Noite do Terror (1974)

4.9
(13)

Noite do Terror
Original:Black Christmas
Ano:1974•País:Canadá
Direção:Bob Clark
Roteiro:Roy Moore
Produção:Bob Clark
Elenco:Olivia Hussey, Keir Dullea, Margot Kidder, John Saxon, Marian Waldman, Andrea Martin, James Edmond, Doug McGrath, Art Hindle, Doug McGrath, Art Hindle, Lynne Griffin, Michael Rapport, Leslie Carlson, Martha Gibson

Antes mesmo de Michael Myers fugir do hospital psiquiátrico e ameaçar os jovens de Haddonfield ou Jason decidir vingar a mãe morta, já havia uma data específica para o terror. Foi no mesmo ano em que o Texas mudava seu cardápio que as moças de uma fraternidade passaram a ser vítimas de um misterioso psicopata. Uma obra obscura, mas uma das principais referências do estilo, Noite do Terror (1974), de Bob Clark, já traçava os rabiscos do que viriam a ser os slashers, basicamente servindo como molde para o gênero. Não foi a primeira produção a conter assassinos escondidos nas sombras, perseguição de jovens e violência desmedida, até porque Mario Bava já havia feito isso antes, porém ela contou com sua condição popular e uma estrutura simples mas eficaz.

Se Sexta-Feira 13 (1980) se desenvolveu a partir do que Michael Myers fez – e isso é evidenciado nas próprias declarações do roteirista Victor Miller e de Sean S. Cunningham -, pode-se dizer que Halloween é a “continuação” dos assassinatos de Noite do Terror. Exagero? De acordo com o documentário presente na versão lançada pela Versátil, uma vez perguntaram a Bob Clark por que ele não faz uma parte 2 de seu filme, e ele respondeu que, se fizesse, envolveria o assassino em um hospital psiquiátrico, fugindo de lá para retornar à cidade-natal e se vingar da última sobrevivente. Sim, foi uma declaração bem-humorada envolvendo o enredo do clássico de John Carpenter! E há muito mais inspiração evidente na comparação entre os dois filmes, como a própria câmera subjetiva na perspectiva do psicopata, algo que também seria visto em 1978.

Outra informação curiosa é que a carreira de Bob Clark mudou completamente depois do que ele fez naquele Natal maldito. Ele havia dirigido Children Shouldn’t Play with Dead Things, em 1972, e Dead of Night, em 1974, e então “virou a chavinha” literalmente, sendo mais conhecido pelas comédias erótico-juvenis da franquia Porky’s e filmes-família como Bebês Geniais e Karatê Dog. Em 2006/2007, ele resolveu voltar a pensar numa continuação para seu filme de terror mais conhecido – provavelmente após ver a refilmagem de 2006 – e já estava em fase de preparação de roteiro e produção, trazendo algumas pessoas do original de volta, quando sofreu um acidente de carro com o filho e faleceu em 4 de abril.

O roteiro de Roy Moore, inicialmente intitulado Stop Me!, foi inspirado nos crimes cometidos pelo serial killer Wayne Boden, que, entre 1969 e 1971, assassinou três mulheres em Montreal e uma em Calgary, recebendo o apelido de O Vampiro Estuprador, pelo fato dele ter o hábito de morder os seios de suas vítimas. Moore se inspirou nessa história e na famosa lenda urbana “A Babá e o Homem no Andar de Cima“, para construir seu enredo. Depois Clark iria sugerir a alteração do título para uma relação com uma música natalina chamada White Christmas. Embora despretensioso, o longa, que teve baixa bilheteria na época e muitas críticas negativas, passou ao status de cult, principalmente quando o Rei do Rock Elvis Presley revelou numa entrevista que o filme era parte da tradição familiar do Natal.

