Abraço de Mãe
Original:Abraço de Mãe
Ano:2024•País:Brasil Direção:Cristian Ponce Roteiro:Gabriela Capello, André Pereira, Cristian Ponce Produção:Pablo Guisa Koestinger, Mariana Muniz, André Pereira, Carol Ribeiro Elenco:Marjorie Estiano, Pablo Guisa Koestinger, Javier Drolas, Reynaldo Machado, Thelmo Fernandes, Chandelly Braz, Ângela Rabello, Helena Varvaki, Rafael Canedo |
Dizem que o abraço de mãe acalma, reconforta, protege. Da mesma maneira, a ausência de algo tão poderoso pode desorientar de forma inesperada qualquer pessoa. Este é o caso da jovem bombeira Ana. Questões de infância não resolvidas colocam a prova sua sanidade, quando em pleno temporal, precisa evacuar um asilo com risco de desabamento. Contudo, os moradores do local não estão nem um pouco interessados em abandonar o velho casarão. Casarão que esconde em cada rachadura fiapos de uma teia que conecta traumas do passado de Ana e um pavor inexplicável consumado no presente. E para salvar seus companheiros de equipe e os idosos residentes do asilo, Ana terá que escapar de uma série de perigos reais que desafiam sua compreensão.
O cineasta argentino Cristian Ponce, de História do Oculto (2020), dirigiu e escreveu, em parceria com os brasileiros André Pereira e Gabriela Capello, Abraço de Mãe (2024), um longa-metragem de horror protagonizado por uma das atrizes brasileiras mais respeitadas de sua geração, Marjorie Estiano, indicada recentemente ao Emmy por seu papel na série da Rede Globo Sob Pressão (2017). No gênero fantástico, Marjorie já havia marcado sua presença em 2017 com o ótimo As Boas Maneiras.
Abraço de Mãe fez sua première internacional como A Mother’s Embrace na primeira semana de outubro de 2024 no prestigiado Festival de Cinema Fantástico da Catalunha, mais conhecido como Sitges (cidade onde ocorre o evento). Poucos dias depois passou pelo BeyondFest, em Los Angeles, para logo em seguida ser exibido no Festival do Rio, no dia 12 de outubro. Público e crítica receberam bem o longa, destacando a intrigante materialização do horror psicológico proposta pelo enredo. Já os fãs brasileiros do gênero podem conferir a obra na plataforma de streaming Netflix, onde estreou – mundialmente, diga-se de passagem – no dia 23 de outubro de 2024.
Sem dúvidas o ponto que mais se destaca, e o mais controverso – é a narrativa que, sem nenhum medo, abusa das metáforas, da ambiguidade e do simbolismo. O passado da protagonista, seus traumas não superados em relação à mãe se manifestam de maneira intrigante, em forma de pesadelo e paranoia incorporados na realidade. Entre tantos simbolismos, dois são mais evidentes e geniais: o casarão em ruínas pode ser visto como a psiquê da personagem, povoada de fantasmas, sufocada pela chuva torrencial, prestes a desabar. Outra figura interessante são os tentáculos que perseguem a bombeira, claramente uma referência ao cordão umbilical, a primeira conexão entre a mãe e o bebê. Engenhoso e visualmente criativo, porém o roteiro não se preocupa em explicar, exigindo que o espectador participe desta construção de sentido. Neste ponto está a controvérsia, já que muitas vezes o público prefere adotar um comportamento mais passivo frente à leitura da obra cinematográfica.
Aceitado que somos jogados em uma realidade estruturada em diferentes dimensões entrelaçadas, onde os limites entre o tangível e o pesadelo estão ligeiramente borrados, Abraço de Mãe se revela uma experiência intrigante de um horror psicológico com conexões cósmicas no melhor estilo lovecrafitiano (com direito a tentáculos, seitas e loucura). Portanto, o prazer está mais no estranhamento e na insegurança interpretativa a qual o espectador é exposto. Obviamente, para além desta camada inventiva e complexa, há outra mais simples, a respeito de um misterioso culto que pode reparar os problemas da protagonista, mas não sem um certo sacrifício.
O cineasta Cristian Ponce comentou que Abraço de Mãe foi inspirado nas obras de John Carpenter, que exploram as adversidades de personagens aprisionados em ambientes cuja fuga é improvável. O ambiente, no caso aqui, o asilo, é muito bem utilizado pela direção de fotografia, cada canto, cada quarto a ser iluminado pela lanterna dos personagens, acaba revelando um novo perigo, um novo mistério.
E assim como havia feito em A História do Oculto, Ponce mistura em sua narrativa sobrenatural acontecimentos reais. No caso do seu filme anterior, o pano de fundo era a ditadura militar argentina, já em Abraço de Mãe, a conexão histórica é marcada por duas enchentes que assolaram a cidade do Rio de Janeiro, a primeira em 1966 e a segunda em 1996. Aliás, as duas enchentes são marcadores importantes para dois momentos cruciais no relacionamento entre Ana e sua mãe. Em 1966, mãe e filha quase morrem em um incêndio cuja responsabilidade da mãe é apenas insinuada; exatamente 3 décadas depois, Ana, agora uma bombeira, está frente a frente com todos os conflitos emocionais e psicológicos iniciados no fatídico dia em que quase morreu queimada.
Outro destaque positivo é o elenco. Além do inquestionável talento Marjorie Estiano, Abraço de Mãe ainda conta com Chandelly Braz (da novela Haja Coração, 2016) interpretando a mãe da protagonista, o argentino Javier Drolas (de Los que vuelven, 2019) vivendo uma espécie de faz tudo do asilo e a saudosa Angela Rabello (de Amor a Vida, 2013), como a sinistra dona do imóvel. Os outros atores, menos conhecidos, também sustentam quando necessário os momentos de tensão e medo.
Não chega a ser algo negativo, mas como nada é irretocável, falta a Abraço de Mãe um desfecho mais apoteótico, não necessariamente explicativo. Tantos mistérios e situações propõem uma mitologia rica, que poderia ser utilizada no encerramento de maneira mais impactante e quem sabe, até mesmo perturbadora.
Enfim, apesar de não mastigar o enredo e de um final anticlimático, a mistura criativa entre o horror psicológico e o real funciona deveras bem, agregando muito valor ao resultado final de Abraço de Mãe. As boas atuações, os efeitos convincentes e a fotografia, que aproveita muito as sombras e o ambiente degradado, oferecem ao público uma experiência incomum. Portanto, vale a pena conferir esta bem-sucedida parceria cinematográfica, entre realizadores brasileiros e argentinos.
Há muito tempo nao vejo um filme tão ruim
Filme péssimo. Produção paupérrima, atuações questionáveis e roteiro sem pe nem cabeça, etc Constrangedor as críticas fazerem esse papel quase de propaganda.
Falou o sabichão João
Falou o sabichão