Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos
Original:Silent Night, Deadly Night 5: The Toy Maker
Ano:1991•País:EUA Direção:Martin Kitrosser Roteiro:Martin Kitrosser. Brian Yuzna Produção:Richard N. Gladstein, Brian Yuzna Elenco:William Thorne, Jane Higginson, Van Quattro, Tracy Fraim, Neith Hunter, Conan Yuzna, Mickey Rooney, Brian Bremer, Clint Howard, Catherine Schreiber |
O quinto e último filme da franquia Natal Sangrento retorna aos temas natalinos deixados de lado no anterior. Após receber críticas negativas pelo seu trabalho em Natal Sangrento 4, Brian Yuzna revelou que se arrependia pela falta de elementos condizentes com a série, assumindo, assim, a produção e roteiro da parte 5, uma que não só abraça a data como ainda traz vestígios de um Papai Noel Assassino. Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos (Silent Night, Deadly Night 5: The Toy Maker, 1991) foi além ao explorar outra temática em voga nos filmes de terror do período: brinquedos assassinos.
Diferente do anterior, não há elementos sobrenaturais por aqui. Mas há um flerte discreto com os slashers, além de referências óbvias à criação clássica infantil de Carlo Collodi. Ruim como todas as continuações a partir do segundo filme, o longa reserva seus méritos ao último – e surpreendente – ato, uma insanidade que só o gênero fantástico seria capaz de proporcionar. Não é à toa o comentário assertivo do crítico Flickering Myth ao escrever: “a história tem algumas boas reviravoltas e tem um final que ficará com você por alguns dias após os créditos rolarem. Para ser honesto, vale a pena assistir só para ver o final“.
Começa numa noite de dezembro, alguns dias antes do Natal. Após flagrar seus pais tendo relações, o jovem Derek Quinn (William Thorne) encontra um estranho presente na entrada de sua casa, com os dizeres “Não Abra até o Natal“, numa referência ao slasher O Terror pode Esperar (Dont Open Till Christmas, 1984), de Edmund Purdom. Quando o garoto já estava em vias de abrir o presente, é interrompido por seu pai, Tom (Van Quattro, de Clube da Luta, 1999), que lhe chama a atenção por abrir a porta de casa e o manda para o quarto. Derek então testemunha o pai abrindo o pacote e encontrando uma esfera musical vermelha, com duas faces de Papai Noel. A zangada, envolta em energia azulada, estrangula-o até ele ser empalado pelo atiçador de lareira.
Semanas depois, o traumatizado Derek não é capaz de pronunciar qualquer palavra, por mais que sua mãe Sarah (Jane Higginson, do slasher Matadouro, 1987) se esforce em agradá-lo. Ela o leva até a loja de brinquedos de Joe Petto (Mickey Rooney, Deu a Louca no Mundo, 1963) – sim, referência óbvia -, um fabricante de brinquedos e ex-veterano da Segunda Guerra Mundial, que administra o estabelecimento com seu estranho filho, Pino (Brian Bremer, de Pumpkinhead: A Vingança do Diabo, 1988) – mais óbvio impossível. Enquanto o garoto se recusa a aceitar as ofertas, um rapaz observador, Noah Adams (Tracy Fraim), chega sorrateiramente ao local para comprar alguns brinquedos.
Em casa, enquanto desmonta alguns brinquedos comprados, Noah é incomodado pelo dono, Harold (Gerry Black), que lhe cobra pelo aluguel atrasado. Recebe um dos brinquedos cedidos por Noah, uma lagarta se move sozinha, e, ao ir embora, é atacado por ela, que entra em sua boca e sai por um de seus olhos, em um bom efeito gore. Derek encontra outro presente na porta de casa, mas é impedido de abrir pela mãe, que o leva ao shopping, onde encontra Noah vestido como Papai Noel, substituindo Ricky (Clint Howard mais uma vez com um personagem de mesmo nome do quarto filme). Mais tarde, Sarah entrega o presente a Derek, que o descarta na lixeira, sendo encontrado por Lonnie (Conan Yuzna, filho de Brian Yuzna e que também atuou como Lonnie em Natal Sangrento 4), filho de Kim (Neith Hunter, protagonista do filme anterior). São patins, que depois serão afetados por luzes azuladas e farão o garoto ser atropelado.
Como se imagina, tudo caminha para que Noah esteja produzindo brinquedos mortais para alguma vingança pessoal. Nessa altura do filme, o infernauta só estará com dúvidas sobre a motivação e por que ele insiste em incomodar Derek. É claro que as coisas não são tão simples assim, e há um grande mistério nos confins do enredo de Martin Kitrosser e Yuzna. A revelação virá somente na última cena, aos moldes do que seria visto no filme lançado no mesmo ano, Popcorn – O Pesadelo Está De Volta. E realmente é essa surpresa e uma sequência que acontece em um quarto, no ataque de vários brinquedos a um casal, as responsáveis por impedir o filme de se tornar intragável.
SPOILERS EM NÍVEL MÁXIMO NO PRÓXIMO PARÁGRAFO
Como o filme é obscuro e está fora de catálogo faz tempo, contarei aos curiosos o que acontece: no último ato, Derek é sequestrado por Joe Petto, vestido de Papai Noel. Noah, revelado como verdadeiro pai do garoto, e Sarah vão até a loja para procurá-lo. Ali, no confronto, enquanto Noah é atacado por um avião de brinquedo, Sarah encontra o corpo do verdadeiro Joe. O assassino então tira o rosto e se revela como Pino, um androide de Joe e que sonha em ser um “garoto de verdade” (é ver para crer!). Assim como em O Exterminador do Futuro, Sarah precisa enfrentar o androide para salvar seu filho. Não se sabe porque o garoto foi mantido preso, se a intenção era realmente matá-lo. Aliás, a vingança contra o garoto nem realmente se justifica numa vingança difícil de engolir.
FIM DOS SPOILERS
Sob a direção de Martin Kitrosser, em sua estreia na função, Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos é bem início dos anos noventa, quando os slashers começavam se tornar iguais e nem havia razão para se fazer tantas continuações. Tecnicamente, o longa é razoável, assim como as atuações e cenas de assassinato, mas é impossível impedir alguns bocejos. E ainda é preciso aceitar várias facilidades do roteiro nas mortes que dependem de situações para acontecerem. E não se explica os tais raios azulados que afetam os brinquedos, numa tecnologia que alterna entre algo comum e algo mortal.
Assim, sem empolgar, a série Natal Sangrento encontrou seu último prego do caixão. Teve início com o interessante slasher de 1984, e depois foi seguido pelo horrendo Natal Sangrento 2 – Retorno Macabro e Natal Sangrento 3 – Noite do Silêncio, encerrando a jornada vingativa dos irmãos Billy e Ricky. Depois, tivemos o horror com elementos de bruxaria Natal Sangrento 4: A Iniciação e este, da loja de brinquedos. Após alguns anos de inatividade, o título “Natal Sangrento” voltaria com força nos anos 2000 para nomear produções não relacionadas à série: Natal Sangrento (One Hell of a Christmas, 2002), Natal Sangrento (Silent Night, 2012, o mais próximo de uma refilmagem) e Natal Sangrento (Black Christmas, 2019), refilmagem de Noite do Terror (1974) – títulos que só atrapalham quem procura uma catalogação adequada.