La Mesita del Comedor
Original:La Mesita del Comedor
Ano:2022•País:Espanha Direção:Caye Casas Roteiro:Caye Casas, Cristina Borobia Produção:David Pareja, Norbert LLaràs, Javier Miguel Gil, Josep Maria Riera, Maria José Serra, Alberto Morago, Caye Casas, Diego Rodriguez, Toni Gómez, Griselda Gonzalez Elenco:David Pareja, Estefanía de los Santos, Josep Maria Riera, Claudia Riera |
“Não há nada inquebrável neste mundo. Um vaso pode ser quebrado. Um móvel pode ser quebrado. Um casamento pode ser quebrado.”
Em tempos de produções americanas cada vez mais genéricas, pasteurizadas e insossas no cenário do horror, é com muito alívio que percebemos um sopro de ar fresco vindo das mais variadas localizações. Já é lugar comum elogiar a qualidade do cinema coreano, mas as produções de língua castelhana vêm ganhando grande destaque, visto o grande sucesso de Cuando Acecha la Maldad (ou O Mal que nos Habita). O filme argentino, dirigido por Demian Rugna, fez bastante barulho ao ser adquirido pela Netflix em 2024, mas, mais do que isso, serviu para atrair a atenção do público para outros longas que compartilham o espanhol como linguagem.
La Mesita del Comedor é uma produção de 2022 dirigida por Caye Casas, que tem como força motriz de toda a trama a aquisição de uma simples mesinha de centro por um casal, Jesus (David Pareja) e Maria (Estefanía de Los Santos). O casal claramente tem seus problemas, discutindo frequentemente após o nascimento de seu filho, Cayetano (“Cayetanin”). Jesus insiste em comprar a mesinha de centro de qualidade claramente duvidosa de um vendedor igualmente suspeito, mais para provar um ponto do que por qualquer outro motivo. Segundo ele, Maria não o deixa escolher nada no casamento, então ele insiste em adquirir a tal mesa, apesar da censura da esposa. Tal ato, aparentemente inocente, será a pior decisão de suas vidas.
Se La Mesita del Comedor pudesse ser resumido em uma palavra, seria incômodo. É impossível entrar em mais detalhes sem estragar a experiência do filme. As consequências da atitude de Jesus escalonam rapidamente, e logo nos primeiros minutos uma situação catastrófica muda o destino daquela família para sempre. A partir daí, somos torturados por mais de uma hora até que saibamos o desfecho de tudo aquilo. Sim, torturados. A atmosfera, muito bem construída por Caye Casas, é de um crescente desconforto, como se o espectador se encontrasse dentro de um dos contos de Edgar Allan Poe. É o famoso “filme que desgraça a mente”, parafraseando os amigos do Falando no Diabo, o podcast do Boca do Inferno.
ALERTA DE SPOILERS A SEGUIR! PROSSIGA POR SUA CONTA E RISCO!
Já protegido pelo alerta de spoilers, gostaria de enfatizar alguns pontos que me impressionaram. Primeiramente, a destreza de Caye Casas na construção de algumas sequências. É muito inteligente o enquadramento em várias cenas, em particular aquela em que a mesinha se quebra. Ela se quebra espontaneamente? Foi realmente um acidente? Até que ponto Jesus teve culpa? E em relação à garotinha Ruth? As acusações são falsas ou têm algum fundamento? As questões ficam diabolicamente no ar, pois o que realmente acontece não é mostrado, um grande mérito da direção. Outro enorme acerto é a atuação de David Pareja, gerando uma sensação tão desagradável no espectador, que é como se quem assistisse também tivesse sua parcela de culpa.
Assim como Matar a Dios, a (ótima) produção anterior de Casas, La Mesita del Comedor chegou sem alarde, como quem não queria nada, e é um verdadeiro soco no estômago, conquistando vários prêmios, como o White Raven Award no Brussels International Fantastic Film Festival. É difícil recomendar um filme que causa tanto mal-estar no espectador, mas eu diria que se você está tendo um bom dia e deseja acabar com isso de alguma forma, La Mesita del Comedor é uma ótima escolha.