Uma visão externa da fraternidade, onde um grupo de garotas faz as últimas comemorações antes do feriado de Natal. Pela perspectiva de um visitante inesperado, a câmera o acompanha escalando a parede até alcançar o sótão. O telefone toca. Ao atender, Jess (Olivia Hussey) chama as demais para ouvir a ligação estranha que andam recebendo, onde é possível ouvir a respiração e gemidos de um homem e vozes de outras pessoas, mencionando um tal Billy e uma jovem Agnes, além de um bebê. Ao atender, Barb (Margot Kidder) provoca o homem misterioso, que promete matá-la de forma violenta, antes de desligar. A estudante Clare (Lynne Griffin) não concorda com a postura de Barb, há um breve desentendimento, e a garota vai ao quarto se arrumar para encontrar o pai.

Como o cinema do gênero depois aprenderia, quando você se afasta dos demais se torna um alvo fácil. Clare é envolta em um saco, e sufocada pelo assassino. Mesmo offscreen, a sequência já permite alguns arrepios no espectador. Contudo, depois dessa morte, serão necessários quase trinta minutos até um novo ataque. Até lá, o público passa a conhecer melhor as personagens da trama: Jess está grávida do namorado Peter (Keir Dullea), mas, contrariando o rapaz, ela pensa em abortar, até porque não tem intenção de tornar mais concreto o relacionamento; Barb é a inconsequente, que está sempre acompanhada de bebidas alcóolicas, dizendo bobagens sobre a vida sexual das tartarugas e perturbando a polícia com palavrões; há a administradora do local, Sra. MacHenry (que esconde whisky pela casa); e a aparente nerd Phyl (Andrea Martin).

Quando Clare não aparece para o encontro com o pai, Sr. Harrison (James Edmond), ele e algumas moças da fraternidade vão em busca da polícia. Lá se destaca o bobão Sargento Nash (Doug McGrath) e o Tenente Ken Fuller (John Saxon), que também está preocupado em buscar pistas sobre o desaparecimento de uma outra garota, quando estava indo para a escola. Ao descobrir o corpo da jovem, suas atenções se voltam ao paradeiro de Clare para ajudar o pai dela, sem imaginar que o assassino voltou a matar. A próxima da lista é a própria Sra. MacHenry, no momento em que descobre o corpo de Clare. Mas outras serão atacadas e mortas, obrigando a polícia a grampear o telefone para ver se localiza o psicopata.

Sem grafismo nas mortes ou sangue em profusão, Noite do Terror cria uma atmosfera de insegurança e mistério. Como era de se imaginar, o enredo faz um esforço para que o público realmente acredite que tal pessoa é o vilão, seja escondendo-o em momentos oportunos ou lhe dando razões para cometer os crimes. E a polícia também faz o seu papel de costume, ao se mostrar incompetente para identificar o assassino e sempre chegando depois do crime cometido. Ainda assim, é sempre bom ver John Saxon como policial, algo que ele faria muitas vezes na carreira, tornando-se inclusive uma marca registrada na franquia A Hora do Pesadelo. Outro rosto de referência é, sem dúvida, o de Margot Kidder, a eterna Lois Lane dos filmes do Superman, com Christopher Reeve. Curiosamente, a atriz exigiu que as cenas que mostrassem ela com bebida fossem autênticas, o que evidencia que em muitas delas ela estivesse alterada.

Mesmo com toda sua importância para o gênero, Noite do Terror não teve uma continuação oficial, apenas uma novelização lançada em 1976, que traz detalhes das motivações do assassino. Contudo, duas refilmagens bastante inferiores foram realizadas: Natal Negro (2006), de Glen Morgan, com Michelle Trachtenberg (que despontou em Buffy, A Caça-Vampiros) e Mary Elizabeth Winstead; além de Natal Sangrento (2019), que não apenas se mostrou desnecessário e irritante, como também acrescentou elementos sobrenaturais ao enredo. Lançado numa boa edição da Versátil, no box Slashers III, o filme ainda continua interessante e com uma estrutura pouco envelhecida. Pode funcionar como entretenimento, assim como servir para a História do Cinema de Horror por toda a sua contribuição ao gênero!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Noite do Terror (1974)

  • 28/12/2022 em 16:14
    Permalink

    Esse filme é tenso e com uma ótima atmosfera.

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