When Evil Lurks (2023)

4.7
(24)

When Evil Lurks
Original:When Evil Lurks / Cuando acecha la maldad
Ano:2023•País:Argentina / EUA
Direção:Demián Rugna
Roteiro:Demián Rugna
Produção:Fernando Díaz
Elenco:Ezequiel Rodríguez, Luis Ziembrowski, Demián Salomón, Federico Liss, Emilio Vodanovich, Silvina Sabater, Marcelo Michinaux, Desirée Salgueiro

“Eles trouxeram a coisa mais imunda para as minhas terras.”

Em uma casa campestre, um corpanzil em composição grotesca jaz em uma cama, sob os cuidados de sua mãe e irmão. Apesar do sofrimento evidente do aparente enfermo, os familiares sabem que se trata de um “podre“, uma pessoa possuída por um demônio em vias de parir uma entidade física, e que somente um “Limpador” seria capaz de eliminar a ameaça com segurança. Embora Maria tenha solicitado um há cerca de um ano, o especialista nem sequer alcançou o local, tendo sido cortado ao meio, encontrado pelos irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jaime (Demián Salomón), os dois protagonistas dessa jornada degradante rumo ao inferno, no melhor filme de terror de 2023.

Antes de embarcar nesse pesadelo narrativo, o espectador mais atento aos créditos verá o nome do argentino Demián Rugna na direção e roteiro, o responsável pelo horror atmosférico Aterrorizados (Aterrados, 2017), e terá consciência de sua imersão em uma obra, no mínimo, criativa e apavorante. Sem espaço para alívios cômicos e sem desperdiçar diálogos com exageros didáticos, When Evil Lurks (do original Cuando Acecha la Maldad) afunda seus personagens em um horror crescente e apocalíptico, propondo imagens horripilantes – três delas são muito bem feitas – e que dificilmente desaparecerão tão cedo das retinas de quem for testemunhá-lo. Bem-vindos a mais um capítulo cinematográfico de um cineasta que está fazendo a diferença no gênero!

Assim que os irmãos percebem o tamanho do problema, eles tentam conversar com a polícia negligente local e até com o prefeito, mas só conseguem a ajuda do proprietário das terras, Ruiz (Luis Ziembrowski), que resiste à intenção de matar o possuído, e sugere o descarte do corpo gosmento em uma região bem distante. Ao quase atropelar um garoto, eles perdem o “podre” pelo caminho, e acreditam que a situação pode ter sido resolvida. Na manhã seguinte, Ruiz perceberá uma presença estranha entre suas cabras, resultando na primeira das três imagens emblemáticas do longa. Percebendo que o Mal está se espalhando como uma doença, os irmãos resolvem fugir, levando com eles familiares como os filhos de Pedro, o autista Jair, e a mãe deles.

Além da dificuldade em tentar convencer sua ex-mulher Sabrina e o marido do horror iminente, ao tentar escapar das ameaças, Pedro não percebe que está ajudando a espalhá-las. Essa teia de pavor talvez possa ser desfeita com o apoio da “ex-limpadoraMirta, um antigo affair de Jaime, e que ainda conhece as técnicas, mas seria preciso encontrar o corpo perdido. E também precisariam fazer as coisas certas, sem agir por impulso, atendendo as sete regras que uma sociedade destruída já entendeu como deve seguir.

O cenário rural, uma cidade pequena, já consciente da ameaça, traz evidências de que o mundo conhece a doença. Não é preciso flashbacks ou narrativas desnecessárias para se entender que as grandes metrópoles já sucumbiram ao Mal, e que os vilarejos isolados tentam impedir a aproximação dos possuídos. Há os que não acreditam na doença com dizeres do tipo “você por acaso viu algum?“, “enfrentou algum possuído?” e os que pensam que aquilo só acontece em comunidades maiores. Nota-se que Rugna fez uma interessante alegoria à pandemia do Covid-19, à descrença da quantidade de mortes, aos negacionistas; e também com uma visão sociopolítica com a iminência de eleições na Argentina, e a ameaça do fascismo. Há também a questão ambiental, sobre agrotóxicos, contaminação da terra… Tudo camuflado em um terror gráfico, envolto em angústias, assombrações e referências.

Ainda que você faça associações com produções como Corrente do Mal (pela simbologia da doença e o contágio) e Colheita Maldita (pelo episódio na escola, ambientação), e veja similaridade com Dead Meat, Mangue Negro e produções apocalípticas de exorcismo (insira sua referência aqui: ____________), Rugna parte para caminhos próprios, inserindo pesadelos e visões aterradoras com sua assinatura particular. Uma figura perdida na estrada, uma criança sendo dilacerada… não há freios nas intenções do diretor de provocar o espectador, fazê-lo terminar o filme enxergando-o por pequenas passagens entre os dedos. Aliás, o final sugestivo eleva ainda mais os méritos da produção, que já vinha com palmas mentais pelos efeitos práticos, atuações convincentes e ousadia.

