![]() Grite, Grite Outra Vez!
Original:Scream and Scream Again
Ano:1970•País:UK Direção:Gordon Hessler Roteiro:Christopher Wicking, Peter Saxon Produção:Milton Subotsky, Max Rosenberg Elenco:Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing, Alfred Marks, Michael Gothard, Christopher Matthews, Judy Huxtable, Anthony Newlands, Kenneth Benda, Marshall Jones, Uta Levka, Yutte Stensgaard, Julian Holloway, Judy Bloom |
Os créditos anunciando a presença de três dos “monstros” do cinema de horror são, sem dúvida, o grande propulsor do interesse por Grite, Grite Outra Vez! (Scream and Scream Again, 1970). Os nomes de Vincent Price, Christopher Lee e Peter Cushing aparecem em letras garrafais, cobrindo mais da metade da tela, durante a corrida de um homem na cidade, com expressão de sofrimento. Foi o primeiro encontro do trio de astros, o que depois aconteceria somente no divertido A Mansão da Meia-Noite (House of the Long Shadows, 1983), de Pete Walker. Toda a perspectiva animadora pelo longa se desfaz pela proposta irregular, e ainda mais quando você descobre que dois deles têm apenas pontas no filme, desaparecendo de cena antes que você entenda o que está acontecendo.
Inspirado em um romance de Peter Saxon, intitulado “The Disorientated Man” – aliás, cabe informar que Peter Saxon era um pseudônimo comum entre vários autores das décadas de 60 e 70 -, os direitos ficaram a cargo da Amicus Productions, financiada pela American International Pictures (AIP). O roteiro, escrito por Christopher Wicking, substituindo a primeira versão de Milton Subotsky, considerado “impossível de se filmar“, iria inicialmente mesclar elementos de Frankenstein, de Mary Shelley, e vampirismo, com alienígenas, além do conteúdo político, com acréscimos nazistas. Não é à toa que Vincent Price disse em entrevistas na época que nunca conseguiu realmente entender esse filme.
Não que o argumento seja complexo, mas a narrativa, dividida em três, deve ter deixado o elenco sem entender os caminhos. A sinopse básica é até interessante: “Um assassino em série que drena o sangue de suas vítimas está à solta em Londres. A polícia o rastreia até uma casa de propriedade de um cientista excêntrico.” No entanto, a trama vai muito além disso, iniciando com o tal corredor pelas ruas de uma cidade não identificada passando mal e perdendo os sentidos. Ele acorda no hospital, sendo atendido por uma estranha enfermeira (Uta Levka), que lhe dá água sem dizer qualquer palavra. Ao puxar as cobertas que cobrem seu corpo, ele se assusta ao perceber que está sem uma das pernas.
Na cena seguinte, o agente de inteligência Konratz (Marshall Jones) chega à cidade para ser interrogado pelo capitão Schweitz (Peter Sallis), passando por guardas que exigem documentos, enquanto exibem nas roupas uma estranha bandeira com setas, numa referência à suástica nazista. Ele o mata simplesmente pressionando o ombro, algo que depois faz com o Major Benedek (Peter Cushing, em sua única cena). E a terceira narrativa apresenta o detetive Superintendente da Polícia Metropolitana Bellaver (Alfred Marks), que está investigando o estupro e assassinato da jovem Eileen Stevens (Olga Linden), encontrada com o pescoço cortado e sem sangue, intrigando o jovem patologista forense Dr. David Sorel (Christopher Matthews).
Na balada da Busted Pot Disco, com a apresentação da banda The Amen Corner, o assassino Keith (Michael Gothard) demonstra seus modus operandi: ele convence uma garota, Sylvia (Judy Huxtable), a sair com ele de carro e a mata. Com a coincidência do local onde estavam as vítimas, a polícia infiltra Helen (Judy Bloom) na balada, com um rastreador em seu sapato, para que possam prender o assassino – como se fosse fácil entender como ele irá escolher suas vítimas. Keith sai com a moça de carro e tem uma longa sequência de perseguição, de carro, a pé, escalando um vale, com Keith demonstrando uma super força e resistência. Quando ele corta a própria mão para fugir de uma algema, a polícia identifica um material sintético, e a provável relação com a casa do Dr. Browning (Vincent Price).
Toda essa narrativa somente tem uma conexão quando um funcionário do governo do Reino Unido, Fremont (Christopher Lee), encontra Konratz com a intenção de entregar as evidências das ações de Keith em troca de um piloto capturado, obrigando o assassino “das mãos no ombro” a eliminar o detetive Bellaver. Ao final, Fremont e David Sorel, investigando por conta própria, chegam à mansão de Dr. Browning onde suas intenções são explicadas e ocorre o conflito final entre todos, incluindo Konratz, com o ácido servindo como arma no combate.
A cena do encontro de Vincent Price e Christopher Lee é bem curta, com uma breve mas significativa interação entre os dois. É claro que suas presenças em cena atraem a atenção e são os únicos méritos de um filme que não se define como thriller, político ou ficção científica. O tom fantástico se define pelos super soldados em cena, construídos a partir de partes do corpo de pessoas sequestradas, além do serial killer Keith, que costuma sugar o sangue de suas vítimas pelos pulsos. Mas não há justificativa para isso, assim como as intenções dos militares ou a presença do assassino de 007 Konratz.
Apesar dessa salada narrativa, Grite, Grite Outra Vez! teve uma boa aprovação dos críticos. Passou a ser cult com o passar dos anos, figurando em listas de boas produções da década de 70. O Overlook Film Guide, por exemplo, o considerou “um dos melhores filmes de ficção científica feitos na Grã-Bretanha“. É um exagero até para considerá-lo mediano. O enredo confuso, o elenco imenso, as sequências risíveis de ação, os erros de continuidade (Keith perde a mão, mas não consegue esconder sua ausência em outras cenas), os pontos mal explicados e toda a bagunça frenética ao som de uma trilha sonora incômoda demonstra o quanto só aparições importantes não são capazes de tornar um filme bom.
O próprio título, Grite, Grite Outra Vez!, não se justifica. Pode até confundir o público a achar que se trata de um filme de terror, ainda mais com as presenças ilustres. Assim, mesmo aos fãs dos ícones lendários o filme não vale a pena. Há muitas coisas melhores na filmografia de cada um deles para que você possa apreciá-los em cena. Se quer vê-los juntos em um bom filme, assista A Mansão da Meia-Noite e irá se divertir muito mais!