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Samuel Foi Trabalhar
Original:Samuel Foi Trabalhar
Ano:2024•País:Brasil
Direção:Janderson Felipe, Lucas Litrento
Roteiro:Janderson Felipe, Lucas Litrento
Produção:Pedro Krull
Elenco:Pedro Walisson, Luciano Pedro Jr., HUNÁ, Jany Santos, Jeniffer Lorraine, Karol Peixoto, Lanne Trindade, Moniza Amaral, Morghana Paz e Ticiane Simões.

Na contemporaneidade, a vida do trabalhador brasileiro é um verdadeiro filme de terror.  Ter a carteira assinada, as contas pagas e o dinheiro no bolso não é nada fácil para quem precisa abdicar do seu tempo e esforço na maior parte do dia e ainda assim receber um salário ínfimo. Além disso, as condições precárias de trabalho podem mexer com a cabeça do sujeito a ponto da sua identidade ficar perdida e ele se ver em um beco sem saída onde só resta trabalhar incansavelmente. Isso é o que acontece com Samuel no curta brasileiro Samuel foi Trabalhar (The Mascot), obra selecionada para o Festival Boca do Inferno 2024 na categoria “Terrir”. O filme é dirigido por Janderson Felipe e Lucas Litrento, produzido pela Céu Vermelho Fogo Filmes e estrelado por Pedro Walisson.

Na trama, em busca de sair da informalidade, Samuel – que é “desenrolado, um verdadeiro artista”, como dizem os seus pais na cena inicial – está disposto a se dedicar e performar melhor para alcançar, enfim, a efetivação enquanto um trabalhador de carteira assinada. É então que ele, que trabalha como o “mascotinho” da Zartana Imóveis, passa a ser perseguido pela fantasia que veste durante o expediente. Seja no final do dia, a caminho de casa ou durante os seus sonhos: ele sempre está lá, com o sorriso estático e bizarramente assustador atrás do personagem.

A metáfora da “skin do trabalhador” tomando vida própria e se apropriando do seu corpo é um comentário social que, por si próprio, é um elemento de horror digno de um filme de Jordan Peele. Além disso, essa transformação desencadeia um processo de descaracterização de Samuel enquanto um sujeito, principalmente depois que a sua carteira de trabalho é finalmente assinada e a fantasia se torna a própria identidade do personagem de forma permanente.

É perceptível que todos os atores parecem muito confortáveis com seus personagens, o que acontece porque o roteiro é bem direcionado e o ritmo é constante. Além disso, a direção é muito boa em direcionar o espectador para a  identidade trabalhadora de Samuel e gerar um estranhamento no espectador, mesmo que seja perspicaz em fazer isso de forma sutil, quando nós estamos apenas vendo o mascote e não o seu rosto.

No entanto, com um início impactante e tenso, a ambientação do filme cai um pouco depois da metade de sua duração. Toda a tensão presente na cena onde vemos a fantasia do “Mascotinho” tomar vida própria se dissipa no decorrer da história e o elemento do horror é momentaneamente esquecido. Mesmo que o filme consiga tirar algumas risadas culpadas ao mesmo tempo que provoca um grande desconforto ao tratar a problemática do trabalho de uma forma criativa, algumas oportunidades são mal aproveitadas. Dito isso, a última cena do filme também não possui o impacto necessário e, ainda que seja bem dirigida, é óbvia.

No “terrir”, muitos filmes tendem a um lado mais do que ao outro, o que às vezes é ruim. Apesar de Samuel foi Trabalhar não ser um desses casos, a produção sofre por não assumir o seu lado mais aterrorizante ao abordar um tema que, naturalmente, desperta tantos gatilhos e provoca assombro, tanto na classe trabalhadora quanto na burguesia. Apesar disso, a produção é bem sucedida, mesmo sem ser muito gráfica, ao ilustrar de forma caricata o terror psicológico vivenciado por brasileiros todos os dias.

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