Não é à toa que o longa recebeu premiações no Festival de Sitges como Melhor Filme e Ventana de Sangre (Janela de Sangue), e elogios de pessoas respeitadas no cinema de horror como James Wan e Guillermo del Toro – este, ainda impressionado com Aterrorizados ao ponto de quase se envolver com uma refilmagem, felizmente não realizada. When Evil Lurks merece uma chance nos cinemas por aqui, antes de alcançar algum streaming. Mais pessoas precisam conhecer / testemunhar esse novo clássico de Demián Rugna, um cineasta que conhece o gênero e sabe como incomodar.

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Média da classificação 4.7 / 5. Número de votos: 24

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

8 thoughts on “When Evil Lurks (2023)

  • 07/11/2023 em 18:48
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    Morro com esse povo que nunca percebeu que todos os filmes tem alguma crítica social, e isso é desde sempre… mas acham que é “lacração” kkkkkk… esse povo realmente assiste as coisas com o cérebro desligado

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  • 05/11/2023 em 01:46
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    Nota-se que Rugna fez uma interessante alegoria à pandemia do Covid-19, à descrença da quantidade de mortes, aos negacionistas; e também com uma visão sociopolítica com a iminência de eleições na Argentina, e a ameaça do fascismo. Há também a questão ambiental, sobre agrotóxicos, contaminação da terra… Tudo camuflado em um terror gráfico, envolto em angústias, assombrações e referências.

    CARA, PQP, O QUE O BOCA SE TORNOU, SOMENTE MAIS UM PROPAGADOR DE LACRAÇÃO. NÃO À TOA ESTA POPRCARIA ESTÁ MORRENDO. FUI. DEU.

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    • 05/11/2023 em 22:18
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      Kkkkkkkkkk Lacrador fica o filme todo tentando fazer ligação das cenas com crítica social. São os famigerados insuportáveis que ninguém sente falta nas festas de família.

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    • 25/11/2023 em 17:50
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      Recheado da agenda 20-30 da Onu e dos bilionários eugenistas que comandam o mundo . Domando a gadolândia sob a conduta do medo e caos .

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  • 05/11/2023 em 00:03
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    O filme começa bem, mas fica impossível conseguir esconder suas fragilidades após seus primeiros 30 minutos e ele passa a ser um sofrimento arrastado e impiedoso pra quem está tentando assisti-lo até o final.

    Roteiro tenta inventar regras acerca de pessoas “possuídas”, mas que acaba quase caindo no ridículo por não possuir verossimilidade dentro do que se propõe. Em outras palavras: o roteiro é RUIM. A base da história parece um conto de fadas que deixaria até uma criança na dúvida entre o assustador e o desdém. Em contrapartida, a direção de Demián Rugna é muito boa, principalmente na parte visual e “grosseira” do horror, mas que acaba sendo descartada devido a falta de qualidade de todo o resto.

    A única cena que vale a pena está no trailer (que estampa um dos cartazes do filme inclusive), momento que me lembrou bastante o excepcional (e também com algumas cabras na figuração) “The Dark and the Wicked”. É um filme bem produzido e com um visual bacana, só é uma pena ter faltado um roteiro que não tornasse a experiência difícil de conseguir terminar.

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    • 28/11/2023 em 21:16
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      Excelente comentário! O filme tem um péssimo roteiro e não convence hora alguma. O roteirista tenta a todo custo envolver o expectador na história, porém ela não se firma nunca. Para início , joga quem assiste no meio de uma história sem pé nem cabeça, na vã tentativa de criar um clima, se não “épico”, ao menos convincente, mas isso nunca acontece. Faltam explicações e sobram milhares de pontas soltas, que o autor não consegue costurar.

      Há uma mistura das idéias do excelente filme espanhol REC (ao tratar o mal como uma espécie de vírus) com cenas grotescas que lembram o clássico e engraçado Fome Animal (o Apodrecido é tão gore quanto a mãe do protagonista de Fome Animal) mas as semelhanças param por aí. O que resta não consegue arrancar nada além de nojo do expectador.

      O que se salva é a fotografia, a ambientação e as pequenas surpresas, como o ataque do cão à criança. São boas ideias mal aproveitadas num filme fraco. Eleger esse como um dos melhores do ano não é elogio: apenas a confirmação de que 2023 nao tivemos um filme de terror que preste!

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  • 04/11/2023 em 16:10
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    [COMENTÁRIO COM SPOILERS!]

    Pra mim, foi facilmente o melhor filme de terror de 2023. O ano não está bom como 2022.
    Pra mim, a cena da mãe possuída carregando e comendo o filho foi pesada. Ver o filho autista voltando “ao normal”, falando e depois devorando a avó foi maligno!
    Engraçado, não fiquei tão impactado com a cena da cabra, nem com a do cachorro atacando a criança.
    Gostei muito das atuações do protagonista e do filho autista dele.
    Esse filme tem a mesma energia ruim de Hereditário. Filme de terror com essa vibe é sucesso!

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