![]() Walden
Original:Walden
Ano:2023•País:EUA Direção:Mick Davis Roteiro:Mick Davis Produção:Sara Sometti Michaels, Seth Michaels Elenco:Emile Hirsch, Shane West, Kelli Garner, Tania Raymonde, David Keith, Steve Coulter, Seth Michaels, Sunny Mabrey, Luke Davis, Sara Sometti Michaels, Kathrine Barnes |
Existem empregos que precisam de alguém que realmente “tenha estômago” para aguentar todos os dias a mesma coisa. E o que acontece quando alguém percebe que talvez aquilo seja além do aceitável? Muitos podem adoecer, pedir as contas logo de cara e outros…
Em Walden (2023), acompanhamos o protagonista que trabalha como estenógrafo registrando em tempo real tudo que é dito no júri. Isso faz com que testemunhe diversos crimes, defesas e sentenças. Até que um caso acaba chocando demais.
Walden Dean (Emile Hirsch) não se conforma com a crueldade daquilo que é obrigado a registrar. O mesmo adoece, somatiza e passa a refletir sobre tudo aquilo que permeia sua carreira e encontra uma resposta bem óbvia: a justiça é falha e o mundo é injusto. Sendo o melhor no que faz e usando de seus privilégios e conexões, Walden fica obcecado. Aproveitando o caso de um serial killer assombrando a sua cidade, toma uma decisão que muda tudo: irá fazer justiça com as próprias mãos.
Um personagem extremamente reprimido e obsessivo com tudo que faz, ao investigar seu adoecimento, ele descobre que tem uma doença terminal. A notícia, misturada com todo o contexto de seu trabalho, traz à tona uma raiva que sai de seu controle. Esse é o pivô para um caminho de matança e suas investigações.
No longa também acompanhamos uma dupla de detetives (Tania Reymonde & Shane West) que investiga oficialmente o serial killer que está conectado com a morte de diversas crianças da pacata cidade, além de outros personagens que são tão irrelevantes e mal explorados que suas cenas não fariam diferença alguma para a trama se fossem cortadas na edição.
Com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, o roteiro se perde em quais informações são realmente úteis para o espectador se conectar com a trama. Os recortes e conexões são pobres, fazendo com que tudo pareça uma grande bagunça. Nada é desenvolvido plenamente e o próprio mistério deixa a desejar, carecendo de uma ambientação adequada.
Por exemplo, existem momentos que dão toques de comédia. Walden é mostrado como um personagem esquisito e bem intencionado, lembrando o detetive da série Monk. Em contrapartida, também como um homem que no fundo é sombrio e canaliza esse seu lado apenas para aqueles que merecem ser punidos, como o próprio serial killer da série Dexter. Mas no fim, não tem sucesso quando tenta ser um nem outro. É uma mistura insossa e sem graça que torna o filme e o personagem esquecíveis.
Porém não podemos deixar de lado a qualidade da atuação de Emile Hirsch, que mostra sua amplitude em interpretar uma gama muito diversa de personagens. Ele está ótimo em seu papel aqui, mas infelizmente deve passar batido em comparação a tantas outras obras indies de sua carreira.
É difícil passar pelos sotaques forçados. Pela “estranheza” não diagnosticada que não combina com o que acontece ao redor. Pelas cores que parecem todas fora de tom. E até pela doença de Walden, que serve como pivô e permanece assim, esquecida e abandonada no resto do desenrolar da história.
Sua parceira de romance, Emily (Kelli Garner), também é um viés da história completamente aleatório que não funciona. Um romance é forçado para contrabalancear o lado sombrio do protagonista, mas nada dele é desenvolvido ou tem um propósito narrativo. As cenas dos dois parecem totalmente fora do tom de tudo que nos é apresentado, mostrando mais uma vez o quão desorganizado é o roteiro, montagem e edição, que acabaram por não fazer jus a uma ideia que, mesmo não inovadora, poderia ser bem apreciada.
E por falar em apreciação, temos boas cenas de perda de controle de Walden. Seu lado violento, quando em foco, pode ser uma boa pedida aos fãs de terror e thrillers no geral. Assim como os plot twists que acabam realmente surpreendendo e mostrando quão potencial existia ali, mas que infelizmente não atingem seu ápice.
E não é de todo ruim, apenas faltam coisas demais. Faltou roteiro. Faltou focar em ser uma dark comedy. Ou focar em ser totalmente um thriller. Faltou edição. Faltou desenvolvimento. No meio de tantas faltas, uma boa atuação principal não serve de âncora. Então salve seu tempo ou, pelo menos, sua expectativa.
Já que Walden lembra tanto personagens de séries, talvez esse fosse o formato ideal para o que é proposto aqui. Mas não devemos trabalhar com suposições e sim com o que nos é apresentado. Então…
Walden é daqueles filmes leves, para você assistir e adivinhar quem é o verdadeiro assassino. Ou para qual caminho o destino do protagonista está guardado. Se sentir que algo não encaixou, é porque está no filme certo.