre se divertindo. Nada poderia dar errado. Mas o que é essa sensação esquisita?

Pisque Duas Vezes começa muito divertido e tem cenas e diálogos realmente engraçados na primeira parte, mesmo com um suspense crescente. Conhecemos um ambiente ensolarado e muito colorido pelos olhos de Frida, a pessoa que mais destoa ali, vinda de uma realidade muito diferente dos demais. E talvez justamente por isso é que ela percebe que o sorriso dos funcionários não condiz com o que seus olhos parecem expressar. Quando Jess desaparece e ninguém mais parece se lembrar dela, Frida percebe que os lapsos de memória que ela tem tido são, sim, um indicativo de algo muito perigoso e o filme dá uma guinada para o puro horror.

Um dos destaques de Pisque Duas Vezes é o elenco, mas, além dos méritos próprios dos atores, a direção segura de Zoë garante que o filme se mantenha nos trilhos mesmo com mudanças de tom ao longo do percurso. E é interessante o uso do charme de Channing Tatum, um ator mais conhecido por interpretar homens bonitos em comédias, como elemento que aumenta a desconfiança sobre seu personagem.

Com um roteiro que começou a ser escrito lá em 2017, antes do movimento MeToo e das acusações contra Jeffrey Epstein por tráfico sexual, Pisque Duas Vezes aborda dinâmicas de poder que existem na vida real sob um olhar que nunca é exploratório, gratuito ou fetichizante. Os arcos das personagens femininas são reais e vão da competitividade à confiança em um ambiente dominado por homens, mas sempre sabendo quais mãos segurar e quais soltar. O final do filme promete ser divisivo, mas é mais um acerto do roteiro, fugindo do esperado e, mesmo assim, fazendo muito sentido.

Pisque Duas Vezes é surpreendente, interessante, satisfatório, satírico. Zoë Kravitz começa sua carreira na direção deixando uma forte marca, e eu espero de verdade poder assistir a mais de seus projetos em um futuro próximo.

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4 Comentários

  1. Acho que não entendi direito a referência, se tinha velas acesas pela casa o tempo todo, por que toda hora tinha alguém pedindo isqueiro?

    1. Avatar photo
      Author

      Acho que não tem referência nenhuma, não. Se existe um isqueiro, não tem por que acender um cigarro numa vela.

      [SPOILERS A SEGUIR]
      Mas o isqueiro serviu pra Sarah acreditar que a Jess existia naquela ilha, mesmo que ela não se lembrasse dela.

  2. Estava achando o trailer meio genérico,mas sua crítica me fez ficar curiosa 😁

  3. Tatum já marcado pelo estereótipo do bonito e engraçado, com certeza vou querer ver ele metendo medo em alguém.

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