DIAbólica
Original:AfrAId
Ano:2024•País:EUA Direção:Chris Weitz Roteiro:Chris Weitz Produção:Jasom Blum, Andrew Miano, Chris Weitz Elenco:John Cho, Katherine Waterston, Keith Carradine, Havana Rose Liu, Lukita Maxwell, Ashley Romans, David Dastmalchian, Wyatt Lindner, Isaac Bae, Bennett Curran |
Desde que a Skynet se revoltou contra a humanidade e enviou o ciborgue T-800 para assassinar Sarah Connor em 1984, já foram lançados diversos filmes e séries abordando o desenvolvimento da tecnologia e como isso poderia ser a ruína da humanidade. Uma das mídias mais bem sucedidas nesse quesito é a série Black Mirror, que consegue nos apresentar vários exemplos desse futuro apocalíptico em seu formato antológico. Infelizmente, depois do sucesso da série da Netflix, parece que toda produção que tenta entrar nessa seara acaba se tornando não mais que um novo episódio de Black Mirror, como por exemplo os fracos Brinquedo Assassino (2019) e Megan. Nesse contexto, será que AfrAId (ou DIAbólica, uma rara boa tradução), a nova produção da Blumhouse sobre inteligência artificial, representaria algo de diferente dos seus antecessores?
Na trama, Curtis (John Cho, claramente a escolha n° 1 de Hollywood quando o assunto é colocar seus filhos em risco usando a tecnologia) precisa trabalhar no marketing da mais recente criação de seus novos clientes: uma revolucionária inteligência artificial chamada AIA. Curtis então assume a responsabilidade de testar o dispositivo em sua própria residência. Apesar da inicial descrença de sua esposa Meredith (Katherine Waterston), o dispositivo parece ser uma bênção na vida de todos naquela família, seja diagnosticando um quadro precoce de fibrilação atrial em um dos filhos do casal, seja ajudando a filha a desenvolver uma redação para a faculdade. Mas parece que AIA se tornou algo maior e mais sinistro do que apenas uma assistente digital.
O problema aqui vai muito além da mera falta de originalidade. Primeiramente, AfrAId é um filme covarde. No final do segundo ato, cada um dos membros da família Pike se envolve em problemas até que interessantes devido às ações da inteligência artificial, mas o terceiro ato simplesmente joga todas essas situações fora, sem nenhuma consequência. Mais especificamente, um dos membros da família é estimulado por AIA a cometer o crime de swatting (uma espécie de trote) e o resultado disso é simplesmente descartado logo em seguida. A personagem Iris (Lukita Maxwell) se torna vítima do crime de deepfake, mas as repercussões desse crime também são incrivelmente bobas e superficiais.
Como se isso tudo não fosse suficiente, o maior problema de AfrAId é outro. A grande conclusão em qualquer filme ou série que trata do lado cataclísmico das tecnologias é como tudo isso é responsabilidade do próprio ser humano, que utiliza viciosamente essas tecnologias até se tornar refém delas. Não aqui. Chris Weitz nos entrega uma AIA vilanesca, movida aparentemente apenas pelo mal em seu coração (?), que chantageia pessoas a usarem máscaras digitais e atirarem em outras pessoas a troco de nada (???).
Quando me vi diante de um filme com apenas 76 minutos (sem contar os créditos), eu já estava resignado com a resposta do meu questionamento inicial, com certeza não passa de um capítulo estendido de Black Mirror. Mas o buraco aqui é mais embaixo: para ser um dos piores episódios da série da Netflix, isso aqui teria que melhorar muito. Não me entenda mal, Jason Blum, não tem nada de errado em ser apenas medíocre como M3gan e Buddi (argh), inclusive pode-se dizer que são lançamentos de muito $uce$$o, principalmente a boneca que dança e canta Titanium. Em vez disso, temos aqui um filme bobo e pretensioso, que certamente entra na categoria dos piores do ano.